Os Nossos 50 Discos Nacionais de 2023
E aqui estamos nós com mais uma relação de cinquenta álbuns do ano. Desta vez procuramos subverter ainda mais a lógica das listagens usuais desta natureza, incluindo, além dos trabalhos inéditos, os tributos, ao vivo e outros tipos de álbum, tudo para oferecer um retrato ainda mais nítido da produção nacional em 2023. Também olhamos com carinho para vários artistas brasileiros que têm feito sua carreira no exterior e ousamos dizer que esta produção com olhar de fora para dentro tem feito muito bonito nas nossas caixas de som. Sendo assim, aqui vai um pequeno tutorial para entender onde foi parar o seu disco preferido na nossa lista. Temos quinze álbuns inseridos como “destaques”, considerados bons o bastante para serem mencionados, mas que ficaram atrás de um outro grupo, que tem um total de mais 25 discos.
Estes, além de mencionados, ganharão comentários, que irão aumentando à medida que a posição sobe. E, além desses, mais dez discos considerados “hors-concours”, ou seja, fora da competição, mas que merecem lembrança e comentários. São os tais tributos, discos ao vivo, álbuns de versões, trabalhos assim. O total dessas categorias perfaz 50 itens.
Como sempre, esperamos que gostem e aguardamos seus comentários concordando, discordando e sugerindo álbuns que ficaram de fora.
Discos Destacados
– Julia Mestre – Arrepiada
– Jão – Super
– Ricardo Dias Gomes – Muito Sol
– Rosana – Feitiço
– Borealis – No God Up Here
– Jotadablio – Toda Forma de Adeus
– Melvin & Os Inoxidáveis – Copacético
– Fino Coletivo – Carnaval dos Espíritos
– Terraplana – Olhar Pra Trás
– Andre L R Mendes – Imperioso Encantamento
– Adriana Calcanhotto – Errante
– Mihay – Maré Vermelha
– Jonathan Ferr – Liberdade
– Sara Não Tem Nome – A Situação
– Diablo Angel – O Que Te Dá Prazer
25 – Letrux – Letrux Como Mulher Girafa – “Letrux Como Mulher Girafa” é um disco digno da trajetória de Letícia Novaes e serve para sedimentar seu nome entre os grandes artistas brasileiros em atividade. Pop pensante, adorável, divertido, verdadeiro. O que mais podemos querer? (leia mais aqui)
24 – Mahmundi – Amor Fati – Este novo álbum marca o reencontro de Mahmundi com os sintetizadores e com uma “eletrônica humanizada”, como diz o release, termo muito feliz para definir a sonoridade dela. (leia mais aqui)
23 – Lô Borges – Não Me Espere Na Estação – “Não Me Espere Na Estação” se parece bastante com os discos que ele solta de 2019 para cá. É um folk rock amineirado, contemplativo, de aura beatlemaníaca, com teores altos de lirismo e doçura. Sempre haverá demanda para este tipo de canção, mas é um erro pensar que esta receita significa banalidade ou acomodação. Este tem sido o idioma artístico de Lô desde o Clube da Esquina, de 1972. (leia mais aqui)
22 – Tunico – Tunico – Nascido Antonio Secchin, Tunico é multi-instrumentista e lançou este belíssimo álbum, com seis composições instrumentais, na virada de 2022 para 2023, pelo selo Far Out. Seu trabalho tem influências que vão de Marcos Valle e Banda Black Rio a Hermeto Pascoal, revelando a doçura do jazz instrumental, devidamente temperada pela malandragem do samba e do funk setentistas. Sua estreia ainda é um tesouro escondido, mas esperamos que seja descoberta mais e mais.
21 – Caio – Passageiro – Estreando em disco, o mineiro Caio lançou este “Passageiro” já no fim de 2023 e propôs com ele uma oxigenação no terreno do samba mais tradicional. O cantor e compositor usou este ritmo como ponto de partida e inseriu suas experimentações com música eletrônica e outros estilos mais modernos, conseguindo um resultado bem bacana. Como o mesmo disse no texto que acompanhou o lançamento do álbum: “Nosso desejo era provocar certa nostalgia a quem ouvisse, ao mesmo tempo que as músicas trouxessem alguma sensação de frescor sonoro. Acredito que conseguimos”.
20 – OutroEu – A Magia Por Trás Da Forma – Um mérito inicial do disco é não conter qualquer tipo de crossover com ritmos como reggaeton, funk, trap ou algo do gênero. É música pop tradicional, de inspiração oitentista, com arranjos que privilegiam baixo, bateria, guitarra e teclados, tocados e manipulados por Mike Tulio e Guto Oliveira, que integram a dupla. (leia mais aqui )
19 – Vanessa Moreno – Solar – “Solar” é um disco menos luminoso que o título pode sugerir. Na verdade, é um desses álbuns que abrem espaço para uma existência mais contemplativa, algo que a gente quer muito nessa vida corrida de hoje, na qual é impossível prestar atenção nas pequenas coisas, por conta do tempo acelerado. (leia mais aqui)
18 – Tagua Tagua – Tanto – “Tanto” é um discaço, diferente do anterior, com mais foco e coesão. Tem padrão internacional de produção e gravação, além de mostrar um artista em nítida evolução. (leia mais aqui)
17 – Mateus Fazeno Rock – Jesus Ñ Voltará – “Jesus Ñ Voltará” é uma cacetada na orelha. É rico, real e necessário, sem abrir mão de um virtuosismo artístico inevitável, que reveste e conceitua a obra de Mateus Fazeno Rock, sem dúvida, um dos grandes acontecimentos musicais de 2023. (leia mais aqui)
16 – Vanessa da Mata – Vem Doce – Vanessa da Mata vem lançando álbuns sensacionais com frequência. Este “Vem Doce” mostra que ela está no topo de forma artística. Ela merece mais reconhecimento como uma das figuras-chave para entender a atual geração de cantoras brasileiras. Discaço. Mais um. (leia mais aqui)
15 – Clarice Falcão – Truque – “Truque” é o melhor álbum de Clarice Falcão e confirma seu talento para além da fofura inicial. Ela é um mulherão da porra. Ouça. (leia mais aqui)
14 – Pato Fu – 30 – O grupo mineiro completou trinta anos de carreira em 2023 e, desde os primeiros meses da pandemia, vinha pingando singles aqui e ali. Entre eles, o ótimo, superior e sensacional “Fique Onde Eu Possa Te Ver”. Com a chegada do ano, eles agruparam o que haviam lançado, adicionaram mais algumas canções e completaram um álbum comemorativo, que funciona tanto como um atestado de vida, quanto uma afirmação da importância do Pato Fu no cenário nacional. Sempre criativo, sempre irreverente e com uma constância inegável, a banda de John Ulhoa e Fernanda Takai segue firme e forte.
13 – Julico – Onirikum – “Onirikum” é a prova incontestável de que Julico é um nome sério no cenário musical atual, com capacidade de soar distinto em influências e múltiplos trabalhos, mas que também é detentor de uma identidade própria e cheia de detalhes bacanas. Belezura total. (leia mais aqui)
12 – Zé Ibarra – Marquês, 256 – Se “Marquês, 256” é, na definição do próprio Zé Ibarra, um “prólogo” para o seu primeiro álbum, a expectativa por sua chegada já passa a ser imensa. Estas oito faixas estão entre os melhores momentos da música brasileira deste ano, sem dúvida. (leia mais aqui)
11 – Rodrigo Campos – Pagode Novo – Uma grande omissão nossa foi deixar passar os dois álbuns que o paulistano Rodrigo Campos lançou em 2023. O primeiro foi este, de março, no qual ele usa o termo popular para definir uma sonoridade que está bem longe do que as pessoas entendem por “pagode”. São relatos existenciais, ficcionais ou não, no qual Rodrigo vai tecendo uma teia de personagens que habitam uma São Paulo possível, interligada por essas experiências sonoras. O álbum foi gravado em casa, com Rodrigo produzindo e tocando vários instrumentos. Uma de suas faixas, “Mr.Cheung”, um instrumental delirante, entrou na nossa playlist de 2023. O outro álbum do qual Rodrigo participa é, simplesmente, o nosso melhor disco do ano, “Elefante”, com a participação de Rômulo Fróes. Leia mais sobre ele à frente.
10 – Bixiga 70 – Vapor – O quinto álbum do coletivo paulistano marcou a chegada de uma formação ligeiramente diferente, com teclados e dois percussionistas, além do original. Isso trouxe um som relativamente mais suave, porém muito mais interessante e surpreendente, algo que já dá pra notar na faixa “Malungu”, que abre o álbum. Ainda há a prevalência do afrobeat, mas ele surge em misturas sensacionais com ska, jazz e samba. Bixiga 70 é sinônimo de coisa boa.
09 – Ítallo – Tarde no Walkiria – Disco maravilhoso e precioso, feito pelo cantor e compositor alagoano, sobre suas vivências em Maceió, capital do estado. Uma verdadeira procissão de canções belas e líricas, com destaque absoluto para duas pérolas: “Dr. Manoel” e “Retrato de Maria Lúcia”, nas quais Ítallo chega a igualar a pungência de um Belchior. Misterioso, convidativo e belo, este seu terceiro trabalho mostra sua consolidação como um dos grandes nomes de sua geração.
08 – Lucas Santtana – O Paraíso – “O Paraíso” é uma pequena joia. Seu conteúdo musical e lírico é praticamente uma declaração de metas e caminhos a trilharmos no porvir. Se conseguirmos, teremos, finalmente, emergido da lama em que fomos atirados de 2016 para cá. Bravo. (leia mais aqui)
07 – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – Música do Esquecimento – “Música do Esquecimento” é sensacional e mostra uma banda em evolução, sem parecer com nada disponível no cenário nacional. No rodapé da página dos sujeitos no site Bandcamp, está, em caixa-alta: NÃO EXISTE ARTE SEM CULTURA / BOTE PRA FORA/ PERCA SEU TEMPO: SE ORGANIZE. / POR UM MUNDO ONDE TODOS TODAS E TODES POSSAM SONHAR / E ESTE SONHO MUDE VIOLENTAMENTE O MUNDO. É isso, gente. (leia mais aqui)
06 – Maria Luiza Jobim – Azul – “Azul” é uma maravilha. Precisa ser conhecido pelo maior número de pessoas. Maria já tem datas para shows na Europa a partir de julho e alguém precisa trazê-la para cantar em sua própria cidade, em seu próprio país, as belezas deste Rio que teima em ser belo. (leia mais aqui)
05 – Rogê – Curyman – Outro disco de artista radicado no exterior, mais precisamente em Los Angeles. Rogê é figurinha carimbada da cena musical carioca, militou ao longo dos anos 2000 em vários lugares da cidade, lançou discos e, apesar de ter participado da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, foi encontrar mais foco lá fora. Com “Curyman” ele atingiu o ápice de sua criatividade, oferecendo onze faixas belíssimas, evocando Jorge Ben e João Bosco em doses iguais, mostrando muito talento, tanto para compor como para interpretar. Os arranjos foram feitos em parceria com Arthur Verocai e tudo parece funcionar por aqui.
04 – Ian Ramil – Tetein – “Tetein” é um achado. Num meio tão banalizado e comercializado como a indústria musical brasileira, norteada pelo mais raso dos níveis, um álbum como este confirma a regra de que, em algum lugar, de alguma forma, tem gente pensando como a gente. Bravo, Ian. (leia mais aqui)
03 – Ana Frango Elétrico – Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua – Ana lança este impressionante “Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua”, possivelmente melhor que o antecessor – que é ótimo – e se mostra, de fato, amadurecida. Mas, você deve saber, quando alguém usa este termo numa resenha artística, ele pode significar a perda de espontaneidade diante de um abraço a modos mais “domados”. Relaxe, porque aqui é totalmente diferente. Tem a ver com uma capacidade maior de alcance para a música que Ana faz. Isso é essencial para que ela domine o cenário nacional, algo que, acredito, e um processo já em andamento. (leia mais aqui)
02 – Ed Motta – Behind The Tea Chronicles – Ed segue sendo ele mesmo, imediatamente reconhecível ao primeiro acorde. Dentre tantas fases e ciclos em sua trajetória, ele já está há dez anos fazendo mais ou menos o mesmo som: um pop soul anglo-americano, com acenos ao jazz, influência de Steely Dan e uma palheta sonora riquíssima. Foi com “AOR”, o álbum lançado em 2013, que Ed encontrou abrigo nesta sonoridade, que era muito difundida nas FMs do início dos anos 1980 por aqui e que era acusada por roqueiros bobões como “comercial”. Era gente como Gino Vanelli, Peabo Bryson, Donny Hathaway, Luther Vandross, Christopher Cross, entre vários outros. Dez anos depois, Ed Motta é um equivalente desses caras e este novíssimo “Behind The Tea Chronicles” é a prova. (leia mais aqui)
01 – Rodrigo Campos e Rômulo Fróes – Elefante – Quando ouvi este disco – e o fiz já no fim do mês de novembro – vi que seria necessário modificar a lista de melhores álbuns e melhores canções do ano. Porque “Elefante” é uma pequena obra prima, que mistura samba, filosofia, transcorrer do tempo e uma visão cinemática da vida, tudo revestindo nove canções que existem em seus próprios universos. Com violões, cordas, percussão mínima e tendo o Carnaval como musa inevitável de uma existência que espera um mínimo de alegria e sentido, “Elefante” não é cativante à primeira audição, pelo contrário. Seus modos são próprios e exigem persistência do ouvinte, mas, quando este encontra o sentido do álbum, não quer mais sair de lá. Três de suas canções (um terço do álbum) entraram na nossa playlist de melhores músicas nacionais do ano – “Ladeira”, “Ela, Primeira” e “Quando Canto”. Só ouvindo.
– HORS-CONCOURS
– Bebel Gilberto – João – “João”, o novo trabalho de Bebel Gilberto, é uma aula de reverência e respeito por um ícone cultural do século passado. É mais que uma declaração de amor de filha para pai, é um verdadeiro momento suspenso no ar. (leia mais aqui)
– Xande de Pilares – Canta Caetano – “Xande Canta Caetano” é um discaço. Tem coragem para mexer com clássicos da música brasileira de um jeito arrojado e, ao fazer isso, transporta essas canções para um público novo, que não as conhece, mas que pode amá-las com força. Bola dentro. (leia mais aqui)
– João Gilberto – Relicário – Ao Vivo – São 36 canções em generosos 118 minutos, ou seja, quase duas horas ininterruptas diante de um repertório que traz o Brasil ideal, ou, como disse meu amigo Zeca Azevedo por conta da morte de João, um Brasil-Avatar. É a ideia primordial de tudo o que vimos de bom sobre o nosso país e que, claro, nunca chegou a se concretizar. João era como um – para usar um termo da moda – metaverso portátil, no qual tudo deu certo. A Ipanema da virada dos anos 1950/60 se espalhou para o resto do país, a nossa cultura foi valorizada por uma sucessão ininterrupta de governos democráticos, que defenderam nossas manifestações culturais mais básicas e que, a partir disso, deu ao povo a chance de conhecer mais e mais, tornando-se forte, respeitável e dono de real poder de decisão. Como eu disse, um Brasil que nunca se realizou, mas que, de alguma forma, com a beleza extrema do canto, do repertório e da própria figura de João Gilberto, se torna possível, nem que seja por estes 118 minutos. (leia mais aqui)
– César Lacerda – Década – César Lacerda é um artista que precisa ser mais conhecido e valorizado. Ele não faz música para a brutalidade do mundo de hoje, mas não abre mão de entendê-lo, criticá-lo e até apontar soluções para que as coisas melhorem. E o faz através de sua música, sua sensibilidade e capacidade de dar cores poéticas ao que parece simples, banal até. É dessa matéria-prima e dessa habilidade que ele faz sua obra. Você precisa conhecê-lo. Já. (leia mais aqui)
– Lô Borges – Ao Vivo, Cinquenta Anos de Música – O que mais surpreende na audição desta apresentação (que também está disponível na íntegra no YouTube) é o vigor com que o veterano artista atacou suas criações, sem falar nos arranjos audaciosos e interessantes, criados por Neto Bellotto, do DoContra, que deram um colorido diferente a composições que, em sua maioria, são bastante conhecidas do público de Lô. (leia mais aqui)
– Marisa Monte – Portas Ao Vivo – registro da turnê de Marisa Monte, que viajou o mundo e fez um extenso itinerário no Brasil. Ao vivo ela dá mais sentido para “Portas”, seu último álbum, que deixou uma sensação de soar desproporcional, com muita beleza estilizada para um conteúdo não tão exuberante. Tudo melhora no palco, com Marisa e uma baita banda dando novos contornos a velhas e novas canções. De quebra um EP chamado “Portas Raras”, no qual ela fez algumas covers, com destaque para a doce interpretação de “A Lua e Eu”, de Cassiano, que ela canta desde o fim dos anos 1980. Lindeza.
– Filipe Catto – Belezas São Coisas Acesas Por Dentro – Este é um dos grandes álbuns de 2023, no qual Filipe Catto revê e se apropria de várias canções interpretadas por Gal Costa ao longo de sua carreira. Como a maioria dos artistas de sua geração, Catto aborda com mais vigor o repertório tropicalista da cantora baiana, mas os pontos altos do álbum são, justamente, releituras de gravações oitentistas de Gal: “Vaca Profana” (Caetano Veloso, 1985) e “Nada Mais” (versão para “Lately”, de Stevie Wonder, 1984). Tudo muito bonito, reverente, mas inventivo ao mesmo tempo.
– Bárbara Eugênia – Foi Tudo Culpa do Amor, vol.1 – A cantora niteroiense dispensa apresentações e funciona bem tanto como compositora como intérprete, função que ela exerce primordialmente neste álbum. Com produção elegante e precisa de Zeca Baleiro, Bárbara consegue fazer versões atuais de clássicos do cancioneiro romântico e popular, saindo-se especialmente bem em “Impossível Acreditar Que Perdi Você” (de Marcio Greyck), “Não Vou Mudar” (de Fernando Mendes, que participa da versão) e no adorável dueto com Baleiro em “Não Se Vá”, famosa na versão para o português cantada por Jane e Herondy nos anos 1970.
– Banda Del Rey – O Disco – outro disco de versões, tendo como foco o cancioneiro romântico nacional, mas, enquanto Bárbara foca nos anos 1970, a Del Rey, liderada pelo simpático Chinaina e com músicos do Mombojó, vai para os anos 1960 e se esbalda na Jovem Guarda mais madura e emocional, chegando até seus ecos na década seguinte, como, por exemplo, “Imoral, Ilegal ou Engorda”. Os grandes momentos são o resgate de “Do Outro Lado da Cidade”, do repertório de Roberto Carlos no álbum de 1969 e a linda, pungente “Quase Fui Lhe Procurar”, de Getúlio Cortes, gravada pelo Rei no ano anterior, 1968, no álbum “O Inimitável”.
– Robson Jorge e Lincoln Olivetti – Déjà Vu – esta é uma verdadeira operação de arqueologia musical que deu certo. Comandada pela filha de Olivetti, Mary, que também é DJ. Com a participação de Kassin na produção e finalização de algumas faixas que só existiam em rabiscos iniciais, “Déjà Vu” cumpre sua função de homenagear o legado da dupla e oferece duas novas canções para o seletíssimo grupo de gravações feita por ela: “Suspira” e “Batebca”, ambas sensacionais e evocativas da sonoridade funk meio eletrônica que surgiu no início dos anos 1980, especialmente no Rio. Uma lindeza.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.