Tagua Tagua muda de prateleira em novo álbum

 

 

 

 

Tagua Tagua – Tanto
37′, 10 faixas
(Tagua Tagua)

 

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

Felipe Puperi, o nome por trás do projeto-banda Tagua Tagua, é um caçador de sons. Dada a qualidade da gravação de “Tanto”, seu segundo disco nesta fase, e os timbres que ele obtém ao longo das dez faixas do álbum, Felipe não exagera em sua afirmação. O desafio que o trabalho propõe para o público é propor uma sonoridade que se apresente como uma pequena e simpática máquina do tempo. Você vai para o Brasil do fim dos anos 1970, depois volta para 2020, pouco antes da pandemia. E aí, quem sabe, arremete para alguns anos no futuro, dada a imprevisibilidade de tudo e também por conta da atemporalidade do som que Felipe oferece aqui. Tudo é fluido, bem encaixado, muito bem tocado e de ótimo gosto, colocando este novo álbum do Tagua Tagua na primeira prateleira de trabalhos sonoros disponíveis por aí.

 

E não é pouca coisa. Estar nessa primeira prateleira inclui, entre outras coisas, dividir espaço com uma leva interessante de artistas brasileiros radicados no exterior, que vem respondendo pelo melhor que a música nacional pode proporcionar. Gente como Lucas Santanna, Bruno Berle, Rogê, o próprio Rodrigo Amarante, entre outros. Felipe reside em São Paulo, mas tem uma sólida experiência em viajar para o exterior desde que estava em seu primeiro projeto musical, a banda Wannabe Jalva. Chegou a abrir apresentações para Pearl Jam e Jack White, além de se apresentar em Estados Unidos e Europa. Quando montou o Tagua Tagua, em 2017, deu uma guinada pessoal para uma sonoridade investigativa de várias influências, do pop à MPB, passando pelo rock alternativo mais moderno. Em “Inteiro Metade”, o primeiro disco do Tagua, Felipe passeou por uma gama maior de estilos e referências, depurando a sonoridade até chegar no que ele apresenta em “Tanto”.

 

 

Uma dessas influências que ganharam mais corpo no trabalho do Tagua Tagua foi o que se entende por neosoul. Com ênfase nas levadas mais lentas, arranjos de cordas sintetizadas, vocais de apoio tratados com filtros e efeitos, “Tanto” é abarrotado de momentos belos que você diria pertencer a albuns de Hyldon, Cassiano e Tim Maia do passado setentista idealizado do soul. Além deles, um pouco de influência da soul music noventista, especialmente D’Angelo, dando forma a vocais com falsete – natural ou artificial – que permeiam as canções de ponta a ponta. Estas influências se mesclam com naturalidade por todo o disco, dando uma sensação de estarmos à beira mar, algo assim. E tudo isso ocorre tendo em mente um dos maiores mérito de Felipe como compositor e produtor: o senso pop. Quase toda criação dele tem um clima leve e convidativo para cantar junto, observar um ou outro detalhe sonoro, tudo funciona como um fluxo.

 

 

Das dez canções, logo se destaca a faixa-título, que foi o primeiro single a ser lançado, ainda no ano passado. A levada é lenta, cinematográfica, ao mesmo tempo capaz de lembrar gente tão distinta quanto Cassiano e Tame Impala. Os efeitos de vocais e sintetizadores fazem a cama e oferecem espaço para cordas e ótimas levadas. “Colours”, o segundo single, também tem fluxo temporal entre os anos 1970 e o presente. “Barcelona” é mais psicodélica em sua levada de guitarras e linha de baixo – sinuosa e eficiente – mas não abre mão da impressão tropical-espacial que permeia o álbum. “Me Leva” tem pinta de balada setentista gringa, com um andamento familiar e belíssimo, vocais que se mesclam em várias nuances e um pedigree que a leva direto para o melhor das programações FM dos anos 1970, com jeitão de 2023. Uma lindeza.

 

 

“Tanto” é um discaço, diferente do anterior, com mais foco e coesão. Tem padrão internacional de produção e gravação, além de mostrar um artista em nítida evolução. É uma polaróide nítida da carreira de Tagua Tagua, um nome fortíssimo para figurar entre as grandes, enormes atrações da música nacional daqui pra frente. Pode nos cobrar.

 

 

Ouça primeiro: “Colours”, “Tanto”, “Barcelona”, “Me Leva”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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