50 Discos Internacionais de 2022

 

 

Mais um ano em que a gente precisou de um esforço enorme para escolher apenas cinquenta álbuns para destacar e recomendar a audição. É cada vez mais impossível dar conta de ouvir tudo o que é produzido e que vale a pena ser mencionado e recomendado. Pensar num modo de abarcar o máximo possível da produção pop mundial é um desafio sério para qualquer jornalista que pretenda ser honesto com o seu público. Aliás, a gente aqui tem o compromisso de não ser prisioneiro ou refém das listas banalizantes de melhores álbuns internacionais do ano. Pelo contrário, a gente quer recomendar e apresentar o que essas listas deixam de fora. Se você olhar com cuidado nos quarenta álbuns que foram apenas mencionados na nossa lista, verá um monte de pepitas de ouro esperando por sua atenção.  Muita, muita música boa sendo feita por aí. Sendo assim, esta lista fica como a nossa recomendação de álbuns interessantes e sensacionais para você conhecer o máximo possível desta produção luxuriante que está aí.

 

– ARCTIC MONKEYS – THE CAR

– CHARLI XCX – CRASH

– WEYES BLOOD – AND IN THE DARKNESS, HEARTS AGLOW

– SPIRITUALIZED – EVERYTHING WAS BEAUTIFUL

– MARXIST LOVE DISCO ENSEMBLE – MLDE

– SPOON – LUCIFER ON THE SOFA/LUCIFER ON THE MOON

– AIR WAVES – THE DANCE

– TEMPTATIONS – TEMPTATIONS 60

– THE BIG MOON – TROUBLE

– MILD ORANGE – LOOKING FOR SPACE

– KELLY STOLZ – THE STYLIST

– TEARS FOR FEARS – THE TIPPING POINT

– LUNA LI – DUALITY

– BUSH – THE ART OF SURVIVAL

– FUJIYA & MIYAGI – SLIGHT VARIATIONS

– ROBERT GLASPER – BLACK RADIO III

– TORO Y MOI – MAHAL

– MILES KANE – CHANGE THE SHOW

– WET LEG – WET LEG

– ALFIE TEMPLEMAN – MELLOW MOON

– HOLLY COOK – HAPPY HOUR

– SPIELBERGS – VESTLI

– JOSH ROUSE – GOING PLACES

– FANCEY – STAR DREAMS

– LAUFEY – EVERYTHING I KNOW

– PETE YORN – HAWAII

– SUEDE – AUTOFICTION

– PEEL DREAM MAGAZINE – PAD

– DRY CLEANING – STUMPWORK

– BENJAMIN CLEMENTINE – AND I HAVE BEEN

– DANGER MOUSE E BLACK THOUGHT – CHEAT CODES

– ST LUCIA – UTOPIA

– NIGHTLANDS – MOONSHINE

– BEEBADOOBEE – BEATOPIA

– SYLVIE – SYLVIE

– TODD RUNDGREN – SPACE FORCE

– SLOAN – STEADY

– BAD BUNNY – UN VERANO SIN TI

– NU GENEA – BAR MEDITERRANEO

– DRUGDEALER – HIDING IN PLAIN SIGHT

 

 

Dez Destaques

 

 

10 – SZA – SOS – segundo disco de estúdio da cantora americana, “SOS” tem 68 minutos e 23 faixas. Ainda que pareça extenso demais, ele é cheio, lotado, abarrotado de ótimas canções, em que SZA encontra paralelos entre seu atual momento pessoal e o da Princesa Diana, às vésperas de sua morte, em 1998. Singles como “Seek & Destroy”, “Low” e “Love Language“ dão o tom deste ótimo álbum, não só de r&b e hip hop, mas de alinhamentos com influências mais ricas, como, por exemplo, Carole King.

 

 

9 – WILCO – CRUEL COUNTRY – Mais do que nunca, o Wilco resolveu falar de seu país sem se perder no ufanismo, olhando para a dor e a delícia, sem esquecer a lindeza que é viver por lá e, ao mesmo tempo, a dureza que é viver por lá. Igualmente. Então, quando vemos o título deste álbum, a alusão é clara: “meu país é cruel, mas eu o amo”. (ler a resenha completa)

 

 

8 – FATHER JOHN MISTY – CHLOE AND THE NEXT 20TH CENTURY – Father John Misty já é um jovem veterano da cena que emergiu do folk da década de 2000. Ex-baterista do Fleet Foxes, Father, batizado Josh Tillman, evoluiu e hoje incorpora elementos inspirados em artistas como Elton John e Harry Nilsson em suas canções. Este novo álbum é a prova de que estas influências estão cada vez mais bem assimiladas, resultando um trabalho que mistura baladas apocalípticas e existenciais com momentos mais arejados, com a ótima lounge bossa-nova “Olvidado (Otro Momento)”.

 

 

7 – THE DELINES – THE SEA DRIFT –  As levadas de bateria são precisas e fortes, os metais evocam o melhor dos arranjos do fim dos anos 1960, com uma naturalidade que dá inveja a quem tenta emular esses sons. As guitarras são elegantes, apenas pontuam ou conduzem os instrumentais, nos quais a voz de Amy é a estrela absoluta. As letras cantadas com sua voz assumem um tom ainda mais interessante. Além da faixa de abertura, “Kid Codeine”, “Drowning In Plain Sight” e a impressionante, descomunal “This Ain’t No Getaway”, formam um conjunto tão sólido de beleza e dor sentida, experimentada, que é impossível não se impressionar com o talento desses caras. (leia a resenha completa)

 

 

6 – ROSALIA – MOTOMAMI – Rosalía conseguiu jogar Rihanna, Lady Gaga, Dua Lipa, Madonna, Beyonce, todas essas cantoras rappers tipo Cardi B, até as Anittas da vida, num balaio datado que, com muito boa vontade, envergaria uma etiqueta onde se lê 2011. Ou 2010. Ela jogou o pop planetário – que já era eletrônico e arrojado – numa dobra temporal reversa e o datou inegavelmente. Tudo bem que este formato pop hegemônico já carecia de ideias e novidades, mas Rosalía não teve qualquer piedade com ele. (leia a resenha completa)

 

 

5 – HARRY STYLES – HARRY’S HOUSE –  Styles tem três pilares bem sólidos – é ótimo cantor, tem boa mão para compor e consegue fazer música que tem as tradições do pop radiofônico oitentista mas consegue soar totalmente como algo muito atual. E, para completar a receita – ele tem noção de que há muita coisa boa no pop alternativo, do qual bebe neste terceiro e ótimo álbum, “Harry’s House”. Todas as treze faixas têm ganchos e sacadas melódicas que colocam sorrisos no rosto do ouvinte mais atento e fazem cantar, pular e suspirar o pessoal mais novinho, interessado pela música que o rapaz lança. E este novo álbum mostra que ele está em evolução, enfiando conceitos bacanas nas canções e escrevendo letras confessionais, contrastando com arranjos mais alegrinhos, caso do ótimo hit “As It Was”. (leia a resenha completa)

 

 

4 – SONDRE LERCHE – AVATARS OF LOVE – Tudo em “Avatars Of Love” é belo, terrivelmente. É tudo avassalador, ainda que vários momentos aqui se valham da presença do silêncio, do meio-som, da surdinha, da meia-luz. É um disco para ser ouvido em silêncio, com concentração absoluta, uma vez que as canções do álbum exigem a total atenção de quem se dispõe a ouví-las. Uma vez estabelecida e atendida esta condição, o resultado é o deslumbre. A produção ficou a cargo do próprio Sondre, mas ele contou com várias participações especiais, como, no caso dos arranjos de cordas, a presença do sensacional Sean O’Hagan, a mente criativa do High Llamas. (leia a resenha completa)

 

 

3 – HORACE ANDY – MIDNIGHT ROCKER – veterano cantor e compositor jamaicano, Horace Andy é um colosso em atividade. O público na casa dos ‘enta” deve lembrar de sua participação em “Safe From Harm”, faixa de “Blue Lines”, primeiro álbum do Massive Attack, de 1990. Andy regrava a canção aqui, despida do invólucro eletrônico do original e consegue um resultado ainda mais impressionante. Com a produção de Adrian Sherwood e participação de craques como o baixista Doug Wimbish (que toca com os Rolling Stones), Andy conseguiu um disco impressionante e lirico. Como os bons álbuns de reggae dos anos 1970 costumavam ter, “Midnight Rocker” recebeu uma contraparte dub, ou seja, um outro álbum, com versões dub do primeiro disco, chamado “Midnight Scorchers”.

 

 

2 – AFGHAN WHIGS – HOW DO YOU BURN? – Este é o disco de que precisávamos após uma overdose de informações tendo o Rock In Rio como assunto dominante. Porque, sim, este o um álbum de rock com todas as letras e expressões que o termo comporta, com o arcabouço emocional a que temos direito, feito por gente humana, falível, imperfeita, que vive e morre diante dos nossos olhos. Aqui, neste terceiro trabalho dos Afghan Whigs após a retomada de sua carreira em 2012 (e o oitavo no total), está uma avalanche de sentimentos pronta para desabar sobre quem ouve suas dez faixas. E, adivinhe só, é exatamente o que acontece no fim dos quase 40 minutos de duração do álbum. Você tem a alma lavada e enxaguada nas áreas imperfeitas que contemplam o ser humano possível. Nada de divas, divos, espetáculos de coaching musical, balés, exacerbações de qualquer tipo. E olha que você nem precisará saber da vida de abusos do vocalista e guitarrista Greg Dulli, tampouco da aura que cerca seus trabalhos, seja no Whigs ou nos projetos paralelos Twilight Singers e Gutter Twins para curtir este disco. Basta estar vivo. (leia a resenha completa)

 

 

1 – ALVVAYS – BLUE REV – O grande charme que o Alvvays tem é de que soar terrivelmente pop o tempo todo. Não há uma só canção entre as 14 presentes em “Blue Rev” que não seja cantável ou acompanhável mentalmente. É um álbum perfeito para ouvir enquanto se trabalha ou viaja pela cidade, é como um bom livro que deixamos à mão para ser lido em partes, em curtos momentos ou, claro, integralmente quando temos mais tempo. Seu glossário de temas – amor, maturidade, solidão e perplexidade ante a loucura do mundo – é universal e acessível, justamente porque Molly Rankin, vocalista e guitarrista do grupo, tem a manha de captar com sinceridade cortante seus demônios internos e colocá-los à disposição do escrutínio alheio, numa relação simbiótica e indissociável. O grande trunfo dos canadenses, além do talento sonoro, é esta sinceridade pós-adolescente cortante. E isso ainda funciona, sobretudo num mundo tão photoshopado como o nosso. (leia a resenha completa)

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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