The Lemon Twigs segue sua viagem setentista

 

 

 

 

The Lemon Twigs – A Dream Is All We Know
34′, 12 faixas
(Captured Tracks)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

 

Enquanto as bandas e artistas do chamado “rock alternativo” ou “indie rock” estão caçando novidades e tentando sonoridades mirabolantes, a dupla de irmãos The Lemon Twigs não parece disposta a integrar esta busca. Pelo contrário, desde o início de sua carreira em 2016, Brian e Michael D’Addario, perseguem o mesmo modelo: a produção power pop setentista, ora pendendo mais para o que os Beach Boys faziam naquela década, ora procurando seguir os passos de ELO, Raspberries, Big Star, Paul McCartney solo, gente assim. Ora, não há nada de errado nisso, especialmente se temos dois pequenos artesãos-nerds da música pop, algo que os irmãos D’Addario são. Tudo o que fazem neste novo “A Dream Is All We Know” caminha para tentar encontrar esse momento perfeito, suspenso no tempo, em que 2024 e, vá lá, 1973/74 se comunicam e se encontram em uma canção perfeita, num refrão melodioso, num vocal fofo. E há vários momentos assim entre as doze faixas deste que é o quinto disco do Lemon Twigs.

 

Mais que audacioso pelo formato de canção pop, os D’Addario são efetivos defensores da exaltação do amor, do romance, algo que a competição neoliberal feriu de morte nas últimas décadas. Este álbum está cheio de letras derramadas, doces, sofridas e que transmitem um sentimento sincero, ora de felicidade amorosa, ora de tristeza/saudade advindas de algum rompimento. E tal fidelidade a algo que já foi regra na indústria da música, feito com tanto afinco e talento, deu origem a um grupo sólido de fãs ao redor do mundo, entre os quais, Sean Lennon, filho de um dos arquitetos desta sonoridade/atitude musical. Lennon co-produz o álbum com os D’Addario, acrescentando, digamos, mais pedigree ao que já era bom e justo.

 

Este já é o terceiro disco dos Lemon Twigs resenhado em Célula Pop. Assim como os anteriores, “Everything Harmony” (2023) e “Songs For The General Public” (2020), o percentual de canções legais é altíssimo, sempre igual ou maior à metade do total de faixas. A fluidez e o cuidado dos D’Addario com neste tipo peculiar de pop retrô é tanta que, às vezes, achamos que estamos, de fato, ouvindo algum disco perdido dos início dos 70’s. Com este “A Dream Is All We Know” não é diferente. O desfile de clássicos de uma realidade alternativa começa com a efusiva e bela “My Golden Years”, que tem introdução em anda e para, dando início a uma melodia familiar como um sorvete de casquinha de creme depois do cinema. Tudo funciona e antecipa o que está por vir.

 

“They Don’t Know How To Fall In Place”, que vem logo em seguida, tem arranjo mais clássico, totalmente devedor ao powerpop com pitadas ultralight de glam setentista, algo como uma cruza de Badfinger com Slade só que um pouco mais doce. A melodia perfeita tem pianos, teclados, violões, cordas, detalhes mil nos vocais e dá espaço para a faixa-título surgir, devidamente propulsionada por uma argamassa sonora que tem pianos e teremin alinhados numa melodia que não faria feio num disco do Bread. Já “Sweet Vibration”, que alude a Beach Boys no título, lembra o tipo de gravação que os Hollies faziam no início dos anos 1970, tudo lindo e perfeitinho, abrindo espaço para “In The Eyes Of A Girl”, que é puro Beach Boys baladeiro, com arranjo que não esconde a emoção, vocais harmonizados e melodia que quase cita “The Warmth Of The Sun”, dos próprios irmãos Wilson, safra 1964.

 

A tal defesa do amor romântico se materializa com força na lindezinha que é “How Can I Love Her More?”, que mais parece uma canção perfeita dos Monkees, polida, aperfeiçoada e lindamente atualizada. Novamente o efeito de teremin percorre todo o arranjo dando um toque de excentricidade pop. “Ember Days” tem arranjo bossanovista em câmera lenta, quase arrastando o ouvinte para uma caminhada contemplativa na praia do fim de tarde, pensando no que fez e no que não fez em relação ao amor que não se concretizou. E fechando o desfile de canções lindas do álbum, “Rock On (Over and Over)”, que, como o nome já diz, reafirma o compromisso dos Lemon Twigs com esta sonoridade, desde que devidamente adocicada, ainda que esta faixa seja a, digamos, mais, pesada do disco, com um groove setentista que descende direto de canções como “Drive My Car”, dos Beatles, ano 1966, devidamente temperado por vocalizações totalmente beachboyanas.

 

Os Lemon Twigs oferecem um banquete/quermesse/festinha para quem ouvir este álbum. É lindo, perfeitinho, encaixado e pronto para ser amado por você. Faça isso, sem reservas, se atirando. A recompensa é certa.

 

Ouça primeiro: “My Golden Years”, “They Don’t Know How To Fall In Place”, “Sweet Vibration”, “In The Eyes Of A Girl”, “How Can I Love Her More?”, “Ember Days”, “Rock On (Over and Over)”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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