Dua Lipa acerta a mão em novo álbum

 

 

 

Dua Lipa – Radical Optimism
36′, 11 faixas
(Warner)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

 

Da safra atual de cantoras pop de alcance global, pertencentes ao chamado “mainstream”, certamente Dua Lipa é a mais interessante. Aos 28 anos, talentosa, inteligente, interessante e exótica, a inglesa ascendente de albaneses também mostrou-se ousada. Seus dois últimos álbuns, “Future Nostalgia” (2021) e este ótimo “Radical Optimism” são ótimos. Enquanto “Nostalgia” reconectava boa parte do pop branco com a Disco Music e elementos afins, este novo “Optimism” é um abraço em outro tipo de pop, igualmente legal, bacana e bem feito, mas, se Dua mergulhou na noite no trabalho anterior, aqui ela vem toda solar, acessível e bem resolvida. Aliás, a imagem da moça carrega as forças nesse aspecto – ela é uma mulher totalmente em paz consigo mesmo, disposta a curtir a vida, curiosa, viva e o melhor – descomplicada. Não por acaso, ela vem aparecendo no cinema – pontas legais em “Barbie” e “Argylle” – e feito pontas em programas como o “Saturday Night Live”.

 

Mas Dua, ainda que esteja facinha para as várias mídias, não deixa de lado sua parte musical. Chamou Kevin Parker, o homem por trás do Tame Impala, para administrar, tocar e produzir as gravações de “Radical Optimism”. Talvez por isso, Dua tenha dito que este novo álbum tinha a ver com elementos do “britpop” ou “alguma psicodelia”, aspectos que, bem, a gente não acha tão facilmente ao longo das onze faixas do disco, mas, de uma certa forma, entende o que ela quis dizer, pelo menos no que diz respeito à psicodelia. Há certa poeira colorida sobre vários arranjos presentes aqui, mas tudo é absolutamente voltado para o aspecto pop que cada canção pode ter, resultando em onze momentos de absoluta sintonia entre arranjos, refrãos e melodias. O disco é todo feito para tocar nas rádios, aparecer na TV ou em outras mídias que estejam interessadas. Ele é pop, mas não é fácil demais. Tem canções acessíveis, mas que não são bobas. E tem alguns momentos realmente ótimos.

 

Dua lançou três singles: “Houdini” e “Training Season”, entre o fim do ano passado e o início desse, causando burburinho, mas ainda sem revelar o que estava aprontando. As duas canções, ainda que sejam ótimas e redondíssimas, agora fazem muito mais sentido dentro do álbum. O terceiro single, “These Walls”, chegou há bem menos tempo e já vinha sob a influência das declarações sobre “britpop” e psicodelia, fazendo mais sentido. Ainda que o álbum não tenha um segundo de desperdício, há quatro momentos em que Dua chega na chamada “prateleira mais alta” do pop disponível no planeta hoje. “These Walls”, a primeira delas, tem um riffzinho de guitarra que pontua a melodia, mas tem na interação entre o baixo e a bateria – todos tocados por Parker – o seu forte. É pop perfeito, redondo, feito em laboratório. O refrão é ótimo e acrescenta drama ao clima solar reinante. “Whatcha Doing” tem vocais mais impostos, ótima linha de baixo e detalhes instrumentais que vão levando a melodia para o refrão, que chega com inegável sabor de anos 1980.

 

“French Exit” talvez seja a canção mais bacana aqui. Tem violões acústicos em loop, bateria fazendo riffzinho oblíquo e uma melodia que vai exatamente para onde queremos que vá, com Dua fazendo vocais que oscilam entre o triste e o resiliente, com ótimos efeitos de cordas e percussão que vão surgindo à medida que a canção avança. E “Falling Forever”, a novamente inserida no groove de baixo e bateria que dá as caras ao longo do disco, mas com um pouco mais de velocidade, derramando-se em refrão que chega a lembrar algo do pop escandinavo de outras décadas, um pouco de Roxette, uma pitada de Abba. E, além dessas preferidas, o fecho com a simpática “Happy For You”, que tem pinta de canção que encerra comédia romântica, quando tudo que parecia impossível ao longo do filme, simplesmente dá certo e funciona. Algo que poderia estar num “Bridget Jones” da vida.

 

Dua Lipa é nome certo na parcela criativa e interessante do pop. Está fissurada por instrumentos “de verdade” e pelo pop redondinho dos anos 1990. É o que este “Radical Optimism” é: um disco que tem boas canções, não quer – e nem vai – mudar o mundo, mas vai fazer você cantar e junto e dar uma dançada de vez em quando. Sucesso nas pequenas grandes coisas. Dua Lipa é legal. Bem legal.

 

Ouça primeiro: “These Walls”, “Whatcha Doing”, “French Exit”, “Falling Forever

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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