Por uma nova Revolta da Vacina

 

 

Vocês conhecem o episódio da Revolta da Vacina? Em linhas gerais, foi a resistência da população do Rio de Janeiro em 1904 às reformas urbanas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos que, além delas, decretara a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola. O nome é enganoso, portanto. Não se tratou apenas de uma movimentação popular contra a vacina, mas a manifestação de uma situação em que várias populações foram desalojadas e despejadas de suas regiões em favor de um projeto de modernização urbana, que visava trazer o Rio – capital do Brasil à época – para o século 20 e, com isso, torná-la uma cidade mais apta a dar conta das demandas econômicas. Não precisa dizer que o planejamento urbano dos tempos do império era assassino e fazia com que a população enfrentasse, no início do século 20, epidemias de peste bubônica, varíola, entre outras moléstias. Pois bem.

 

Corta pra 2020.

 

Brasil, mundo, covid-19 rolando. Depois do anúncio inacreditável de que o governo federal não promeverá vacinação obrigatória da população para a covid-19, o ocupante da presidência da república urrou novamente em público. Dessa vez foi para desautorizar o “ministro da saúde”, eduardo pazuello, que dissera ontem que já estava negociada a compra de 46 milhões de doses da coronavac, a vacina chinesa contra a doença, que já está em fase inicial de produção. Quando li, confesso que estranhei, justo por saber que o comunicado anterior pressupunha mais uma absoluta cruzada de braços em relação à gravidade da covid-19. Pois a manifestação do atual ocupante ontem trouxe tudo de volta ao “novo e lamentável normal” que o país vive desde 2018.

 

 

– não compraremos vacina chinesa – ele escreveu após apoiadores terem manifestado insatisfação porque o medicamento teria sido produzido “pela ditadura chinesa”.

 

Outro sujeito referiu-se a pazuello como um “Mandetta milico”, aludindo ao ex-ministro que demitiu-se diante da falta de política federal contra a doença. Sobre isso o ocupante explicou:

 

 

– qualquer descumprimento é considerado traição.

 

Traição.

 

 

Muita gente pode pensar que o atual governo federal é atacado pela mídia e pela opinião pública, mas não. O real ataque – contra o qual essa gente não teria defesa – não vem porque, enquanto eles brindam as manchetes com estas inacreditáveis atitudes, seguem desmantelando o aparato público de amparo aos mais pobres, que é uma condição sine qua non imposta pela lógica internacional que mexeu suas peças e colocou esta gente para destruir o país.

 

 

Enquanto eles cumprirem esta meta primordial, poderão continuar fazendo tudo o que quiserem para colocar a vida da população em risco. E enganá-la com auxílios emergenciais, os quais não queriam prover e que o fizeram por pressão dos setores mais progressistas.

 

 

Precisávamos de uma nova revolta da vacina, dessa vez pela obrigatoriedade do ato. Pela necessidade de esclarecimento mínimo sobre os males que a covid traz. Pelo respeito aos quase 160 mil mortos.

 

 

CENTO E SESSENTA MIL MORTOS.

 

 

Seguem no governo, a despeito da falta de compromisso com a vida e a desobrigação de conscientizar a população sobre a importância de tomar uma vacina que vai salvar suas vidas.

Vai chegar um tempo em que tudo isso será aclarado, a História prova que isso é inevitável. Pode demorar, mas vai chegar.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Por uma nova Revolta da Vacina

  • 10 de dezembro de 2020 em 01:49
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    Atualizando; já estamos caminhando para 180 mil mortos. Já temos mais que cinco vezes o número de mortos no Brasil pela gripe espanhola. Se assim continuar, até Março ou Abril de 2021, temos fortes chances de chegar a um milhão de mortos, e isso será extremamente calamitoso. Significaria uma redução drástica da população brasileira em 10% ou mais. Se isso acontecer, Bolsonaro consolidará de vez sua ditadura, uma vez que sua especialidade é matar, como ele mesmo declarou em entrevista, anos atrás, e que dá nome ao livro “Minha Especialidade é Matar”, de Henry Bugalho. Mais um bom motivo para nos unirmos e derrubar este ditador lunático e genocida, antes que mate todo mundo. Não podemos mais permitir que isso assim continue. FORA BOLSONARO!

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