Ad Astra – Brad Pitt Existencial
Não dá pra dizer que “Ad Astra” é um filme ruim. Pelo contrário. A ideia de um mistério no Sistema Solar em plena era da exploração terrestre é bem interessante e rende frutos. Só que Pitt, apesar de melhor ator do que pensam, se esforça bastante para dar veracidade ao major Roy McBride, que se vê às voltas com um mistério que oculta incidentes ocorridos com uma missão exploratória a Netuno, chamada Projeto Lima, que desapareceu há 16 anos. No comando estava o primeiro homem a chegar a Júpiter e Saturno, o Dr. Clifford McBride, seu pai, vivido por um sempre bom Tommy Lee Jones.
Não ha spoilers neste parágrafo, são informações que o espectador recebe logo nos primeiros quinze minutos de “Ad Astra”. McBride é um astronauta condecorado e conhecido, porém eclipsado pelo heroismo de seu pai. Ele se orgulha de nunca ter tido um registro de pulsação cardíaca acima de 80 batimentos por minuto, mostrando-se altamente equilibrado, tranquilo e centrado. Por outro lado, ele vive isolado em sua vida, atormentado por pesadelos do passado, especialmente pelo desaparecimento do pai e pela incapacidade de se relacionar com as pessoas. Seu casamento com Eve (Liv Tyler) está nas últimas e ele prefere partir em missões do que interagir.
Diante de uma crise sem precedentes, McBride é chamado para investigar a origem de pulsos eletromagnéticos que estão colocando em risco a existência da vida na Terra. Tais eventos, chamados de “surges” (surtos) pelos militares, já estão comprometendo o fornecimento de energia elétrica e a intensificação deles será desastrosa. McBride parte em busca de origem desses eventos, passando por Lua e Marte, até chegar em seu destino. Nesta viagem estão os bons momentos do longa, mostrando a presença humana em regiões inóspitas e como houve o estabelecimento das pessoas por lá. Vemos distinções grandes entre os dois, além de tensões políticas e leves críticas econômicas/sociais/politicas sendo feitas ao longo da narrativa, mas nada muito intenso.
O espectador vai notando que “Ad Astra”, apesar de ambientando no espaço e com todos os signos de um filme de ficção, traz em sua natureza a narrativa de uma relação de pai e filho conflituosa, que impacta na vida de ambos, conforme a trama vai avançando e revelando nuances e detalhes. A direção de James Gray (“Z, A Cidade Perdida”) é sóbria e elegante, revelando boas sacadas estéticas, especialmente nas cenas de interiores de Marte, mostrando elementos bem legais. É no Planeta Vermelho que surge a ótima Ruth Negga, interpretando a Comandante da Base americana em Marte, Helen Lantos.
“Ad Astra” vai atrair muita gente para o cinema por conta de um trailer muito bem feito, com tudo o que o fã – carente – de bons filmes de sci-fi quer ver: naves, tramas, conflitos, previsões de futuro que não tenham zumbis ou algo no gênero. Brad Pitt segue devendo a sua atuação definitiva, até agora, se me lembro bem, sua melhor presença na tela foi como o maluco Jerry, de “Os 12 Macacos”. “Ad Astra” é legal. Vá ver sabendo que há momentos longos e reflexivos. Em tempo: a trilha sonora, feita pelo ótimo Max Richter, é um dos atrativos.
“Ad Astra” (EUA), 126 minutos. Com Brad Pitt, Ruth Negga, Tommy Lee Jones, Liv Tyler, Donald Sutherland. Direção: James Gray. Fox.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.