Vampire Weekend – Father Of The Bride

Gênero: Folk alternativo
Duração: 58 min
Faixas: 18
Produção: Ariel Rechtshaid
Gravadora: Sony

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Lembra do Vampire Weekend? Aquela banda de Nova York, cujos integrantes apareciam em fotos usando camisas polo e ostentando um visual nerdificante intencional? Que apregoava uma influência de Paul Simon solo e que tentava emular alguns dos fraseados e climas que o veterano cantor/compositor imprimiu em “Graceland”? Pois bem. Agora esqueça essa banda e abra seu coração/mente para esta nova formação aqui, o Vampire Weekend. Seu novo disco, “Father Of The Bride” – o quarto de sua carreira – é um pequeno e simpático mosaico de sons e climas, sempre com uma atenção imensa dedicada ao pop e ao potencial grudento das faixas. Dezoito faixas. E o tempo passa voando quando você as escuta.

 

Algumas mudanças: Rostan Batmanglij não está mais no grupo. Deixou sua posição para dedicar-se à produção e vai bem. O vocalista e guitarrista Ezra Koenig deixou a Grande Maçã e hoje mora em Los Angeles. A partir disso, a Califórnia enquanto estado de espírito – uma fonte de inspiração recorrente no pop americano – tomou lugar nas principais inspirações do sujeito, que também assina a produção. Falando no Golden State, as irmãs Haim vieram participar de algumas canções, o que fortaleceu ainda mais o acento dourado de muitas faixas. O ponto de partida ainda é o folk sessentista de têmpera pop, idioma no qual Simon & Garfunkel eram doutores. Só que o VW não se vale da nostalgia em suas criações e usa aquele aspecto inefável para se orientar pelo caminho. Também há pitadas de country, de rock, de eletrônica, o que faz de “Father Of The Bride” um trabalho muito bem equilibrado em idas e vindas no tempo.

 

E há detalhes impressionantes por aqui. Por exemplo, a faixa de abertura, “Hold you Now”, que traz Danielle Haim nos vocais de apoio, conta com um final inesperado e grandioso, com a presença de um coral gospel que surge do nada, algo que a gente ouve em “You Can’t Always Get What You Want”, dos Rolling Stones. Só que a faixa do Vampire Weekend tem apenas 2:34 minutos de duração. Em seguida, “Harmony Hall”, que tem violões, percussão e vocais de apoio exuberantes, que fazem a canção voar. No refrão o versinho simpático: “I don’t wanna live like this, but I don’t wanna die”. Logo depois, a belezura que é “Bambina”, outra faixa com alma de canção sessentista folk/pop/latina. Só por estas três primeiras faixas, o álbum já se credencia para receber a atenção do ouvinte.

 

A recompensa vem justo pela riqueza dos detalhes, pelo brilhante trabalho de produção que Ariel Rechtshaid imprime, que tem maestria para não fazer do percurso de canções do grupo um exercício de pop velhusco. A alegria da banda é quase palpável em outras faixas como “How Long” – que tem um tom mais soturno no início, mas que sobe para algo que oscila entre o acústico de pianos borrados e climas eletrônicos – “Unbearable White”, com uma levada preguiçosa mas cheia de guitarras melódicas que se dobram umas sobre as outras, enquanto “My Mistake” é quase um exercício psicodélico em que pianos vão sendo engolidos por efeitos eletrônicos desconexos. Isso sem falar no sample virtuoso e sensacional de “Long Train Running”, dos Doobie Brothers, em “Sympathy”, que leva a canção para outro nível. E ainda há as duas colaborações com o guitarrista Steve Lacy – “Sunflower” e “Flower Moon” – quase dois lados da mesma moeda, com uma cara de pessoas dos anos 1960 que vieram para o nosso tempo em precisaram se acostumar com a vida aqui.

 

Vampire Weekend lançou uma joia em forma de disco. Por favor, largue o está fazendo e vá dar a ele a devida atenção. Ele estará te esperando na lista de melhores lançamentos de 2019 aqui, neste mesmo site.

Ouça primeiro: “Sympathy”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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