The Jayhawks – XOXO

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 46 min.
Faixas: 12
Produção: The Jayhawks
Gravadora: Thirty Tigers
4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Houve um tempo em que os Jayhawks eram “apenas” uma ótima banda de alt.country. Os fãs hão de lembrar de quando eles lançavam álbuns lindos como “Tomorrow The Green Grass” ou “Hollywood Town Hall”, em que Mark Olson e Gary Louris dividiam a liderança das ações. Olson partiu deixou a banda há tempos, voltou depois, foi novamente embora e Louris se tornou o dono da coisa toda, com uma tarefa de levar adiante o legado do grupo que, pasme, já tem 34 anos. Mesmo que os Jayhawks tenham mantido uma média incrível de ótimos trabalhos, foi nos últimos dois álbuns – “Paging Mr., Proust (2016) e “Back Roads And Abandoned Motels” (2018) – que Louris e seus asseclas conseguiram transcender o rótulo original. Este adorável “XOXO” é a confirmação disso, concedendo ao grupo de Minessotta a capacidade de soar como uma banda absolutamente superlativa, dominando os terrenos não só do alt.country, mas do próprio rock, com nítida influência de Beatles e outras lindezas. Se você quer um disco lindo, belíssimo, “XOXO” é feito sob encomenda.

 

A banda hoje é um quarteto, que conta, além de Louris, com Karen Grotberg, Tim O’Reagan e Marc Perlman, e a presença destes três últimos como compositores é definitiva para que “XOXO” tenha uma média incrivelmente alta de ótimas faixas. Ainda que todos sejam talentosos no ofício, divisão desta tarefa com Louris, até então, proponderante na composição, deu uma bela oxigenada nos Jayhawks, conferindo ainda mais beleza às canções e trazendo mais ênfase a estes elementos beatlemaníacos e powepópicos que tanto nos agradam. O resultado é uma formação muito mais intensa e capaz de emocionar, ainda que sempre tenham feito isso, convenhamos. Além da composição, Grotberg, O’Reagan e Perlman cuidaram dos arranjos de suas criações, o que também só fez bem ao conjunto de canções.

 

O resultado dessa mistura de presenças é sentido sob diversas formas. Em “This Forgotten Town”, por exemplo, há algo que remonta ao próprio Jayhaws modelo 1996, cheia de harmonias, pianos e vocais, tudo numa melodia perfeita. Em “Homecoming” há um ritmo mais lento no ar, com teclados que emulam alguma passagem beatle perdida entre 1967/68, com voz soando tão cheia de amor que podemos esperar pela explosão a qualquer momento. As vocalizações são tão belas que mestres como Byrds, Crosby, Stills And Nash ou mesmo Elliott Smith não hesitariam em assiná-las.

 

Falando em Beatles, “Living In A Bubble” é uma lindeza de pianos e vocais, com andamento clássico e letra que fala sobre estarmos presos num mundo em que tudo e todos parecem se vigiar. “Ruby”, com vocais de Karen Grotberg, é um conto de amor e saudade, dividido pela guerra, mostrando que os Jayhawks também têm a capacidade de se aventurar pelos meandros das histórias e fábulas clássicas do artesanato sonoro. Dá pra encontrar os mesmos ecos de beleza em “Across My Field”, outra com vocal dela. Tem a magnífica “Bitter Pill”, com ares mais clássicos e reminiscências dos anos 1990 e vocais que lembram Byrds. E tem a saltitante “Society Pages”, quase uma canção perdida de Elliott Smith revisitada pelo quarteto, com dinâmica de powerpop perfeito, devidamente processado com amor e carinho.

 

“XOXO” é uma aquarela de canções lindas, cada uma à sua maneira. Tem tudo para agradar aos fãs da banda e aos amantes do rock enquanto música capaz de emocionar e tocar os corações e almas. É um dos trabalhos mais belos que ouço em muito tempo.

 

Ouça primeiro: “Society Pages”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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