Tool – Fear Inocolum

 

Gênero: Rock alternativo
Faixas: 10
Duração: 86 minutos
Produção: Tool
Gravadora: Volcano

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

Rapaz, o Tool. Lá no meio dos anos 1990 ele era um grupo que levava o então novo e interessante “funk metal” para dar uma passeada por caminhos estranhos e criativos. Era, ao lado do Helmet, uma banda de vanguarda, que propunha que o metal não precisava ser chato para ser interessante. Que não era preciso render-se apenas ao thrash metal percussivo para soar novidadeiro. Sendo assim, em discos como “Undertow” e AEnima”, de 1993 e 1996, respectivamente, o Tool soou legal e, vá lá, necessário.

 

Algo, no entanto, mudou. A banda liderada por Maynard James Keenan foi abraçando aos poucos alguns cacoetes progressivos que eram e continuam chatos. Nada contra fazer rock progressivo, pelo contrário. Nem é preciso citar bandas do passado – King Crimson à frente – que propuseram alternativas criativas para o estilo. E nem é preciso ser apenas “rock”, coisa que o Soft Machine também provou. Ou seja, não é preciso apenas vontade para se aveturar nesse mar, é preciso conhecimento de causa, algo que vai além da habilidade e da técnica. No caso do Tool versão 2019, técnica é algo que não falta e ideias também não. “Fear Inocolum” é uma espécie de dark opera metal sobre os nossos tempos horrorosos. São 86 minutos de uma jornada rumo ao mais baixo dos undergrounds, tendo como veículo condutor o som da banda. Confesso que ando sem paciência pra esse tipo de coisa.

 

E explico. Fãs da banda e do metal mais elaborado irão gostar do disco e detestar esta resenha. Porque, veja, é tudo o que esse pessoal deseja: uma espécie de declaração estética pesada, complexa, feita por “gente que toca pra c…” acima de qualquer outra coisa. É música pra se ouvir diuturnamente, apreciando detalhes técnicos como a bateria que se multifaceta na faixa-título ou acompanhar a evolução do canto cavernoso de Maynard para tons mais altos em “Descending”, o que vai achar sensacionais os interlúdios instrumentais de “Legion Inoculant” ou “Litanie Contre La Peur”. Ou algum outro momento do disco, que é enorme, cansativo e abusa da paciência do ouvinte médio. Aliás, hoje em dia, me parece chato e anacrônico lançar um álbum que soa como se fosse preciso cursar um MBA pra entender e acompanhar o que ele pretende dizer.

 

Como eu disse, Tool é uma banda com uma base de fãs dedicados. É um pessoal que espera por um novo disco desde 2006, um tempo em que o telefone celular mais moderno era o Blackberry. Estão sedentos e são pessoas que valorizam o fato da banda já ter composto uma canção tendo os Números Fibonacci como esqueleto. Pra eles, nada pode ser melhor e mais apropriado aos nossos tempos do que os 86 minutos do disco.

 

Quem não embarca nessa canoa opulenta e adornada, vai achar o álbum cansativo e pensará que ele talvez soasse mais eficiente de tivesse pouco mais da metade do tempo. Indicado para – e somente para – os fãs.

 

Ouça primeiro: “Betty”, do Helmet.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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