Tim Burgess – I Love The New Sky

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 53 min.
Faixas: 12
Produção: Tim Burgess
Gravadora: Bella Union

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Eu nunca fui muito bom no Twitter, mas precisei fazer o perfil da Célula Pop lá. Me limito a postar os links para as notícias do site e procurar gente interessante para seguir. Entre elas está o vocalista do grupo inglês Charlatans, Tim Burgees, que tem costumado fazer festas online para ouvir seus discos preferidos, chamando os seguidores para participar e palpitar sobre as canções. Sua banda iniciou atividades nos tempos do rock de Madchester (o Charlatans é de lá) e pegou carona na onda do acid-rock daquela virada de década de 1980-90. Quando veio o britpop, poucos anos depois, o Charlatans embarcou na onda, lançou alguns discos interessantes (“Up To Our Hips”, de 1994, e um disco homônimo, do ano seguinte), mantendo-se relevante na época, culminando sua passagem com outro disco, “Tellin’ Stories”, de 1997, marcado pela trágica perda do tecladista Rob Collins, um dos responsáveis pela assinatura sônica do grupo. Ativo na década seguinte e lançando álbuns até hoje, o Charlatans é uma banda tenaz e dura na queda. Tim Burgess também tem sua carreira solo e seu último trabalho, “I Love The New Sky”, é um dos mais complexos e interessantes discos a sair da Velha Ilha.

 

Burgess é um conhecedor/colecionador de música, sabe exatamente o que está fazendo e estabeleceu uma meta bastante compreensível para sua sonoridade atual como artista solo: não parecer em nada com sua banda. E ele é totalmente bem-sucedido nisso, parindo um álbum que acena para o pop setentista inglês, encharcado de instrumentos acústicos e senso de oportunidade para brincar com arranjos complexos de cordas, metais, tiques e taques progressivos, além de uma saudável caminhada por alamedas psicodélicas há muito desertas. Ao longo dos 53 minutos do disco, Tim aproveita o tempo e a calma para passar mensagens otimistas e pessoais com suas canções, sem nenhuma intenção de soar revolucionário ou radical, mas se espalhando num grande manancial de influências.

 

De cara, o álbum já apresenta o ouvinte a uma faixa chamada “Empathy For The Devil”, que nada tem a ver com o sucesso dos Stones, mas sim com uma progressão de acordes de natureza pop-folk, como se ele estivesse à frente de algo harmonioso e ingênuo, no sentido Belle And Sebastian do termo. Com a surpresa ficando de lado, logo vem “Sweetheart Mercury”, que é outro exemplar desta abordagem pop-folk setentista, mas com espaço para arranjos de cordas e clima de passeio no parque durante o verão. “Sweet Old Sorry Me” tem Elton John como inspiração, com uma levada marcial de piano que lembra “Bennie And The Jets”, com acento soul levíssimo, metais e pequenas alterações na melodia, com grande inteligência.

 

Fazendo jus à sua origem psicodélica, Tim oferece um belo espécime ao público, personificado em “The Warhol Me”, bonitinho, bem acabado e convidativo, com guitarras e efeitos sutis, porém marcantes. “The Mall” é outra lindeza, trazendo mais cordas e instrumental intrincado, revelando algum classicismo residual, lembrando bastante o trabalho de Al Stewart, outro artesão pop de primeira categoria. E fechando o álbum, após várias outras faixas belas e adoráveis, surge a melhor canção do disco, “Laurie”, uma declaração de amor e amizade (“Laurie, it doesn’t matter where you’re going, baby”), com vocais de apoio sensacionais, metais, cordas e tudo a que Tim tem direito. Novamente Al Stewart parece uma inspiração provável para o resultado final da canção, mas também há algo de Lloyd Cole em algum lugar.

 

“I Love The New Sky” é um desses trabalhos essencialmente britânicos, cheios de referências, influências e plenamente realizados. Tim faz seu mais bem acabado álbum solo e mostra que tem vida artística totalmente autônoma. Uma lindeza de verão.

 

Ouça primeiro: “Laurie”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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