O que são Imagine Dragons e Nickelback?

 

Uma resposta à la Cid Gomes poderia dizer: “são duas bandas do Palco Mundo de hoje, babaca”. Apesar do evidente belicismo no tom, não seria errado. De fato, a banda de Las Vegas e o combo pós-grunge de Alberta, Canadá, são, de fato, atrações de peso no Rock In Rio em seu último dia. Antecedem a chegada do Muse, que encerra a noite com seu rock saído daquele filme “Jogador Número 1”. Tudo bem. Mas, sério, o que são estas duas bandas? Em que nicho se encaixam? Quem as ouve?

 

O Imagine Dragons, acho, é melhor que o Nickelback, algo que, bem, é obrigação de qualquer um que suba num palco com pretensões minimamente sérias. O quarteto de Las Vegas é um elemento fulcral na música pop atual, creiam. Ele ajudou a definir/formatar uma nova versão de rock de arena em que … não há quase rock. É uma mistura de batidas eletrônicas, corais e vocais pop com alguma atitude rock bem distante. Faz sucesso como água no Saara e já conta com uma carreira de sete anos, com quatro álbuns lançados. Confesso que gosto bastante de seu primeiro sucesso, “Radioactive”, faixa que puxou o disco “Night Visions” para o estrelato mundial. Lembro de ver a canção sonorizando uma cena decisiva na boa série “The 100” e gostei ainda mais. Além dela, a eficácia grudenta de “On Top Of The World”, que estava presente numa versão qualquer do FIFA, confirmando que as trilhas sonoras de jogos eletrônicos são um poderosíssimo vetor de novos artistas e canções.

 

Dá pra tirar o chapéu para a eficácia da receita dos caras. Quem também percebeu potencial deste novo som de arena foi o Coldplay, lá por 2008/09, quando lançou seu disco “Viva La Vida”, abraçando esse popão para grandes ambientes, eletrônico, estridente e midiático. É um pop Disneylandia, que oferece várias distrações visuais para tapar o vácuo do raso das canções. É algo feito para não se perder tempo, para um contato curto e pouco profundo. É um fast food musical e só.

 

Já o Nickelback, gente, é bem diferente. É uma música que se pretende intensa, dolorida, que lamenta as agruras da vida, num prisma “white people problems” de visão de mundo. Os sujeitos têm cara de quem nunca sofreu na vida, nem num metrô ou ônibus lotado, muito menos almoçando num bandejão de universidade pública sob ameaça do governo burrista da vez. Mas não se pode atacar completamente os caras pelo conformismo: o penúltimo disco da banda, “No Fixed Adress” (2014), marca uma tentativa de soar como o … Imagine Dragons. E foi algo que os fãs não curtiram, fato que levou a banda a “voltar às raízes”, com o último trabalho, “Feed The Machine”. Ou seja, é um movimento que não sabemos se foi ruim ou muito ruim.

 

Este é o rock mainstream que temos hoje, pessoal. Bandas que vendem muito, são muito ouvidas e que são projetadas para soar bem ao vivo, com apresentações em que não dá pra diferir das gravações em estúdio. Tem quem goste, muita gente e é nosso trabalho entender tudo isso.

 

Mais tarde, as resenhas dos shows.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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