Teen Daze – Bioluminescence

Gênero: Eletrônico
Duração: 37 min
Faixas: 8
Produção: Jamison Isaak
Gravadora: Flora Records
4 out of 5 stars (4 / 5)

O mundo de hoje não está fácil, certo? Tudo que pudermos fazer para nos darmos algum momento de alívio, beleza e paz está valendo e isso inclui usar a boa música como uma ferramenta poderosa de equilíbrio. Por exemplo, por que não aproveitar o seu tempo na condução – seja ela qual for – em direção ao trabalho, para escutar um belíssimo disco de música eletrônica? “Ah” – dirão alguns – “eu não gosto de música eletrônica, é chata, oca, sem alma e blá blé blí”. Pobres pessoas que ainda não encontraram a magia que o sons sintéticos têm. Eles podem servir para nos fazer dançar, é verdade – e essa é a imagem que mais surge na mente das pessoas quando o assunto é música eletrônica – mas também podem nos conceder um salvo-conduto deste mundo, com segurança e garantia de retorno, que irá nos fazer muito bem. É nesta onda, de uma espécie de unguento sonoro, que eu recomendo “Bioluminescence”, o novo disco do Teen Daze.

Certo, você nunca ouviu falar e tem urticária quando pensa em new age music ou outro desses rótulos equivocados. Teen Daze não é nada disso, pelo contrário. É um projeto pessoal de um canadense chamdo Jamison Isaaks, que mora em Toronto. Ele surgiu no cenário da música sintética no início da década e, desde então, lança com frequência EPs e CDs com o objetivo de aperfeiçoar a fusão de elementos eletrônicos – batidas, sintetizadores, programações – com belos dedilhados de violão e climas obtidos com o bom uso de guitarras e pianos. O resultado quase sempre confunde o ouvinte, que se distrai tentando perceber os detalhes, imaginar onde termina um e começa o outro. Jamison, enquanto bola essas fusões de orgânico-inorgânico, oferece acesso irrestrito a belíssimas paisagens instrumentais e abstratas. É impossível não se encantar com o que o sujeito cria. Além dos sons de instrumentos e máquinas, ele não se esquece de inserir ruídos de pássaros, ventos, chuva, água, compondo um painel que, ainda que não seja novo em conceito, é eficiente em resultado.

“Bioluminescence” já entrega essa intenção de promover um intervalo no cotidiano urbano e mergulhar o ouvinte num universo mais lento, porém, jamais monótono. As criações de Isaak transbordam empatia, são convidativas e acabam soando como pequenos passeios em alguma paisagem tropical ideal. Este é o caso da excelente “Hidden Worlds”, que tem pinta de tema de programa de natureza dos anos 1980, um elogio sincero. Ela tem uma estrutura de música para dançar, linha de baixo funky mas extrapola essas medidas, com um turbilhão de efeitos e progressões gentis, que a levam para outro plano. E o ouvinte, concentrado e perdido nas marolas do Pacífico Sul, vai junto. Na verdade, o álbum todo é envolto por esta brisa de paz e harmonia.

Há momentos, porém, em que Isaaks propõe algo mais e isso significa um mergulho ainda maior nas batidas eletrônicas que ele descobre. Este é o caso de “Ocean Floor”, que tem um início percussivo, no qual percussões – humanas ou não – vão levando a canção enquanto são lentamente engolidas pelos elementos da paisagem, num efeito bonito e inevitável de natureza tomando conta da situação. Já “An Ocean On The Moon” é intencionalmente lenta, climática, cinematográfica, com acordes de teclado, pianos e guitarras, que evocam uma parede de efeitos que vão se insinuando discretamente pela paisagem sonora e, quando nos damos conta, já estamos em busca do tal oceano lunar.

Teen Daze tem uma onda Jacques Cousteau/National Geographic Magazine, boas intenções, bicho-grilagem do bem e, acima de tudo, um enorme talento para proporcionar bons momentos. Faça como sugeri acima, ouça este disco – e os anteriores, todos ótimos – em meio ao caos diário e surpreenda-se com um sorriso nos lábios, em pé, num metrô ou ônibus lotado. Funciona.

Ouça primeiro: “Hidden Worlds”.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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