Parece trilha da Pixar mas é o Weezer novo

 

 

 

Weezer – OK Human

Gênero: Rock Alternativo

Duração: 30 min
Faixas: 12
Produção: Rivers Cuomo
Gravadora: Crush Music

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

 

 

Sim, o novo álbum do Weezer entrou nos serviços de streaming hoje, dia 29 de janeiro de 2021. “Ok Human” é o nome da criança e muita gente – especialmente tiozões do pavê – já acharam que era um trocadilho com “OK Computer”, disco do Radiohead de 1997, mas não. É só dar uma olhada nas letras das doze faixas do álbum para notar que é uma referência aos tempos bicudos que vivemos no planeta. Rivers Cuomo, um cara estranho por definição, resolveu abrir um pouco seu coração nerd e várias dessas canções acabam soando tão confessionais quanto alguns momentos do decantado segundo trabalho do Weezer, “Pinkerton”, do longínquo ano de 1996. Sério, tem muita gente ainda esperando que a banda vá fazer algo assim. O que distancia “OK Human” de “Pinkerton” é a substituição das guitarras por arranjos acústicos e a presença de uma orquestra de 38 participantes. O resultado é que algumas músicas ficaram parecidas com aquelas faixas que habitam as trilhas sonoras de filmes da Pixar.

 

 

Mas isso não é um demérito, pelo contrário.

 

Rivers consegue alguns momentos de brilho e eles já aparecem logo de cara, na faixa que a banda escolheu para divulgar o disco e que abre os trabalhos, “All My Favorite Songs”, na qual ele confessa que todas as músicas que mais gosta são tristes e lentas, além de manifestar seu desejo de ir a festas e farrear, mas que acaba ficando em casa. Quem nunca se sentiu assim? E ele vai adiante, dizendo que “as pessoas de quem ele mais gosta o deixam furioso”. Outro momento de verdade. O problema é que o disco não tem todas as canções com a mesma pegada. Há momentos fracos, como “Aloo Gobi” ou “Grapes Of Wrath”, cuja letra fala da relação de Rivers com seus … audiolivros. Também não é interessante o clima de “Playing My Piano”, a mais “Pixar” do disco, que fala de solidão no meio da multidão, outro sentimento tristemente comum na modernidade. E “Mirror Image”, curtinha, mas chata e megalomaniaca. “Dead Roses”, por sua vez, é lenta demais.

 

Mas há os bons momentos e eles são realmente bons. “Numbers” é daquelas baladas weezerianas que evocam “Haunt You Everyday” em termos de lindeza e sentimento. O arranjo joga muito a favor, dando ressonância para a narrativa sobre a numerização da vida e o refrão explode em sentimento e dor. Funciona. “Screens” também está nesse lado bom de “OK Human”, com uma levadinha marota de baixo, cello e bateria, com violinos pontuando a melodia. “Bird With Broken Wing” é outra balada pixariana que começa mansinha e vai crescendo numa melodia bela e irresistível. E a dobradinha final, “Here Comes The Rain” e, especialmente, “La Brea Tar Pits” é iluminada como uma manhã de sol na primavera. A segunda fala de uma ida ao museu ao ar livre de La Brea, perto de Los Angeles, no qual há vários poços naturais de … piche. Tem pianos, vocais de apoio, violinos uma melodia plácida que vai falando de solidão como se Cuomo estivesse afundando num dos tais poços. É Weezer, gente.

 

“OK Human” é prova de maturidade/esquisitice do Weezer. Pode ser o que você quiser, mas ele referenda a nossa teoria de que, não importa como e quando, todo e qualquer disco da banda tem, pelo menos, umas três ou quatro canções memoráveis. Aqui não é diferente.

 

 

Ouça: “Numbers”, “La Brea Tar Pits”, “Here Comes The Rain”, “All My Favorite Songs”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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