Smashing Pumpkins lança primeiro volume de nova trilogia

 

 

 

 

Smashing Pumpkins – Atum, act.1
40′, 11 faixas
(Martha)

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

 

Billy Corgan é uma criatura peculiar. Ninguém discute seu talento como compositor, músico e sua marca vocal peculiar. Desde o início dos anos 1990, o sujeito ergueu uma carreira musical sólida e cheia de nuances. Ao longo do tempo, Billy foi incorporando um pouco da mitologia do rock progressivo, não na sonoridade, mas na fragmentação de conceitos literários e teatrais perpassando os discos que lançava à frente do Smashing Pumpkins, gerando obras conceituais, encadeadas, trilogias, histórias e toda uma sorte de desdobramentos estéticos que, supostamente, interligam os álbuns que lança desde os anos 1990. Veja o caso deste “Atum – act.1”. Além de ser o primeiro volume de uma trilogia que o grupo lançará até o início do ano que vem, é uma sequência de outros álbuns lançados em 1995 e 2000, a saber, “Melon Collie And Infinite Sadness” e “Machina/Machines Of God”. Mas, se me dissessem que este é um trabalho totalmente independente de outros itens da discografia de Corgan, eu acreditaria.

 

Sim, porque não há qualquer traço em “Atum – act.1” que faça menção a estes outros trabalhos, muito mais consistentes dentro da carreira do grupo. “Melon Collie”, um álbum duplo com muitos fãs, foi um momento de ruptura real na carreira dos Pumpkins, no qual, além de abraçar certos níveis de pop eletrônico como nunca haviam feito, deixavam para trás um pouco do peso das guitarras que os marcara até ali. E “Machina” foi o último trabalho a ter a baixista D’Arcy nas fileiras dos Pumpkins. Sendo assim, quem espera encontrar algum traço destes discos, se guiando pela lenga-lenga conceitual que Corgan diz existir aqui, vai se decepcionar.

 

O que “Atum – act.1” é então? Mais um trabalho da fase mais recente da banda, o segundo a contar com a presença do guitarrista James Iha e do baterista Jimmy Chamberlin. Completa o time o baixista Jeff Schoereder. Esta tal “fase recente” do grupo é marcada pelo abraço deslavado ao pop oitentista, inspiração que Corgan assume desde o álbum “Adore”, de 1998, no sentido The Cure ou New Order do termo. Desta forma, temos um monte de canções revestidas por teclados – tocados pelo próprio Billy -, timbres eletrônicos, batidas sintetizadas, em níveis oscilantes de qualidade e relevância. Como o sujeito segue com habilidades inegáveis como compositor e arranjador, sempre há algo interessante no balaio dos Pumpkins para ser ouvido.

 

É legal, por exemplo, ouvir ecos de Flock Of Seagulls em “The Gold Mask”, a faixa que encerra o disco. Os efeitos de guitarra/teclados são decalcados da ótima “Space Age Song”, do grupo inglês e funcionam bem. Outra bela canção é “Butterfly Suite”, com gotas de teclados e sintetizadores pontuando a bela melodia. Se você é daqueles que sentem falta das guitarras que marcaram o início da banda, pode ouvi-las em “The Good In Goodbye”, ainda que elas soem muito leves, mas não por culpa de Iha ou Corgan, mas da mixagem do disco, meio esquisita. E só para marcar ponto no setor “esquisitice”, algo sempre válido num disco dos Smashing Pumpkins, temos a estranhíssima ‘Hooligan” e a constrangedora “Hooray”, que mais parece uma gravação demo com teclados Casiotone.

 

O fã de Smashing Pumpkins já espera essa doideira conceitual. As canções boas estão presentes, mas é preciso procurar e peneirar em uma quantidade cada vez maior de joio musical. Quem estiver animado para fazer isso, vai ter alguma recompensa neste primeiro volume de “Atum”.

 

Ouça primeiro: “The Gold Mask”, “Butterfly Suite”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Smashing Pumpkins lança primeiro volume de nova trilogia

  • 18 de novembro de 2022 em 00:20
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    Interessante seu ponto de vista sobre o disco, sobre a mixagem de guitarras me agrada muito a forma que ouço nesse e tenho a sensação de que pelo fato do Billy ser o produtor isso exponha mais aquilo que vem dele para o resultado final tendo uma assinatura mais original e há um pequeno erro sobre o Jeff ser o baixista, na verdade ele é guitarrista… Forte abraço meu querido! Vlw

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