O pop perfeito de Fitz And The Tantrums

 

 

 

Fitz And The Tantrums – Let Yourself Free
32′, 12 faixas
(Elektra Records)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

Qual a melhor banda pop do mundo? As pessoas ainda se importam com este tipo de pergunta? Eu me importo e, confesso, sinto falta de uma ideia clara sobre quem, de fato, é mais fluente no idioma pop nos nossos tempos. O termo “pop” varia de época e de lugar, mas, via de regra, significa uma música de fácil assimilação, sem muita preocupação para discutir temas muito complexos e, quase sempre, tem como um objetivo nítido fazer o ouvinte dançar e cantar junto. Já faz algum tempo que o pop mundial é dominado por cantores e cantoras, sobrando pouco espaço para grupos. E tudo soa muito eletrônico, sintético e bombástico no pop atual. Muita gente apontaria Coldplay ou Maroon 5 como exemplos eficazes de bandas que fazem um som pop de qualidade, mas eu divirjo. Se fosse obrigado a apontar um nome que responda, tanto pela urgência/pós-modernidade do pop atual, tanto pela qualidade na composição/gravação que é indispensável para dar qualidade ao produto final, eu cravaria o grupo angeleno Fitz And The Tantrums como meu preferido. E, a partir disso, chamaria a atenção para seu novíssimo álbum, “Let Yourself Free”.

 

 

Liderado pelo vocalista Michael Fitzpatrick, o Fitz propriamente dito, o grupo iniciou suas atividades em 2010, quando lançou o primeiro álbum, “Pickin’ Up The Pieces”. A pegada da banda era muito norteada por um soul quase vintage, que mostrava grande capacidade para apresentações ao vivo, além de um grande talento vocal por parte de Michael, bem como um ótimo entrosamento dele com a vocalista Noelle Scaggs, que responde pela parte feminina dos vocais do Fitz. Ainda que esta estreia tenha sido bem interessante, a banda só entraria no mapa dos grandes shows com o segundo trabalho, “More Than Just A Dream”, de 2013, que continha dois pequenos clássicos instantâneos do pop: “The Walker” e a soberba, perfeitinha “Out Of My League”. Este segundo álbum marcou a mudança sonora do grupo, abandonando o soul pop da estreia e abraçando timbres e sonoridades eminentemente pop. Mas, é bom que se diga: o Fitz jamais deixou de lado o talento para construir boas melodias e arranjos que mostrou em sua estreia, sendo assim, o seu pop cada vez mais planetário, nunca deixou de lado o cuidado com a música.

 

 

Hoje, 2022, a banda solta o sexto trabalho mantendo o nível dos antecessores e mostrando que tem, de fato, um talento acima da média para forjar chicletes sonoros inegáveis. A pegada é o pop deslavado, de palco, feito para dançar e pular, mas com pitadas de soul genérico aqui e ali, gerando uma fornada de doze canções muito legais, com picos de genialidade em algumas delas. Além disso, o poder de síntese do grupo é uma de suas qualidades, conseguindo fazer caber estas faixas em meros 32 minutos de duração. Não há espaço para enrolação, golpes como autotune ou outras trucagens. Aqui é tudo de verdade, sem perda de tempo.

 

 

“Let Yourself Go” tem, como diria o cronista esportivo, um losango de canções no seu meio de campo. Jogando na ligação com o ataque, temos o soul sintético e puladinho que é “Sway”, impulsionada por uma linha de baixo sinuosa, um arranjo ensolarado e um refrão que faz até um frei que fez voto de silêncio sair cantarolando. “Silver Platter” é outra lindeza, mas, ao contrário de “Sway”, joga em notas mais baixas, tranquilas, totalmente revestida de uma aura de soul pop sessentista, podendo passar até por uma canção obscura da Motown records. “Steppin’ On Me” é outra belezura vintage estilizada, totalmente inserida nesse contexto soul que mencionamos, mas com um pouco mais de modernidade no bolso do colete. E, por fim, “Big Love”, um convite à dança desengonçada em pouco mais de dois minutos e meio, com tiques pop atuais e uma estrutura que, se despida até o básico, mostraria parentesco com coisas como “Brown Eyed Girl”, de Van Morrison.

 

 

“Let Yourself Free” é disco de verão, para servir de trilha sonora para piqueniques, passeios sob a luz do sol, coisas assim. É solar, bem feito, irresistível. O bom pop está vivo, pulsando e soando muito bem. Ouça.

 

Ouça primeiro: “Sway”, “Silver Platter”, “Steppin’ On Me”, “Big Love”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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