Sloan, o Teenage Fanclub canadense, lança novo álbum

 

 

 

Sloan – Steady
36′, 12 faixas
(Yep Rock)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Confesso que a alusão ao Teenage Fanclub no título do texto serve mais para que os fãs brasileiros da banda escocesa – que são muitos – se sintam atraídos para clicar e ler sobre o Sloan. É bem verdade que talvez os admiradores mais dedicados do powerpop em sua versão noventista já saibam bastante sobre este quarteto de Halifax, Nova Scotia, que está na ativa desde o longínquo ano de 1992. Como várias formações daquele tempo, o Sloan tem especial capacidade para misturar o peso guitarreiro de um Sonic Youth com melodias que fariam bonito em discos dos Beatles, sem falar nos acenos a acordes dos Byrds e à tristeza alegre do Big Star. Tudo isso, devidamente misturado, rende uma liga sonora que segue como uma das mais importantes e influentes do rock alternativo desde o início dos anos 1990. E o Sloan dá sequência a esta carreira com seu décimo-terceiro álbum, “Steady”, que traduz essa firmeza no propósito e na trajetória.

 

 

Esta firmeza e estabilidade se reflete no fato de que o Sloan jamais mudou de formação. Ou seja, há trinta anos Andrew Scott, Chris Murphy, Jay Ferguson e Patrick Pentland, todos capazes de cantar e compor lindamente, estão juntos na banda, gravando e lançando álbuns com frequência e mantendo unido um séquito fiel de fãs. Mesmo assim, o grupo não é dos mais conhecidos fora do Canadá e das esferas powerpop, o que é uma pena. “Steady”, o novo álbum, é um ramalhete de várias influências que compõem este powerpop noventista, devidamente colocadas e afofadas pelo talento dos sujeitos. O que é interessante no conjunto de discos do Sloan é que a fórmula mágica de som desenvolvida pelo quarteto só fez evoluir, mas nunca foi descaracterizada por modismos de performance ou postura na gravação e na concepção em estúdio. Dá pra achar parentesco entre canções presentes aqui e pepitas de ouro de “Twice Removed”, segundo disco dos caras, que chegou a ser eleito “O melhor disco canadense de todos os tempos” numa lista promovida pela imprensa local. Tudo está encadeado e tramado.

 

 

Das doze faixas presentes aqui, pelo menos sete são absolutamente sensacionais e dignas de figurar em listas de melhores canções de 2022. Logo de cara o ouvinte se depara com o groove infeccioso de ‘Magical Thinking”, que é uma canção perfeita, dessas desenvolvidas em laboratório, com a intenção de fazer o corpo se mover, nem que seja para acompanhar o ritmo com o pezinho batendo no chão. “Human Nature” é aquele momento em que o grupo demonstra a sua capacidade/devoção aos Beatles, com uma balada pianística que Paul McCartney não se incomodaria em assinar embaixo. Já em “Scratch The Surface”, o Sloan faz o caminho inverso, colocando guitarrinhas de hard rock oitentista e soando com uma mistura de Van Halen e Cheap Trick, numa outra faixa próxima da perfeição.

 

 

O pendor do grupo, no entanto, é mais pelos momentos melodiosos e ideais para sonorizar a saída do sol após vários dias de chuva. “Dream It All Over Again” vai por este caminho ensolarado, cheia de vocais e guitarras que se dobram, enquanto “Nick Work If You Can Get It” é outra canção que visita o baú beatle com harmonias vocais maravilhosas e guitarra que evoca o timbre de Roger McGuinn nos Byrds. “Simply Leaving” é balada derramada sobre o fim de relacionamento e a necessidade de reciclar o amor que esmurra o peito querendo sair. Por fim, “Keep Your Name Alive” é daquelas canções que mistura com precisão laboratorial os genes da melodia e da crocância guitarreira, com proporções equânimes e maravilhosas.

 

 

“Steady” é esta delícia melodiosa, gentil e que se oferece ao ouvido mais carente de melodia e fofura rock’n’roll agridoce. Tudo aqui brilha, despertando a curiosidade para o fã mais novo: vá conhecer a carreira do Sloan, você não vai se arrepender. Depois conta o que achou.

 

 

Ouça primeiro: “Magical Thinking”, “Dream It All Over Again”, “Nice Work If You Can Get It”, “Simply Leaving”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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