Thor: Amor e Trovão é legal

 

Saí da sessão para críticos de “Thor: Amor e Trovão” pensando que todos amariam a nova realização do cineasta neozelandês Taika Waititi – sua segunda incursão no chamado Universo Marvel. Errado estava eu. A maioria da crítica especializada recebeu o filme mornamente, como se Taika – que também rodou e realizou “Thor Ragnarok” (2017) – tivesse errado a mão. Tudo bem, “Ragnarok” é uma delícia colorida, que mudou os rumos do Deus do Trovão dentro dos filmes da Marvel. O resgatou dos diálogos sérios e sisudos, transportando-o para um universo coloridão, feliz e com fortes influência de animação psicodélica noventista. Taika deu ares leves e de humor rasgado à trama e não é surpresa que ele repita esta postura neste novo trabalho.

 

 

Mas – segundo os críticos – Taika não conseguiu mesclar drama, comédia e ação ao longo das duas horas de produção. Esses blocos narrativos surgiriam descolados, sem comunicação entre si, como que boiando na cara do espectador. Concordo, mas em parte. O que eu acho é que este novo “Thor” tem um pouco mais de drama que o anterior. Se pensarmos bem, “Ragnarok” trouxe, simplesmente, a morte de vários personagens, sem falar no próprio fim de Asgard, planeta natal do Deus do Trovão (Chris Hemsworth), num genocídio cometido por Hella, talvez um dos melhores papéis da vida de Cate Blanchett. Em “Amor e Trovão” há a questão que envolve Jane Foster, a ex-namorada terráquea de Thor, vivida novamente por Natalie Portman, mas consigo ver equivalência dramática nos dois.

 

 

Em “Amor e Trovão”, os deuses do universo estão ameaçados pelo “Carniceiro dos Deuses” (Christian Bale, sensacional), um ex-devoto de uma divindade específica, que falha em salvar a vida de sua filha, além de amaldiçoá-lo e dizer que “seres como ele servem apenas para adorar a seus deuses”. Com a vingança pela perda da menina, ele inicia uma cruzada contra essas divindades, espalhadas pelo universo, até esbarrar em Thor e nos Guardiões da Galáxia, com quem ele está desde o longa anterior. O prólogo do filme é hilariante, mostrando a partida de do Deus do Trovão para atender a um pedido de socorro, no qual fica sabendo do Carniceiro e que vai levá-lo de volta à Terra, onde estão os refugiados de seu planeta natal, vivendo na cidadezinha de Nova Asgard, governados pela Rei Valkyrie (Tessa Thompson). A partir daí, uma série de eventos irá confrontar a equipe de Thor com o Carniceiro, até que seus propósitos sejam completamente entendidos.

 

 

No meio do caminho, é digna de menção a passagem pela “Cidade da Onipotência”, local onde residem todos os deuses do universo, liderados por Zeus (Russell Crowe). Ali, num lugar encastelado e supostamente seguro, nenhuma divindade parece se preocupar com a ameaça iminente. É do confronto com Zeus que vários fatos irão se desenrolar. Justamente neste tratamento debochado e crítico em relação à adoração a deuses, nem sempre de caráter ilibado, Taika Waititi acerta no alvo, reduzindo crenças e dogmas a quase nada. Outro mérito dele está na personalidade de Thor, que, muito mais que um bobão engraçado, surge como uma pessoa ingênua e inocente, capaz de resistir a várias adversidades simplesmente por acreditar que o bem vai triunfar. E, claro, como é típico em produções de Waititi – o visual é um show à parte.

 

 

“Amor e Trovão” é um filme engraçado, com vários momentos bacanas. Talvez ainda haja algum fã conservador esperando que Thor irá adotar uma personalidade séria e pomposa. Espero que não. Com o molde que Taika Waititi lhe deu, o Deus do Trovão nunca foi tão bacana. E, como dizem os créditos, ele irá voltar. Aliás, não custa lembrar – há duas cenas pós-creditos. Não vá sair do cinema antes da hora.

 

 

PS: o filme perde pontos preciosos pela overdose de canções de Guns’n’Roses na trilha sonora. Não precisava disso, Taika.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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