Ranking: Trilhas Sonoras de Tarantino

 

Estamos próximos do lançamento de “Era Uma Vez … Em Hollywood”, o mais novo filme do diretor, roteirista, produtor, às vezes ator, Quentin Tarantino. Seu trabalho tem muitos fãs e boa parte deles vai ao cinema para apreciar o trabalho de bricolagem empreendido por ele em homenagem a vários gêneros do cinema dos anos 1960/70. Western, policial, terror, suspense, todos esses gêneros podem se embaralhar sob a batuta do sujeito. Às vezes acusado de violento – algo que procede – em suas histórias, Tarantino tem um charme que segue firme em meio à passagem do tempo: as trilhas sonoras de seus filmes são muitas vezes melhores que as próprias histórias e o longa em si. Diria eu que isso ocorre na maioria esmagadora das vezes.

 

A escolha das canções e a concepção delas em relação ao filme ficam por conta do diretor e ele é mais feliz neste tipo de abordagem do que na visita aos tais gêneros cinematográficos que escolhe homenagear. Em alguns casos, a trilha sonora ganha status de clássico, caso de “Pulp Fiction”, lançado em 1994, que recolocou no mapa vários clássicos esquecidos do pop e do rock. Resolvi fazer uma listinha com as minhas preferências musicais dentro deste universo tarantinesco. Eu costumo dizer que ele é uma espécie de Fatboy Slim do cinema, algo que não é depreciativo, mas que representa bem o tipo de filme que faz. E o tipo de trilha que escolhe. Vamos lá, do décimo até o primeiro, já incluindo aí a ótima seleção musical do novíssimo filme.

 

10 – Cães de Aluguel (1992)

 

O primeiro filme de Tarantino a fazer barulho, ainda no circuito alternativo americano. Impressionou pela sanguinolência e a trilha ainda não tinha um papel decisivo. Mesmo assim, já dava pra perceber que as escolhas de “Stuck in the Middle with You” (Stealers Wheel) e “Coconut”, de Harry Nillson, mostravam um cara com boa percepção para a música.

 

9 – Bastados Inglórios (2009)

 

Na minha lista de filmes, este é o segundo melhor que Tarantino fez até hoje. As atuações são sensacionais, os excessos são quase inexistente e a história é muito boa. A sequência que tem Brad Pitt como Enzo Gorlomi é a melhor que Tarantino já fez até hoje. A trilha tem mais canções instrumentais, especialmente de Ennio Morricone, compositor italiano muito querido pelo diretor, que também assina algumas canções inéditas. Há, no meio das faixas instrumentais a inserção genial de “Cat People”, na voz de David Bowie, sonorizando uma sequência-chave para o longa.

 

8 – Os Oito Odiados (2015)

 

Falando em Ennio Morricone, esta trilha marca um grande feito: ela é totalmente inédita, ao contrário de todas as outras, marcadas por compilações de canções. O venerado compositor italiano foi convocado para compor um score novíssimo para este western violentíssimo, considerado por muitos o filme menos inspirado do diretor. A trilha de Morricone atenua um pouco esta visão, mas, no geral, o longa é um espetáculo gratuito de violência e brutalidade, especialmente contra a mulher.

 

7 – Django Livre (2012)

 

Às vezes uma única canção faz toda uma trilha sonora ter sentido. No caso de “Django Livre”, homenagem aos filmes híbridos de western e opressão de escravos negros no século 19, quem cumpre esta função é a clássica “I Got A Name”, de Jim Croce. Além dela, que surge em momento decisivo no longa, a compilação de canções ainda traz o indefectível Morricone, Riz Ortolani, James Brown, RZA e inéditas de John Legend e Anthony Hamilton.

 

6 – Kill Bill vol.2 (2004)

Esta trilha foi escolhida por Tarantino e pelo diretor Robert Rodriguez, colaboração que se estendeu por outros filmes e projetos subsequentes, como “Sin City” e a dupla de longas “Grindhouse”, composta por “Prova de Morte” e “Planeta Terror”. Ela segue o padrão do filme anterior, com muitos diálogos (outra marca registrada das compilações trilheiras de Tarantino) e belas sacadas, que vão de Johnny Cash, com “A Satisfied Mind”, passando por Malcolm McLaren (“About Her”) a clássica “Malagueña Salerosa”, com Chingon, e mais seleções de Ennio Morricone.

 

5 – Prova de Morte (2007)

Um filme subestimado dentro da carreira de Tarantino, ele é seu quinhão no projeto “Grindhouse”, ao lado de Robert Rodriguez, que dirigiu “Planeta Terror”, ambos em 2007. A trilha traz pequenas maravilhas, indo de Burt Bacharach e Ennio Morricone, passando por Jack Nitzsche e sua “The Last Race”, T. Rex com uma de suas melhores gravações, “Jeepster”, o bluesman Joe Tex e uma pequena pepita musical que encerra o longa: “Chick Habit”, versão de April March para o original de 1964, composto por Serge Gainsbourg e interpretado por France Gall.

 

 

4 – Kill Bill vol.1 (2003)

 

O primeiro “Kill Bill” é um dos longas mais legais de Tarantino e tem sua trama centrada nos velhos filmes de artes marciais dos anos 1970. A trilha é um show e acompanha o longa no mesmo nível. Algumas canções como “Bang Bang (My Baby Shot Me Down)”, com Nancy Sinatra, ganharam status de clássico inédito. Além dela, a compilação traz uma salada maluca, que tem o tema televisivo do Besouro Verde, “Woo Hoo”, do sensacional The 5,6,7,8’s, Isaac Hayes e várias canções do rapper RZA.

 

3 – Pulp Fiction (1994)

O filme mais badalado e famoso já feito por Tarantino também foi responsável por apresentar sua visão de trilha sonora para o público. Diálogos, canções obscuras, temas instrumentais e uma variedade que deixava o espectador sem fôlego. Uma das sequências mais legais da carreira do diretor está aqui, na qual John Travolta é levado de volta à pista de dança, junto com Uma Thurman, ao som de um Chuck Berry já mais experiente, em “You Never Can Tell”. Outras três canções ressurgiram para a atenção do público: “Girl You’ll Be A Woman Soon”, de Neil Diamond, com o grupo Urge Overkill; “Let’s Stay Together”, de Al Green e “Misirlou”, com Dick Dale. Além delas, a trilha ainda traz um pequeno colosso funk: “Jungle Boogie”, com o Kool And The Gang.

 

2 – Era Uma Vez … Em Hollywood (2019)

A novíssima trilha tarantinesca tem potencial e credenciais para assumir esta segunda posição. Além de trazer pequenas crocâncias sessentistas de Simon And Garfunkel e Deep Purple (quando ainda era uma banda psicodélica pesadona), a compilação resgata The Box Tops, Buffy Sainte-Marie e o proto-garagista Paul Revere & The Raiders em várias faixas. O grande charme, no entanto, é a inclusão de nove spots comerciais de rádios da época, ambientando as canções de forma inovadora, dando a impressão de que estamos ouvindo uma parada de sucessos alternativos daqueles tempos.

 

 

1 – Jackie Brown (1997)

O melhor filme de Tarantino tem também a melhor trilha sonora. Uma homenagem aos filmes de blaxploitation dos anos 1970, “Jackie Brown” resgatou Pam Grier do ostracismo e deu a ela o papel-título. A sequência inicial, na qual ela é vista no aeroporto é uma declação de amor ao gênero que trazia atores negros protagonistas em pleno momento de luta pelos direitos civis. Para acompanhar essa lindeza, a trilha traz Delfonics, Bill Withers, Minnie Ripperton, Johnny Cash e Bobby Womack, com a clássica e maravilhosa “Across the 110th Street”, que abre o filme.

 

 

OBS: Assassinos Por Natureza (1994)

Tarantino  co-escreveu o roteiro do longa de Oliver Stone e a trilha sonora carrega o mesmo padrão que ele adotaria em seus filmes. É uma compilação maluca com Leonard Cohen, L7, Nine Inch Nails, Bob Dylan, Patsy Cline e até a Orquestra Filarmônica de Budapest. A violência come solta ao longo da trama, que fala de assassinos em série que se tornam celebridades nos Estados Unidos. A sequência final, ao som de “The Future”, de Cohen, é antológica.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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