Soundgarden – Live From The Artists Den
Gênero: Rock alternativo
Faixas: 29
Duração: 146 min.
Produção: Soundgarden
Gravadora: Universal
Há cerca de um mês o UCI Cinemas exibiu este mesmo show, gravado pelo Soundgarden em 2013, fechando a turnê de seu derradeiro álbum, “King Animal”. A ideia foi vincular este show – em Los Angeles – ao programa “Live From The Artists Den”, veiculado na emissora americana PBS. A apresentação nunca foi ao ar e ganhou status mítico até a chegada da íntegra da filmagem aos cinemas. Na esteira do lançamento do longa, a Universal coloca várias versões no mercado, incluindo DVD/Blu-Ray e as 29 canções em CD triplo. São quase duas horas e meia de intensidade, que valem à pena, não só para quem é fã da banda ou de Chris Cornell, mas do próprio rock alternativo americano noventista.
Ao contrário do que pode parecer, o Soundgarden não estava decadente em 2013 ou caçando níqueis na estrada. “King Animal”, o tal último disco, fornece várias faixas para o show e não deixa nada a dever em relação à discografia clássica da banda, interrompida em 1996. Cornell, o guitarrista Kim Thayil, o baixista Ben Shepherd e o baterista Matt Cameron eram capazes de formar uma argamassa em cima do palco difícil de ser igualada. Enquanto o Nirvana era mais punk, Pearl Jam e Alice In Chains tributavam diferentes modelos setentistas de heavy metal, o Soundgarden talvez fosse o único capaz de oferecer uma sonoridade nova, distinta, monolítica mas arejada quando necessário. As letras depressivas casavam com a porradaria dos arranjos e tudo funcionava com muita coerência. Este show de 2013, quase 20 anos depois do ápice comercial do grupo, prova que eles mantinham essa garra intacta.
Como se não bastasse retratar uma apresentação fortíssima, “Live From The Artists Den” vem preencher uma lacuna na discografia da banda. Se “Live On I-5”, lançado em 2011, chegava com faixas registradas na então última turnê da banda, mas não do mesmo show, este novo álbum cumpre a função de retratar a íntegra de uma única apresentação, feita diante de 2 mil sortudos num teatro velhusco de Los Angeles, o Wiltern. O resultado é uma simbiose entre banda e público, que dá saudade de como os discos ao vivo costumavam ser sinceros e representativos.
Falar do repertório é chover no molhado. Tem clássicos do tempo de “Badmotorfinger”, como “My Wave”, “Jesus Christ Pose”, “Ty Cobb”, “Rusty Cage”, “Slaves & Bulldozers” e “Outshined”; sucessos radiofônicos como “Black Hole Sun”, “Spoonman”, “Fell On Black Days” e pepitas de ouro inéditas ao vivo, caso de “Blind Dogs” ou não-executadas nos 20 anos anteriores, como “New Damage”. Só não é perfeita a seleção de canções porque, inexplicavelmente, “The Day I Tried To Live”, uma das mais sensacionais gravações do Soundgarden – e do rock de Seattle – ficou de fora.
“Live From The Artists Den” é uma cacetada. O único – e enorme – problema é chegar ao fim das 29 canções e desejar ouvir algo novo da banda ou de Chris Cornell e receber o duro impacto de sua prematura morte.
Ouça primeiro: “Outshined”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.