Prince – Originals

 

Gênero: Funk
Duração: 63 min
Faixas: 15
Produção: Prince
Gravadora: Warner

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

A única coisa positiva na morte de Prince é que o artista tinha toneladas de material gravado, que estão sendo lançadas aos poucos. A sensação será de que o anão púrpura de Minneapolis não nos deixou, tamanha a quantidade de discos, compilações e edições de luxo que virão por aí. Na verdade, já estão vindo. “Purple Rain”, o disco de maior sucesso de Prince, já recebeu um tratamento “deluxe” há dois anos. Também já vieram uma compilação de rabiscos de canções ao piano (“Prince: Piano & a Microphone”), uma versão alongada de “Rave Un2 The Year 2000” e agora esta sensacional compilação “Originals”. Qual é o grande lance por aqui?

 

O disco traz 15 faixas, sendo 14 delas inéditas na voz de Prince, mostrando gravações caseiras do sujeito, de canções que foram feitas para outras pessoas. Como Prince tinha um estúdio state of the art em casa, no qual gravava seus discos, a qualidade destes registros é sensacional. O homem tinha capricho extremo nos rascunhos, trazendo instrumental completo, vocais dedicados, backing vocals, enfim, toda uma produção praticamente profissional e pronta para o grande público. É sensacional poder ver como ele tinha em mente as questões dos arranjos e como os artistas que recebiam suas fitas respeitavam suas diretrizes, ou seja, Prince, mesmo compondo para outrem, interferia no resultado final de suas canções.

 

O maior exemplo está no registro que ele fez para “Manic Monday”, que seria sucesso mundial em 1986, na voz das Bangles. O fraseado de piano, as levadas de bateria e a melodia inspiradíssima são totalmente idealizados por Prince e copiados pelas meninas em seu resultado final. Também fica evidente a semelhança que a métrica e a levada esta canção têm com outro sucesso de Prince, “1999”. Outro bom exemplo é a ótima “Jungle Love”, que foi gravada pelo grupo The Time, projeto de Morris Day, colaborador de Prince dos tempos da The Revolution, sua primeira banda de apoio. Podemos perceber que todo o arcabouço da canção veio da mente púrpura do sujeito, ficando Day restrito a dizer “amém” e agradecer as ótimas ideias.

 

“Originals” também traz curiosidades: “You’re My Love”, destinada a Kenny Rogers, surge com um registro vocal muito mais grave que o normal, mostrando também o cuidado que Prince tinha, levando em conta quem cantaria sua composição. Outras belezas também surgem pelo caminho: “Baby You’re A Trip”, que ele escreveu para a cantora Jill Jones; “Holly Rock”, para Sheila E, sua percussionista de fé, com uma homenagem implícita ao estilo funky de James Brown. Fechando o disco, “Nothing Compares 2 U”, que ficou famosa na voz de Sinéad O’Connor, a única que não foi composta por Prince para outro artista, sendo a gravação da irlandesa uma cover.

 

“Originals” é um discaço, sensacional do início ao fim, que mostra a genialidade de um artista sem limites que nos deixou cedo demais. Pelo menos, sua obra está presente e seguirá surgindo como novidade de tempos em tempos. Indispensável.

 

Ouça primeiro: “Manic Monday”

 

Para ouvir: https://tidal.com/pt/prince

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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