Smashing Pumpkins volta ao rock em novo álbum
The Smashing Pumpkins – Aghori Mhori Mei
45′, 11 faixas
(Independente)
Não parece, mas este “Aghori Mhori Mei” é o décimo-terceiro álbum da carreira dos Smashing Pumpkins. Ao todo são 34 anos de atividade, alguns ótimos trabalhos e uma trajetória esquisita, para dizer o mínimo. É mais ou menos consensual entre fãs e críticos admitir que os anos dourados do grupo foram na década de 1990, especialmente entre os álbuns “Gish” (1991), “Siamese Dream” (1993) e “Mellon Collie And Infinite Sadness (1995), tempo em que Billy Corgan, D’Arcy Wretsky, James Iha e Jimmy Chamberlin criaram uma sonoridade que era, ao mesmo tempo, adjacente ao grunge vigente na época e com muitas informações do pós-punk dos anos 1980, especialmente de The Cure e New Order. Coroando a boa liga sonora, a esquisitice visual dos integrantes e a genialidade do vocalista, cérebro e guitarrista Billy Corgan, que sempre foi um bom compositor de rock, fluente nos idiomas clássicos do estilo, usando e abusando de conceitos progressivos de narrativas interligadas, até mesmo na criação de uma novilíngua de termos estranhos e ocultos no batismo das canções. Este auge durou até a chegada do álbum “Machina: The Machines Of God”, em 2000, época que marcou uma lenta decadência criativa, idas e vindas, substituições de integrantes e até álbuns gravados quase totalmente por Corgan. Há cinco anos, Iha e Chamberlin retornaram ao grupo, que, desta forma, mantém 3/4 de sua formação clássica, tendo ainda Jeff Schroeder no baixo e vocais. Essa galera entregou três álbuns entre 2018 e 2023 e agora, cerca de um ano depois, chega mais um trabalho, este pesadinho “Aghori Mhori Mei”.
É um álbum que tenta reconectar a sonoridade dos Pumpkins com este passado glorioso de rock mais pesado. Corgan sempre foi um bom criador de riffs e climas pesadões na guitarra e ainda consegue compor boas canções. Todo álbum dos Smashing Pumpkins, seja ele o pior possível, sempre terá duas ou três composições que chamam a atenção pela fluência e habilidade na hora de criar um bom refrão ou arranjar um bom andamento ritmico. E aqui não é diferente. Corgan é um sujeito prolífico, o último lançamento da banda, “ATUM”, era um álbum triplo, cheio de conceitos e que, segundo o cantor e compositor, encerrava uma trilogia temática iniciada em “Mellon Collie” e levada adiante por “Machina”, ou seja, era a conclusão que algum fã die-hard estava esperando há nada menos que vinte e três anos. E quando alguém espera que Corgan irá descansar, ele já está no estúdio, produzindo e gravando essas novas dez faixas, sem falar na massiva turnê que a banda está fazendo pelo Hemisfério Norte e que a trará de volta à América Latina, com datas marcadas para Peru, Colômbia, Equador, Costa Rica, Argentina e o nosso Brasa, com shows confirmados em Brasília e São Paulo.
Bem, o fato do álbum ser mais pesadinho não significa, necessariamente, uma virtude. Assim como os trabalhos recentes, a produção de Corgan não é grande coisa e persiste um defeito incômodo desses discos – uma sonoridade rasa, meio aguda, que prejudica demais a bateria de Chamberlin e o baixo de Schroeder, além de acentuar a agudeza do timbre do abóbora-chefe. Mesmo assim, os fãs mais dedicados irão saudar o novo feixe de canções, linkando com os tempos mais pesados da banda e, provavelmente, identificando os inegáveis méritos da cadenciada “War Dreams Of Itself”, que tem porradaria sonora, groove guitarrístico à toda prova e pode se tornar uma belezura ao vivo, entoada por uma multidão maluca. Aqui é provada a genialidade de Corgan no manuseio desse tipo de canção. Também tem “Who Goes There”, que é mais branda e harmoniosa, com acenos a momentos mais plácidos de “Mellon Collie”, porém menos enfeitados e bem produzidos. Falando nisso, em “Goeth The Fall”, o espírito do hit mundial “1979” é mais ou menos evocado pelos timbres de guitarra e tom pop da canção. Mas é no peso que o álbum tem sua razão de existir com outro bom exemplo – “Sicarus”, que tem timbres de heavy metal e dinâmica noventista, certamente outro momento promissor em shows vindouros.
“Aghori Mehmori Mei” é um disco para fãs do grupo. Não consigo vê-lo cativando novos admiradores, mas, certamente, servirá como um eficiente atestado de vida e operacionalidade por parte dos Pumpkins. Uma boa produção poderia melhorar sensivelmente o tom do disco, mas Corgan não pode fazer tudo sozinho. Ou pode?
Ouça primeiro: “War Dreams Of Itself”, “Sicarus”, “Goeth The Fall”, “Who Goes There”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.