O que a música nos dá, ninguém nos tira

 

 

Peçam- me para fazer uma lista dos meus livros favoritos por diferentes razões e sou capaz de desistir de frustração pela dificuldade em escolher entre tantos títulos queridos.

 

Por outro lado, me perguntem sobre autores com quem eu me identifico, com quem  me sentaria para tomar uma cerveja ouvindo uma boa banda tocar ao vivo e terei dois nomes imediatos: Nick Hornby e Hunter Davies.

 

Já escrevi aqui sobre “31 canções”, um dos livros do Nick, mas ele não foi o começo da nossa relação ( saquem a intimidade) , que aconteceu quando “Alta Fidelidade” foi meu presente de Natal em 1999, abrindo para mim um mundo que me entendia, ainda que dentro de um livro protagonizado por um chato trintão e perdido na vida.

 

Conforme atingi os 36 anos do Rob Fleming no livro, as criações do Nick deram lugar às protagonistas femininas : Annie, em “Juliete nua e crua”, Kate, em “Como ser legal”, Louise, em “State of the Union” e Lucy, que está vindo em “Just like you”, a ser lançado em 29 de setembro. Suas questões são outras, e a identificação também. Como elas eu estou com os dois pezinhos nos quarenta. Como o Rob, eu continuo sem saber direito o que vim fazer aqui.

 

E ainda não assisti a adaptação para a tv de Alta Fidelidade, com o lance genial de uma mulher, a maravilhosa Zoe Kravitz no papel da dona da Championship Vnyl.

 

Tá aí um negócio que eu queria ter.

 

É Nick, ainda dividiremos um grande caminho pela frente.

 

Conheci Hunter Davies quando a versão revisitada da única biografia autorizada dos Beatles, escrita por ele e lançada pela primeira vez em 1968, apareceu aqui no Brasil, em 2015. Convidada por um autor experiente no manejo da pesquisa e das palavras a fazer parte dos bastidores da vida dos integrantes da minha banda favorita, voei pelas 598 páginas, contando os apêndices adicionados com o passar dos anos,

 

De autoria do Hunter em seguida comprei os livros “As letras do Beatles”, uma coletânea dos manuscritos das canções essenciais, e “Cartas de John Lennon”, a análise de quase 300 correspondências que destrincham sua persona e relacionamentos.

 

Os três livros são um primor de edição e cuidado. A biografia tem edição da BestSeller, e os outros dois saíram pela Planeta.

 

Nick Hornby e Hunter Davies são britânicos e têm 21 anos de diferença de idade entre si. Por fazerem da música matéria-prima para vários de seus trabalhos biográficos e de ficção não existiria um jeito melhor da gente se encontrar.

 

Seus livros me abrigam, me mostraram que eu não sou esquisita por ser dependente de Beatles, de música para conseguir ter uma existência minimamente suportável.

 

Depois que a Ariana de Oliveira fez um suco delicioso da Dingo Bells, uma das minhas bandas nacionais mais amadas, coloquei meu lado tiete babona pro jogo e engatamos uma conversa gostosa pelo Face, num encontro que ela bem lembrou, só a música é capaz de proporcionar.

 

Algumas vezes ele acontece através de um texto, um show, uma playlist, um podcast. Outras até pelos livros. Seja lá como for o privilégio será sempre o mesmo.

 

“In the end, the love you take is equal to the love you make “

 

Debora Consíglio

Beatlemaniaca, viciada em canetas Stabillo e post-it é professora pra viver e escreve pra não enlouquecer. Desde pequena movida a livros,filmes e música,devota fiel da palavras. Se antes tinha vergonha das próprias ideias hoje não se limita,se espalha, se expressa.

One thought on “O que a música nos dá, ninguém nos tira

  • 10 de setembro de 2020 em 08:23
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    Sempre uma delícia de leitura!

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