O adorável classicismo rocker dos Struts

 

 

 

 

The Struts – Pretty Vicious
45′, 11 faixas
(Big Machine)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

Em outubro de 2020, os Struts lançaram seu ótimo álbum “Strange Days” (a gente resenhou aqui). Era uma autêntica e dedicada obra de adoração ao hard rock clássico, tanto o setentista, original, de Kiss e Queen, quanto as releituras oitentistas que o estilo teve, por conta de gente como Def Leppard e Bon Jovi. Era o auge da pandemia, pleno isolamento social e tudo soava meio confuso. Ainda que fosse maravilhoso, “Strange Days” não foi para a estrada e ficou meio espremido entre as agruras do momento e a própria retomada. Resultado: os Struts lançam agora “Pretty Vicious”, um álbum tão ou mais expressivo que o anterior, com canções ganchudas, muita raça e um “extremo desequilibrante”, como diria o Professor Tite: Luke Spiller, o vocalista. Sem exageros, Spiller é um dos maiores cantores de rock da atualidade, com a manha dos grandes mestres do passado, atitude adequada e uma simpatia inegável. Agradando a um fã clube diverso, que inclui desde o progressivo Mike Oldfield aos remancentes do Queen, passando pelo arroz de festa Dave Grohl, Luke é superlativo e este é um dos grandes atrativos deste ótimo “Pretty Vicious”.

 

Há um elemento a mais no combo oferecido pelos Struts. A mitologia rock clássica, que eles adoram evocar. As canções falam sobre amores impossíveis, detonações advindas do estilo de vida sex-drugs-rock’n’roll e tudo mais, que passa por uma ressignificação espontânea sob o crivo e a poesia de Spillers e seus amigos. Ou seja, é emoção genuína, com ares “vintage”, mas que funciona hoje. Há uma diferença essencial entre ouvir e ver uma banda de rock veterana e um grupo de jovens, abaixo dos trinta, num palco. Se o som é esteticamente semelhante – e é, claro – a identificação é totalmente diferente e isso é uma das maiores características do grupo de Derbyshire. E mais: Adam Slack, Jed Elliott e Gethin Davies, os demais integrantes dos Struts, são ótimos músicos. Além disso tudo, o bom humor também é um elemento essencial. Ou seja, os sujeitos não querem apenas se divertir e cair na farra, eles querem fazer isso oferecendo ótimas canções e uma continuidade nesta tal “linhagem rock”.

 

As onze faixas de “Pretty Vicious” são redondíssimas e exibem, todas, um impressionante senso de composição. Todas têm refrãos infecciosos, ótimos arranjos e um olho muito bem fixado no potencial pop que a empreitada pode ter. Onde grupos similares – e muito bons – como Rival Sons, investem um certo hermetismo rocker limitante, os Struts abraçam o quadro completo, sem a atitude séria e vetusta. Tampouco são um grupo que enfatiza muito mais a imagem ou somente a diversão, como os italianos Maneskin. Há estofo, há conteúdo além das páginas de editorais de moda. Guardando as proporções, os Struts evocam uma certa semelhança factual com o surgimento dos Black Crowes no início dos anos 1990. Assim como a banda dos irmãos Robinson, os ingleses têm fluência em vários aspectos do espetáculo rock e o fato de não ignorar o potencial do estilo como uma fonte de entretenimento os coloca em posição privilegiada no atual páreo.

 

Mas, e as canções? Pois bem. É bom que você esteja ciente de que estará diante de um pequeno desfile de hard rock setentista ressignificado. Há vários momentos de inegável talento da banda, tanto na execução, quanto na composição de tudo o que está aqui. Tem faixas irrepreensíveis, como “Remember The Name”, que mistura Rolling Stones e Def Leppard em doses quase iguais, com um resultado incandescente. Tem o single “Rockstar”, que lembra algo do Queen, fazendo reflexão sobre as agruras de se expor num palco e estar sempre bem e disposto para encarnar o tal “espírito rock”. Tem “Too Good At Raising In Hell”, belezura cheia de riffs bacanas e tem uma adorável prova de fluência absoluta no rock enquanto momento de catarse: “Do What You Want”. E tem, a meu ver, a maior prova de talento que uma banda pode ter: baladas. Os Struts entregam dois ótimos espécimes – épicos, sentidos, com arranjo de cordas e interpretação derramada, que atendem pelos nomes de “Bad Decisions” e “Somebody Someday”. Tudo encaixa, tudo funciona.

 

“Pretty Vicious” é, sem trocadilhos, viciante. É disco bem resolvido, objetivo e muito divertido. Dê espaço para os Struts em seu coração, você não vai se arrepender.

 

 

Ouça primeiro: “Remember The Name”, “Rockstar”, “Do What You Want”, “Somebody Someday”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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