The Struts – Strange Days

 

 

Gênero: Rock

Duração: 43 min.
Faixas: 10
Produção: The Struts, Jon Levine
Gravadora: Interscope

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

“Strange Days”, terceiro disco dos Struts, foi gravado em dez dias, na casa do produtor Jon Levine, em Los Angeles. O quarteto inglês rumou para lá com a ideia de registrar as faixas do novo álbum, todas compostas em meio à pandemia. Fizeram contato com alguns colaboradores legais – Tom Morello, Albert Hammond Jr, Joe Elliott, Phil Collen e Robbie Williams – e se saíram com um dos trabalhos mais legais deste 2020 tão … estranho. O título e o espírito do disco abraçam esta época esquisita e oferecem uma boa golada deste hard rock pop que os sujeitos tão bem sabem fazer e que, diria eu, está em franca evolução. Se os Struts já tinham demonstrado inteligência e bom humor na condução deste estilo tão dado a paródias bobas – vide The Darkness – aqui eles reafirmam outra instância: a ótima capacidade de compor ótimas canções. Os arranjos são perfeitos e a belezura de algumas canções colocam a banda no proverbial “outro patamar” dos congêneres de plantão.

 

Jon Levine, o sujeito que produz o disco junto à banda, é um cara com experiência no pop atual, ou seja, não tem tanta malemolência rocker mais tradicional o que, acho eu, acaba se transformando num trunfo do álbum. Porque “Strange Days” é um trabalho em que a ênfase é dada aos ganchos irresistíveis que os Struts vão arremessando na cara do ouvinte. Claro, há guitarras por todos os cantos, pianos aqui e ali, e a voz de Luke Spiller, um dos grandes vocalistas em atividade no ramo. Só que a fluência pop da quase totalidade das faixas aponta para um trabalho muito bem pensado, que mistura o otimismo diante da pandemia com essas timbragens e revisitas a dinâmicas setentistas e oitentistas de hard rock – com laquê, sem laquê – que o grupo promove. Ou seja, é um disco pop, com ótimos decalques de rock classicão do posto, algo que não é fácil de fazer e que não precisa parecer uma piadinha para funcionar. Aqui é tudo de verdade.

 

“Strange Days” tem elementos que caracterizam um ótimo disco. Tem uma cover bem mandada de “Do You Love Me”, do Kiss fase “Destroyer”, bem tocada e inflada na medida certa de timbres e guitarras. Tem participações especiais que funcionam, como Joe Elliott e Phil Collen (ambos do Def Leppard), que turbinam “I Hate How Much I Want You” ou como Albert Hammond Jr, que dá cores interessantes a “Another Hit Of Showmanship” e Tom Morello, que oferece seus timbres guitarrísticos mais manjados em “Wild Child”, que é legal, mas poderia até ser melhor. E tem Robin Williams, que surge logo na abertura do álbum, com a faixa-título, que poderia ser uma balada mais polida, mas padece de um arranjo confuso e chega a atrapalhar um pouco. Porém, é nas faixas em que o grupo surge sozinho e on fire que o álbum funciona às mil maravilhas.

 

Há uma trindade de pequenos clássicos presente: “Cool”, a melhor do álbum, com seis minutos de duração, é uma submissão de riffs stoneanos a um grande grill pop, no qual tudo funciona, inclusive com a banda mostrando malandragem na execução dessa musicalidade tão precisa. Tem “All Dressed Up (With Nowhere To Go)”, que tem alguma pegada de guitarras próximas ao AC/DC mais oitentista e mesmo uma baladaça, que oscila entre tinturas próximas ao que os Faces faziam e que os Black Crowes homenageavam, que é “Burn It Down”. Além deste trio sensacional, há a crocância pop/glam de andamento à la “Modern Love”, chamada “Can’t Sleep” e uma canção que lembra até a fase “Long Run” dos Eagles, “Am I Talking To The Champagne (Or Talking To You)”, que flui que é uma belezura.

 

Este disco é uma boa amostra de como estes chavões roqueiros, estes códigos, estas marcas sagradas do estilo ainda continuam vivos e dispostos a abrilhantar canções bem escritas e bem pensadas. Os Struts mostram talento e inteligência ao se apossar deles com tanta eficiência, saindo-se com um dos melhores discos de 2020.

Ouça primeiro: “Cool”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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