Nine Inch Nails lança dois álbuns de graça
Trent Reznor e Atticus Ross soltaram nas redes sociais dois álbuns instrumentais, “Ghost V: Together” e “Ghost VI: Locusts”. Junto com os links para download gratuito, a dupla postou uma nota para os fãs no site oficial:
Amigos,
Tempos estranhos …
À medida que as notícias parecem cada vez mais sombrias, nos vemos oscilando entre a sensação de que, às vezes, há esperança e o desespero total – muitas vezes mudando de minuto para minuto. Embora cada um de nós se defina como pessoas anti-sociais, que preferem ficar sozinhas, essa situação realmente nos fez apreciar o poder e a necessidade de conexão.
A música – seja ouvindo, pensando ou criando – sempre foi a chave para que superássemos qualquer situação – boa ou ruim. Com isso em mente, decidimos ir em frente e completar esses novos registros de nossa série “Ghosts” como forma de nos mantermos um pouco saudáveis.
“Ghosts V: Together” é um disco que serve para quando tudo parece estar bem. Já o “Ghost VI: Locusts”, bem, vocês irão descobrir.
A música sempre foi uma maneira de nos sentirmos menos sozinhos no mundo … e espero que isso aconteça com vocês também. Lembrem-se, todos estamos nessa coisa juntos e isso também deve passar.
Esperamos vê-los novamente em breve. Sejam inteligentes e cuidem-se.
Com amor,
Trent & Atticus
Ambos são discos que mostram esta faceta instrumental e climática do Nine Inch Nails, enfatizada ao longo dos anos 2010, quando Atticus – produtor e trilheiro de cinema premiado – passou a colaborar com Trent Reznor. Isso fez com que a banda ganhasse em profundidade, conferindo mais versatilidade e repertório de sonoridades.
“Ghost V” é um disco mais luminoso e leve. Tem muitas faixas que tangenciam a ambient music, mas não são devedoras do que Brian Eno ou similar faria. São longas passagens instrumentais, minimalistas e que evocam espaços abertos, mas Reznor e Ross cuidam para, de tempos em tempos, inserir algum ruído que parece mecânico, meio a estas longas imersões ambientais, causando sensação de pânico e tensão iminente. É um bom tempero para evocar o clima que temos vivido em tempos de reclusão.
“Ghost VI”, por sua vez, já é uma obra muito mais sombria e barulhenta. Já temos a presença de guitarras e efeitos eletrônicos que erguem um pouco do que o NIN faz normalmente – música obsessiva e claustrofóbia, porém fascinante. Mesmo que este trabalho seja mais relacionado com as sonoridades clássicas, ainda acho que a tensão insinuada em “Ghost V” é mais interessante.
Ambos os registros são lançamentos típicos dos tempos virtuais. É uma forma, como disse a nota que acompanhou os links, de estreitar o vínculo com os fãs e lançar algum material novo para que seja ouvido e decodificado. No caso dos dois discos, a ideia é boa e o ato é bastante legal. Porém, em tempos anteriores, da indústria musical como a conhecíamos, provavelmente estas faixas ficariam engavetadas em algum HD portátil.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.