Neil Young and Crazy Horse – Colorado
Gênero: Rock
Faixas: 10
Duração: 50 minutos
Produção: John Hanlon e Neil Young
Gravadora: Reprise
Em tempos como os atuais, um disco nota 7 de Neil Young é tudo o que podemos querer, certo? Pois este é “Colorado”, um álbum suficiente para o velho canadense passar de ano sem prova final. Talvez seja o melhor lançamento dele desde “Prairie Wind”, de 2006, que era, veja só, outro disco regular. É que Young tem um fraco por mudanças radicais de um álbum pra outro e, neste espaço de tempo, ele produziu um monte de gravações que esbarraram em limitações estéticas e em colaborações mal ajambradas. A única bem sucedida talvez tenha sido com Daniel Lanois em “Le Noise”, de 2010, um álbum que é meio único em seu estilo e proposta. O velho Young, empoeirado, envelhecido, uma espécie de Clint Eastwood da guitarra é esse aqui, com sua voz roufenha e rugido inconfundível. E isso é bom.
Discos de Neil Young com a Crazy Horse tendem a ser melhores que os outros. Aqui a veterana banda de apoio está presente em quase sua totalidade, ficando de fora o guitarrista Frank Sampedro, por opção própria. Para seu lugar foi recrutado o igualmente ótimo Nils Lofgren, que integra a E Street Band de Bruce Springsteen, mas que já colaborou com Neil no passado. Ele confere uma importante mudança no panorama guitarrístico do álbum, oferecendo ao velho uma regularidade melódica e discrição que fazem a diferença no final, temperando um pouco o trovão de seis cordas que é Young em sua Gibson negra. E ele está presente em cada faixa, o que é sensacional.
Young tem um fraco por épicos e há um em “Colorado”, a segunda faixa, “She Showed Me Love”, que tem mais de treze minutos e meio de repetição mântrica do refrão-título, em meio a tempestades de solos e licks de guitarra, mas que mostra em seu início uma melodia característica da doçura folk do velho, uma persona sua que parece sumida nos últimos tempos. Mas este não é um disco folk ou brando. Aqui temos Young meditando sobre seus temas favoritos, passando do amor – ele vive um novo casamento, com a atriz Daryl Hannah – à política e preocupação com o meio ambiente, usando suas canções para expressar suas opiniões e pontos de vista.
Neste modelo formal, surgem belas canções. “Olden Days” é uma pequena ode à amizade ao seu significado após muitos anos. A melodia é tocante, os vocais agudos ajudam na noção de fragilidade, ou seja, Young típico e feliz. Há rockões em câmera lenta, como “Rainbow Of Colour” e “Help Me Lose My Mind”, com o velho declamando a letra em meio a guitarramas mil. “Green Is Blue” é libelo sobre o meio ambiente e a necessidade de cuidarmos do planeta, vindo de alguém com muita autoridade neste terreno. “Shut It Down” é porrada na lata, perpetrada por velhos lobos do asfalto, enquanto “Milky Way” é uma quieta e reflexiva canção sobre o amor e com o belo verso: “She was lookin’ like a friend of mine, the first time I saw her face”. “Eternity” tem Young ao piano, algo raro e sempre bom de se ouvir. O fecho vem com “I Do” e soa quase como uma canção de ninar, lembrando um pouco da impressionante “The Old Laughing Lady”, de … 51 anos atrás.
Neil Young é um sujeito prolífico e cheio de ideias. Como crítico musical e fã de seu trabalho, já estava particularmente irritado de ouvir tanto disco fraco. Com “Colorado” ele mostra que ainda tem lenha pra queimar e o que dizer.
Ouça primeiro: “Olden Days”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.