“Discos que moldaram meu caráter”

 

 

Você, que tem redes sociais, já deve ter visto: alguém te chama para participar de um desafio no qual a missão é mostrar dez discos que “moldaram seu caráter”. O cara ainda diz: “não precisa explicar, apenas poste as imagens e marque um amigo”. É o que você faz. E os amigos vão marcando outros amigos até que TODO MUNDO parece estar enumerando discos que “moldaram seus caráteres”. Ontem eu finalizei três desafios destes, unificando as postagens e marcando os meus solicitantes. Pouco antes disso, já fora marcado por um amigo e respondera postando todos os discos ao mesmo tempo. Enfim, é quase inescapável. Um fato que me chamou a atenção é que todo mundo parece ter nascido ouvindo os clássicos da música pop, não? É um tal de “London Calling” (The Clash”, “Abbey Road” (The Beatles”, “Low” (Bowie), “Music For Airports” (Brian Eno) que eu fico pensando que só conheço prodígios da apreciação musical-universal.

 

Sendo assim, resolvi fazer justiça aos álbuns que nos levaram a gostar dessas obras mais complexas. Aquelas trilhas sonoras de novela, de filme, coletâneas diversas, discos de artistas que não são “bem vistos” pela lógica superior que norteia as postagens em redes sociais…Não é justo que vocês queiram convencer a gente de que começaram já sentados na janela, como diria Romário. Todo mundo amargou tempos enormes nas trevas da formação do gosto musical. Bora desvendar estes mistérios constrangedores.

 

Em tempo: vou postar os meus, você tem os seus e fará as analogias necessárias.

 

– Hooked on Classics I (1981) – foi uma febre midiática quando esta coletânea de pot-pourris de obras da música clássica surgiu em 1981. Teve clipe no Fantástico, virou presente de Natal, enfim, se espalhou como uma praga, mas eu ainda acho sensacional até hoje. É Royal Philharmonic Orchestra devidamente regida por Louis Clark, arranjador e maestro que chegou a fazer parte da Electric Light Orchestra até 1981, ano em que gravou “Hooked…” em … Abbey Road.

 

 

 

– Sua Paz Mundial,  vol.8 (1979) – coletâneas de hits eram obrigatórias na discoteca de todo fã de música em processo de formação. Essa aí era uma belezinha e eu devo ter pedido para minha mãe comprar porque trazia uma música que eu amava: “Radiation Level”, do grupo funk Sun. Além dela, tinha outros colossos como “It Must Be Love” (Alton McClean e Destiny), “Bandido” (La Bionda) e a sensacional “Hooray Hooray It’s A Holi-Holiday”, do indizível Boney M.

 

 

 

– New York City Discothéque (1976) – outra coletânea, neste caso, de disco music, que minha mãe adorava – e eu também. Neste caso, ela já existia lá em casa – eu tinha 5 anos – e eu dançava como um maluco na sala ao som de “The Best Disco In Town”, da Ritchie Family. Também tinha Diana Ross e Eddie Kendricks aqui, uma lindeza.

 

 

 

– Dancing Days – Trilha Sonora Internacional (1978) – sim, este era eu, completamente fã de disco music por conta da minha mãe. Lembro de ver a famosa novela de Janete Clair, com Sônia Braga no papel de Júlia, desde sua saída da prisão até sua reinvenção como disco dancer. No meio do caminho, uma torrente de belezas dos Bee Gees, do Genesis e a ótima “Boogie Oogie Oogie”, da banda Taste Of Honey.

 

 

 

– Pai Herói – Trilha Sonora Internacional (1979) – esta trilha começou a abrir meus ouvidos para algo além da disco music. Ela trazia Dr Hook (“Sharing The Night Together”), Alice Cooper (“How You Gonna See Me Now?”), Sally Oldfield (“Mirrors”) e a sensacional “Sun Is Here”, outra faixa do sensacional grupo de funk Sun.

 

 

 

– Billy Joel – 52nd Street (1978) – disco do cantor, pianista e compositor americano, cujo hit “My Life” fazia parte da trilha da novela “Feijão Maravilha”. O problema é que – como em todas as trilhas – as canções precisavam ser “encurtadas” para que coubessem no curto espaço do vinil. Eram 15, 16 faixas, então era preciso colocar o “fade out” em várias situações, amputando a canção. Isso me fez pedir que meu avô comprasse o disco do BJ na Moto Discos, para que eu pudesse ouvir a música inteira. Outra canção desta trilha, vítima deste expediente, foi “Cuba”, dos Gibson Brothers, mas eu nunca achei o disco deles.

 

 

 

– Barry White – The Man (1978) – como vocês podem notar, eu comecei a me interessar por música bem cedo, lá pelos oito anos de idade. E, por conta desses traumas com versões reduzidas das canções, eu me apaixonei por gravações longas, enormes. Este disco do Maestro do Amor é um tesouro para quem ama este tipo de canção. Ainda tenho hoje em CD e considero o antigo lado A uma sequência de maravilhas aveludadas e sensacionais.

 

 

 

-Robert Carlos (1979) – este é o álbum que tem “Na Paz Do Seu Sorriso”, uma das canções mais tocadas naquele ano de 1979 e que me fazem lembrar do meu avô, que adorava o Rei e comprava seus discos regularmente. Essa música tocava no rádio sempre que a gente ia do Rio para Petrópolis, é impossível ouvi-la e não lembrar daquele tempo tão distante.

 

 

 

 

– Michael Jackson – Off The Wall (1979) – qualquer casa que não tenha tido um exemplar deste disco, eu já desconfio logo de cara. Era absolutamente irresistível ver MJ em ação naquele tempo, era novo, era legal, era quase um super-herói para um moleque de nove anos.

 

 

 

– Michael Jackson – Thriller (1982) – o sucessor de “Off The Wall” foi ainda mais contagiante e sensacional, aumentando o poder de fogo de Michael para todo o planeta e para outros setores da música pop. Até hoje este é um marco absoluto das festas de Natal, quando TODO MUNDO dava e recebia uma cópia de “Thriller”.

 

 

– Cassino do Chacrinha (1984) – o programa do Chacrinha passou a ser exibido na Rede Globo em 1982 e, a partir daí, se tornou um dos maiores palcos para exibição de artistas brasileiros. Em 1984, a coletânea anual do programa mirava o mercado, trazendo vários sucessos de grupos de rock emergentes, como Titãs, Kid Abelha, Blitz e vários outros.

 

– Sambas de Enredo – Escolas de Samba do Grupo A (1984) – este disco foi adquirido por mim apenas para que tivéssemos em casa o samba-enredo da Mangueira, Supercampeã daquele ano, no primeiro desfile do Sambódromo, defendendo o enredo “Yes, Nós Temos Braguinha”.

 

 

– As Aventuras da Blitz (1982) – quem era pré-adolescente naquele verão de 1982 não passou incólume pela Blitz. O grupo estava em toda parte e eu lembro que até minha professora de inglês cantava “Você Não Soube Me Amar”. Era impossível não se apaixonar pelas vocalistas e não querer fazer parte daquele grupo, que parecia saído de um desenho animado.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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