Muito mais que a banda do filho do Bono
Inhaler – It Won’t Always Be Like This
Gênero: Rock alternativo
Duração: 45:20 min.
Faixas: 11
Produção: Antony Genn
Gravadora: Universal
Inhaler é a banda que tem como vocalista Elijah Hewson. Manjou o sobrenome do rapaz? Sim, ele é o filho de um certo Paul Hewson, irlandês, também cantor numa banda de rock, conhecida como … U2. Agora, 41 anos depois de sua estreia, com “Boy”, Bono vê seu primogênito liderando um grupo e começando uma carreira musical com um disco bem bacaninha. Este “It Won’t Always Be Like This” mostra que a Ilha Esmeralda, mais precisamente, a cidade de Dublin, tem uma cena musical bem forte e que pipoca bandas aqui e ali, ainda que a sonoridade do Inhaler esteja mais para Killers e, vejamos, Snow Patrol, do que para Fontaines DC e similares. É uma escolha estética que Elijah e sua turma fazem com consciência e que executam muito bem, diria até, surpreendentemente bem. Esta estreia é um daqueles álbuns que não tem faixa ruim, tudo funciona direito e há uma abundâncida surpreendente de bons momentos. Senão vejamos.
Além de Elijah, o Inhaler tem Josh Jenkinson (guitarras), Robert Keating (baixo) e Ryan McMahon (bateria), todos na casa dos 20 anos, rezando na cartilha daquela sonoridade pós-punk oitentista e suas ressignificações ao longo das décadas seguintes. Então dá pra dizer que temos influências de Blondie, Elastica, Killers e, claro, U2, até porque a voz de Elijah é parecida com a do pai, mas não dá pra dizer que o rapaz está imitando um modelo consagrado. É apenas uma semelhança, que pode ser grande ou menor, dependendo da canção. O que importa é que esta estreia do Inhaler mostra que a banda tem competência de sobra para ser muito mais do que “o grupo do filho do Bono”. As canções têm coesão, melodia, a produção – Genn já fez parte do Elastica e do Pulp, manja do assunto – é redondinha e enfatiza a modernidade dos moleques. O rock é a principal via de expressão musical, mas eles não perdem o pop de vista, mas não o modelo plástico atual, aquele pop-rock noventista, oitentista. E tudo tem bom gosto por aqui.
Este é um disco otimista e cheio de guitarras. Josh Jenkinson não é um prodígio, mas sabe bem o que está fazendo por aqui, ou seja, um rock pra espaço aberto, com ganchos radiofônicos e melodias parrudas. A faixa-título, que abre o álbum, é um exemplo que parece decalcado de algum manual dourado. Ela é absolutamente perfeita, intercala drama e otimismo, olhando para o futuro com positividade, mas carregando na melodia maravilhosa, coisa de gente muito grande e habilidosa. Sim, essa parece uma cruza de U2 e Killers baixos teores, mas, oras, se todo mundo chupinha Bono e cia, por que não o filho não o faria? E Elijah recorre pouquíssimo a esse expediente. A segunda canção, “My Honest Face” lembra algo que parece com “Major Tom”, faixa do germano-suíço Peter Schilling lá nos anos 1980, que fez sucesso mundial. Aqui a melodia em alta velocidade e o arranjo favorecem demais o êxito da canção, outra pequena maravilha presente no disco.
Como falamos, há essa preocupação com o pop ao longo do álbum. Um bom exemplo é “Slide Out The Windows”, que tem cascatas de teclado e batidinha eletrônica, de olho no público mais romântico. O vocal de Hewson aqui transita num âmbito de Julian Casablancas menos afetado, mais leve. A “Night On The Floor” também vai por este caminho mais de batidas e ritmos cadenciados. Essas canções e “Cheer Up Baby” respondem por esse lado mais sutil, ainda que a segunda se valha das guitarras e instrumental mais próximo do rock, com boa performance vocal de Elijah. Mas, repito, esses momentos são minoria. A maior parte do álbum mostra o bom senso dos rapazes em dosar essas pegadas e um ótimo exemplo de equilíbrio nessa mistura está no single “When It Breaks”, que tem drama, guitarras e ótimos vocais. O fecho com “Who’s Your Money’s On?” é próximo da perfeição.
Eles não são os primeiros e certamente não serão a última banda de guitarra, mas Hewson está claramente se esforçando para fazer muito mais do que apenas deixar o papai orgulhoso. Sua estreia está repleta de energia e tenta encontrar sentido num mundo virado do avesso. Funciona.
Ouça primeiro: “When It Breaks”, “My Honest Face”, “It Won’t Always Be Like This”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.