E esse disco novo da Lorde, hein?

 

 

 

Lorde – Solar Power

Gênero: Pop alternativo

Duração: 43:13 min.
Faixas: 12
Produção: Lorde, Jack Antonoff
Gravadora: Universal

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

Fui ouvir o novo disco da Lorde, “Solar Power”, como quem vai para o encontro com a verdade absoluta. Pelo menos foi isso que a crítica gringa/millennial disse do álbum. Que era a confirmação de um talento exuberante, que redefinia a linguagem do pop atual, que conferia à cantora e compositora neozelandesa um status nunca sonhado por ela e daí pra frente. Pensei que, para tal naipe de elogios apaixonados, turbinados pelas aparições praianas da outrora sombria moça, o reboliço se justificaria pela inevitável parte sonora. Pois fiquei um tanto decepcionado ao constatar que todo este trelelê era por um feixe de canções razoáveis, movidas por uma aura solarzinha/ecossustentável que já habitava os primeiros singles de Nelly Furtado. Ou por uma leve inquietação/postura diante da vida com o mesmo olhar feminino urbano de uma Natalie Imbruglia. E só. A coisa não vai muito além disso. Chato, né?

 

Dito isso, é bem legal a gente ouvir a Nelly de “I’m Like A Bird” ou a Natalie de “Torn”, duas canções bacanudas que, por sua vez, já reciclavam uma certa abordagem pop eletrônica-acústica-radiofônica no fim dos anos 1990, início dos anos 2000, que aliava bom gosto, boa canção e uma produção esperta o suficiente para aproveitar o talento dessas moças como compositoras e vocalistas, além de sua beleza visual e o seu aproveitamento em clipes e shows. E o “Solar Power” da Lorde é nada mais que um descendente desta linhagem, deste jeito de fazer pop naquele momento específico do tempo, algo que foi devidamente deixado de lado pouco depois e ninguém sentiu muita falta. Sintomaticamente, as carreiras de Nelly e Natalie não foram muito além disso. Nelly ainda teve um outro momento de estrelato, já bem diferente do início da carreira, mas, no caso da cantora australiana, seu prestígio lá no Down Under, acaba justificando a admiração que Lorde tem por ela. Convenhamos, é bem pouco para tanto alarde, gente.

 

Só para comparar, no mesmo nicho pop feito por mulheres, temos dois álbuns massivamente melhores que o da neozelandesa: os novos de Olivia Rodrigo e, especialmente, o novo da Billie Eillish. Simplesmente não tem como comparar estes trabalhos, mais densos, mais vivos, com esta viagem bicho-grilo de startup que Lorde empreende aqui. Seus dois álbuns anteriores, “Melodrama” e “Pure Heroine”, são mais legais e têm mais a dizer que o feixe de canções que compõem “Solar Power”. Não consigo vê-las funcionando nos mesmos espaços de show que Lorde costuma frequentar, são intimistas num nível que impede o contato com o grande público e têm uma mensagem de vida/postura que é até contrária a essas grandes apresentações diante do público. Mas, claro, posso estar bem errado e a neozelandesa sair por aí com um show totalmente focado nessa nova fornada de canções.

 

Pra não dizer que o disco é totalmente decepcionante, há três canções que são legais, entre elas, o single “Solar Power”. As outras são a ótima “The Path”, que engana o ouvinte logo de cara, fazendo-o pensar que vai entrar num disco ensolarado e sem muita preocupação e não num diário de descobertas feitas a partir de um monte de condições pré-programadas, como sumiço das redes sociais, tempo passado em contato com a natureza e tudo mais. O outro bom momento é “Fallen Fruit”, que tem uma boa trama de violões, vocais de apoio e teclados, mas que lembra excessivamente a Nelly Furtado da qual falamos acima. A produção de Jack Antonoff, parceiro de Lorde nos discos anteriores, amarra bem o conceito e entrega, provavelmente, o que lhe foi solicitado. Compentente e respeitosa. E só.

 

“Solar Power” tende a chamar mais atenção por conta do seu clima sugerido, de suas imagens e de algo que vá além de sua música. Neste campo, ele é derivativo, chato e meio sem sentido. Seria mais legal se Lorde tivesse feito um filminho, algo assim. E, a partir disso, enfiado um EP de canções inéditas no meio. Como álbum completo, ele não se sustenta lá muito bem.

 

Ouça primeiro: “Fallen Fruit”, “The Path”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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