Dread Zeppelin – mais que uma boa piada

 

 

Em primeiro lugar, vou contradizer o título deste texto. Sim, o Dread Zeppelin era uma boa piada, que só funcionou até o primeiro disco, o ótimo “Un-Led-Ed”, de 1990. Porém, quando surgiu, a simples descrição dos sujeitos fazia o mais sisudo dos seres cair na gargalhada: uma banda da Califórnia (de onde mais?) que tocava canções do Led Zeppelin em ritmo de reggae, com um vocalista que era imitador da fase Las Vegas de Elvis Presley. Ou seja, era um encontro de três influências que, a princípio, não se comunicavam em nada. Porém, uma boa olhada revela que, sim, reggae e Elvis Presley não eram assuntos tão estranhos para o Led Zeppelin em sua história. Mas não é do Led que estamos falando, mas desta gente louca que surgiu do nada e desapareceu tão rápido quanto. O Dread Zeppelin tem vários discos lançados, mas apenas “Un-Led-Ed” merece atenção. É o único que tem o line up original, o único que é composto apenas de covers reggae do Led Zeppelin e aquele em que a banda está mais afiada.

 

 

Aliás, é bom dizer: neste primeiro registro, tanto músicos quanto o produtor e tudo envolvido com o som, funciona que é uma beleza. Ou seja, é ótimo rir ao mesmo tempo que se ouve um ótimo disco. E, bem, o vocalista Tortelvis soa como uma revelação hilariante, seja nos talentos com sua voz, seja na sua imagem de Elvis decadente e balofo.

 

 

O grupo surgiu em Pasadena, Califórnia, quando Gary Putman, Curt Lichter e Joseph Ramsey encerraram as atividades de seu grupo, The Prime Movers, em 1989. Ramsey tinha a ideia de montar um grupo que tocasse versões de Led Zeppelin em formato reggae, já tendo em mente o nome Dread Zeppelin. Então, devidamente rebatizados de Put-Mon, Cheese e Jah Paul Jo, os três recrutaram mais um guitarrista, Carl Haasis, que virou Carl Jah e o vocalista Greg Tortell, que, sabemos bem, tornou-se Tortelvis. Fechando a escalação, o grafiteiro Bryant Fernandez, que adotou a alcunha de … Ed Zeppelin. O primeiro show desta gente foi em 8 de janeiro de 1989, data do aniversário de número 54 do Rei do Rock. Com a repercussão imediata, o grupo assinou com a gravadora Birdcage, começando a gravar uma versão doida de “Immigrant Song”, com a produção de Lee Manning, que adotou o nome de Rasta Li-Mon e os levou para o Encino Studios, no qual trabalhava. Este era o estúdio do guitarrista e produtor Dave Stewart, do Eurythmics.

 

 

Com o sucesso impressionante do primeiro single, o Dread Zeppelin voltou para gravar “Whole Lotta Love”, outro sucesso do grupo inglês, chamando a atenção do selo IRS, que os contratou, abrindo espaço para a gravação do primeiro álbum, “Un-Led-Ed”, lançado em 24 de julho de 1990. Além dos dois singles, o disco trazia mais oito canções, sete delas pertencentes aos primeiros dois álbuns do Led, e “Black Dog”, do quarto álbum, que abria “Un-Led-Ed” num medley sensacional com “Hound Dog”, sucesso que Elvis gravou ainda no início de sua carreira. O resultado é Tortelvis misturando tudo e entoando o refrão “You ain’t nothing but a BLACK DOG”, em meio a latidos, subvertendo os originais e gerando uma das várias hilariantes mudanças e tirações de sarro que estão ao longo das dez faixas.

 

 

Falando em faixas, não há nenhum erro ou excesso no álbum. Tudo é muito bem produzido e gravado, mostrando que os integrantes do Dread eram bons de instrumentos, especialmente a dupla de guitarristas, Jah Paul Jo e Carl Jah, que se alternam na base e em solos surpreendentes. “Heartbreaker” é um dos destaques, especialmente por esta alternância de dinâmica de guitarras, além da ótima performance vocal de Tortelvis. Do meio pro fim, repetindo o conceito de “Black Dog/Hound Dog”, a banda mistura “At The End Of The Lonely Street”, do filme “Heartbreak Hotel”, mudando tudo e dando ao público uma criatura absolutamente nova. Outra canção que se favorece muito na transposição para o reggae é “Living Loving Maid”, faixa meio esquecida de “Led Zeppelin II”, que faz bonito por aqui.

 

 

Há que se destacar, no entanto, a maravilha que é a releitura do Dread para “Your Time Is Gonna Come”, que foi elogiada pelo próprio Robert Plant, que admitiu que o registro original do Led era inferior a esta versão. Além dela, “Whole Lotta Love”, lançada como segundo compacto pela banda, é, de fato, o melhor momento do álbum. Tudo funciona nela, desde o manjadíssimo riff de guitarra à dinâmica das guitarras e às intervenções de backing vocals malucas, sem falar no intervalo de percussão rasta proporcionado pelo louquíssimo Ed Zeppelin. E, sim, “Immigrant Song”, a primeira faixa registrada pelo grupo, com seu refrão gritado, que costumava ser misturada com “War”, de Edwin Starr, em apresentações ao vivo.

 

 

O grupo já sofreria mudanças no line up para o disco seguinte, o fraco 5000000 fans Of Tortelvis Can’t Be Wrong”, no qual incluiu uma versão para “Stir It Up”, de Bob Marley e quatro canções originais, além de uma maioria de outras canções do Led Zeppelin. A piada já fora contada e, mesmo ótima, já rendera o que podia. Mesmo assim, “Un-Led-Ed” fica como um registro sensacional desta virada de década de 1980/90, em que o rock alternativo americano dava crias tão distintas quanto Nirvana, Pixies, Sonic Youth e … Dread Zeppelin. Ouça e adore.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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