O pop retro-futurista de Peel Dream Magazine

 

 

 

Peel Dream Magazine – Pad
43′, 15 faixas
(Slumberland)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Você já parou para pensar no futuro? Certamente é um pensamento recorrente, tentar imaginar como as coisas serão no porvir e, a partir disso, traçar objetivos e metas. Digo isso porque, assim como o tempo vai em direção ao próprio futuro, as maneiras de imaginá-lo também variam de tempos em tempos e tal perspectiva, ainda que pareça lógica e simples, pode ser bem complexa e difícil de se ter. Cada época tem seu jeito de olhar para o futuro e a tentativa de visualizar os tempos que virão é alimentada por informações e desejos do tempo em que ela é feita, certo? Por exemplo, a visão que temos de futuro hoje, 2022, é bem diferente da que tínhamos em, vejamos, meados dos anos 1950.

 

 

Lá, algumas décadas atrás, o mundo era permeado pela euforia do capitalismo x o perigo socialista, dando origem à Guerra Fria, à Corrida Espacial e vários momentos de prosperidade material ao redor do mundo, seja nos Estados Unidos, seja em países como o Brasil. Ou você acha que o período chamado “Anos Dourados” aqui era algo casual? E foi nesse tempo que a nascente cultura pop, especifiamente a música pop, olhou para o futuro e pensou em como seria o som no “ano 2000”. Daí surgiram estilos como a exotica, as variantes pop latinas, o chamado “bachelor pad”, que era a promoção de todo e qualquer som que pudesse ser tocado em aparelhagens estéreo super-avançadas para aqueles tempos, tudo mais ou menos embalado num rótulo, o “space age pop”, ou “pop da era espacial”.

 

 

Esta introdução com pinta de aula de História serve para tentar definir a sonoridade que Peel Dream Magazine imprime neste seu novo álbum, “Pad”. O cérebro por trás do nome é do multi-instrumentista Joseph Stevens, que, desde o início de sua carreira, persegue o modelo de homenagem a este pop futurista feito pelos anglo-franceses Stereolab, no início dos anos 1990. Só que, como o tempo se dobra, a busca do Peel Dream Magazine se tornou duplamente retro-futurista, resgatando hoje, 2022, cerca de 30 anos após as incursões do Stereolab (e de outras bandas revisionistas, com o High Llamas), este modelo de música que olha para um futuro que nunca aconteceu e que se deslocou para o passado. O vai-e-vem no tempo é fascinante e a música feita em “Pad” acaba recebendo o formato que flertava com esta ambiência futurista, sem abrir mão da atualidade dos temas de hoje, sempre colocando uma visão otimista e sonhadora.

 

 

As sonoridades de “Pad” também devem muito a um fã do pop futurista do início dos anos 1960, Brian Wilson, que levou muito desses timbres e sonoridades para os discos mais experimentais dos Beach Boys, especialmente “Pet Sounds”. Desta forma, é absolutamente familiar detectar timbres e paisagens sonoras familiares em canções belas como “Not In The Band” ou a faixa-título, sem falar nas adoráveis concessões a temas como a melhoria individual num mundo competitivo (“Self-Actualization Center”) ou a formas alternativas de lidar com a pressão e a tensão diárias (“Reiki”, “La Sol”), sempre mantendo a conexão com uma visão que, se já não é futurista do nosso ponto de vista atual, mantem a identidade com a expectativa por um mundo melhor, que pode estar disponível agora, basta encontrar o caminho. O sonho, como dissemos, permanece aqui e ali, contido, temperando o todo com magia e beleza.

 

 

“Pad” é um discaço mesmo longe de seu tema retro-futurista. É um feixe de 15 canções muito bem feitas, otimamente arranjadas e alinhadas em busca de uma resposta específica. Ouça e se apaixone.

 

 

Ouça primeiro: “Not In The Band”, “Pad”, “Self-Actualization Center”, “Reiki”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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