Dave Matthews Band baixa a bola e se sai bem

 

 

 

 

Dave Matthews Band – Walk Around The Moon
42′, 12 faixas
(Bama Rags)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

Este décimo disco de Dave Matthews e sua banda não foi unanimidade entre seus fãs. Este é um dado relevante, pois os seguidores de Dave são dedicados e fieis; vão e vêm pelos Estados Unidos atrás de seus contínuos e intermináveis shows e raramente se desagradam com o que ele produz, porém, “Walk Around The Moon” não fisgou a todos. As reclamações foram quase unânimes na crítica a uma “tonalidade mais soturna” nas canções ou “uma sonoridade mais calma”. Para quem não admira a marca registrada da DMB, a saber, um suposto vigor frenético nas execuções dos arranjos, sendo eles músicos que mais privilegiam a técnica presumida mais que o talento para compor uma canção, ou mesmo usar de sutilizas nos arranjos, achei que tal reclamação por parte de quem vai a shows para “ver e ouvir músicos que tocam pra caralho”, um dado válido o bastante para justificar a audição do álbum. E, voilá, de fato é um disco diferente da DMB. E bom.

 

 

Escrito em grande parte durante a pandemia, “Walk Around The Moon” é tanto uma reflexão sobre os tempos atuais quanto um desejo de encontrar respostas sobre várias questões. Mais que isso: não é um trabalho feliz, pelo contrário. A maioria de suas doze canções originais foram gravadas com o produtor Rob Evans, incluindo a faixa-título, que foi o terceiro single do álbum a ser lançado, seguindo “Monsters” e a surpreendente “Madman’s Eyes”. Mas o fato interessante aqui é que Dave e banda operam em um tom realmente mais baixo do que o normal. O “mais baixo” não significa “pior” ou “inferior”, pelo contrário, a banda investe com mais disposição no terreno dos arranjos e da sutilezas, algo que a gente não está acostumado a ver quando se trata deles, pelo contrário. Não espanta a “decepção” dos fãs com este novo trabalho e o tom reflexivo das canções, mas, por outro lado, essa opção por nuances e tons menos intensos fez revelar o talento de arranjadores dos sujeitos e isso funcionou de forma surpreendentemente boa.

 

 

Os vocais de Dave, que rezam na mesma cartilha de Sting e Peter Gabriel, funcionam bem nesta nova maré de sentimentos à flor da pele. Sempre intensos, aqui eles estão mais contidos e jogam a favor desta tonalidade dominante no álbum, com resultados muito bons em momentos específicos. “Monsters”, por exemplo, o já mencionado segundo single, é uma canção bem interessante, com um arranjo de guitarras pontuais, melodia fluida e letra que fala sobre mais entendimento para “acabar com os monstros na sua cabeça”, uma tradução livre para “medo” e suas variantes cotidianas. “Madman’s Eyes”, por sua vez, é uma interessante incursão por timbres árabes, refletidos nos metais e na própria levada da canção, gerando um riff poderoso, que não faria feio em bandas de rock pesadinho. A letra fala sobre as desgraças generalizadas do mundo, especialmente os massacres em escolas dos Estados Unidos, um vício terrível daquela sociedade.

 

 

Os momentos mais bacanas de “Walk…” são, de fato, os mais contemplativos. A faixa-título fala de viagens alucinógenas, com arranjo contido mas completo para fãs da DMB, ou seja, com metais, viradas de bateria e tudo o que eles mais gostam. “Looking For A Vein” é um ótimo exemplo desta tonalidade calma, uma semi-balada dedilhada com bateria eletrônica e melodia linear, que vai em frente. “The Ocean And The Butterfly” poderia ser uma canção do Sting de 1987, mas tem um arranjo que quase emula uma melodia clássica do pop rock do início dos anos 1960, com sucesso. Mas Dave tem a noção de que o amor existe em dois planos, a saber, o pessoal e o coletivo. Se as letras aqui dialogam com a primeira esfera, uma canção faz o movimento em direção à segunda: “Singing From The Windows”, que encerra o álbum, é um convite à união espontânea das pessoas, “contra a guerra, até que ela acabe”, num modo ingênuo, mas que parece ser sincero.

 

 

Dave Matthews Band nunca foi um artista dado a sutilezas, pelo contrário. É interessante que, justo agora, pleno 2023, com o vocalista já cinquentão, resolva fazer este movimento em direção a algo menos massivo. Menos é mais.

 

 

Ouça primeiro: “Singing Fro The Windows”, “Break Free”, “Looking For A Vein”, “Walk Around The Moon

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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