Marcus King – Eldorado

 

Gênero: Blues, rock
Duração: 42 minutos
Faixas: 12
Produção: Dan Auerbach
Gravadora: Fantasy

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

O cantor e guitarrista Marcus King tem 23 anos de idade e já é um veterano. Aoso dezessete ele iniciou com a Marcus King Band e lançou três álbuns até agora, sendo que este “Eldorado” marca a sua estreia solo. Com ele está Dan Auerbach, a metade relevante dos Black Keys, que tem a manha pra descobrir esses talentos e levá-los dos undergrounds para uma audiência maior. Às vezes Auerbach é chamado para dar um polimento com sua modernidade-retrô em trabalhos de gente já consolidada, de Pretenders a Jake Bugg, mas ele funciona melhor como este mentor que amplia o espectro musical de pequenas maravilhas. Marcus é um desses casos.

 

O jovem nasceu em Greenville, Carolina do Sul e transitava pelo blues-rock de acento sulista até este disco solo. Aqui ele vai para os terrenos sacrossantos da soul music e country, algo que o faz parecer mais velho e mais experiente. A mudança de direção, na verdade, uma turbinada estilística em algo que já estava presente, é mérito de Auerbach, que é um cara fã dessa musicalidade americana aparentemente perdida. Além destes estilos clássicos, ele gosta de brincar na seara do pop americano da virada dos anos 1960/70, o que significa pensar em arranjos ricos, com cordas, órgãos, metais, algo que sempre é bonito e bem feito. Em “Eldorado” há a saudável disputa por espaço entre a crueza roots de Marcus e este polimento pop de Auerbach. A gente sai ganhando neste embate.

 

“Eldorado” é um disco natural. As canções vão surgindo, compostas por Marcus e Dan com o auxílio de compositores externos. Além deles, Auerbach recrutou algumas raposas de estúdio para dar profundidade às canções, algo que aparece em muitos momentos. O arranjo de cordas e a dinâmica white soul que surge em “One Day She’s Here” fazem sorrir o mais desesperançoso ser. O resultado é clássico mas escapa da nostalgia e da ideia de que estamos ouvindo algo velho. A voz de Marcus é um pequeno tesouro, adolescente e profunda, com versatilidade de sobra. Quando ele pula o muro do country, caso de “Sweet Mariona”, o faz com respeito e dignidade, mostrando conhecimento de causa e entendimento do que significa a narrativa/interpretação do estilo, evitando o banho de loja de gosto duvidoso que alguns contemporâneos fazem.

 

O pacote Marcus King não compreende apenas um exercício de estilo bem sucedido. O rapaz tem talento natural. Sua voz alcança níveis altos de entrega, com facilidade para atingir falsetes e graves, sempre com propriedade, escapando da ginástica vocal fake. Em “Beautiful Stranger”, por exemplo, ele entrega uma interpretação derramada, mas contida, com sentimento e elegância, em algum ponto equidistante entre o blues e o country. Em “Break”, ele dobra a voz e Auerbach reveste o resultado com pitadas instrumentais que evocam os grandes arranjos da Wrecking Crew sessentista, com a beleza modelo 1968/69 de pianos e cordas. Em “Say You Will” entram em campo as guitarras à la Robert Cray, mas totalmente sujas e malvadas. O resultado é bom e convincente.

 

Marcus King dá um passo importante em sua trajetória, deixando o trabalho com sua banda com um novo feixe de canções que mostram sua versatilidade e talento. Tudo funciona ao longo das doze faixas de “Eldorado”, uma belezura empoeirada, elegante e relevante. Ouça.

 

Ouça primeiro: “One Day She’s Here”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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