Comissão Permanente de Carnaval pode facilitar a vida dos blocos, aposta Coreto

 

 

Esta edição da Coluna Coringa vai aos bastidores – para trás do trio elétrico, do palco, da bateria – dar voz a uma associação que reúne blocos bem diferentes em estilos, mas que tocam no mesmo ritmo quando o papo é gerar condições para manter e aprimorar a festa popular.

 

O Coreto começou em 2014 como uma rede de troca entre interessados no carnaval de rua carioca e se transformou, no ano de 2018, em um coletivo com forte atuação junto a poderes públicos e outros interessados no assunto. Ao longo de sua curta trajetória (e isso é ótimo!), vem ganhando não só associados – é a maior liga da cidade do Rio de Janeiro, com 32 blocos –, mas também o reconhecimento do setor público envolvido com o carnaval e da sociedade.

 

“Trabalhamos para que nossos blocos só desfilem de forma legalizada junto aos órgãos estaduais e municipais. Ao mesmo tempo, lutamos para que as exigências e normas que hoje regem o carnaval de rua do Rio de Janeiro sejam adequadas à tradição, à história e às demandas da cidade e dos blocos”, diz Edmaro Alexandre, diretor de Relações Institucionais do Coreto.

 

O trabalho, que já não é fácil por natureza, se torna mais árduo com os desafios de praxe. Mas um ponto se destaca (e olha que nem é novidade): a necessidade gritante de mais diálogo, de mais troca, mesmo com os avanços já constatados. “A Prefeitura do Rio tem uma quantidade enorme de informações sobre os blocos, sobre todo o carnaval de rua carioca, e pode, assim como outros entes públicos, usar cada vez mais estes dados de forma estratégica para, por exemplo, viabilizar uma logística melhor”, aponta Edmaro.

 

“É preciso ter vontade real de transformar a nossa maior festa, a maior arrecadação de impostos do município com eventos, a maior atração de turistas durante o ano, na maior festa popular do mundo. Precisamos resgatar o orgulho de receber e fazer a festa. E usar esse ativo em prol da cidade e dos cidadãos cariocas”, complementa.

 

Apesar de uma parte significativa do trabalho do Coreto estar voltada para as autorizações de seus associados, não é só isso – a associação acredita que esse ano a Comissão Permanente de Carnaval Municipal, iniciativa que tem o Ministério Público Estadual à frente, se consolide. Em 2019 o poder público, as associações de blocos e as associações de moradores do Rio de Janeiro se mobilizaram para a criação do grupo, com o objetivo de desenvolver uma política de gestão, com normas claras e definidas, para legalização do uso do espaço público pelos blocos durante o carnaval e o pré-carnaval (e daqui a pouco o pós-carnaval, a julgar pelo crescimento do fenômeno). Para o Coreto, 2020 será o ano de efetiva atuação da Comissão, com eleição de seus membros e criação de subcomissões, entre outras ações.

 

“Este movimento começou bem no ano passado, mas durante os trabalhos houve muitas modificações das demandas e do entendimento do poder público em vários assuntos, causando atraso nos processos de legalização que, embora digitais e mais avançados que antes, ainda elencam muitas exigências que são difíceis e até praticamente impossíveis para alguns blocos”, contextualiza Edmaro.

 

Mesmo com tanta dificuldade, o trabalho não parou – o Coreto tem a certeza de que o carnaval carioca deve ter uma política de estado muito bem debatida e estabelecida, para que a festa popular não fique ao sabor dos governos que – temporariamente, é bom lembrar – comandam a cidade e o  estado.

 

Enquanto tal cenário não se torna realidade, o Coreto mantém entre seus associados uma constante troca de conhecimento e uma rede de ajuda mútua. Afinal, mesmo jovem, a associação tem entre seus membros profissionais, estudiosos e artistas já calejados na arte de fazer o carnaval. “Só assim acreditamos que podemos crescer e cada vez mais nos consolidar. Fazemos negociações conjuntas, aproximamos nossos fornecedores e prestadores de serviço, tornamos as logísticas e as produções dos blocos mais dinâmicas, mais viáveis, dentro da realidade econômica da grande maioria dos blocos”, afirma Edmaro.

 

O diretor está certo – as mudanças estão acontecendo e todo movimento é positivo, mas o poder público precisa entender, de uma vez por todas, que o carnaval é um patrimônio imaterial importantíssimo para a cidade do Rio de Janeiro.

 

“A festa de rua tem que ser protagonista das festas populares da cidade. O povo carioca merece isso”, enfatiza Edmaro.

 

A Coluna Coringa concorda e se solidariza com a causa: afinal, conforme o próprio slogan da associação aponta, somos Coreto! Até a próxima!

 

Fazem parte do Coreto:

A Rocha da Gávea

Afrojazz

Agytoê

Aí Sim!

Bloco Brasil

Batuquebato

BlocoBuster

Broco

Butano na Bureta

Caramuela

Carioca da gema

Desliga da Justiça

Dinossauros Nacionais

É Tudo Ou Nada?!

Empolga às 9

Estratégia

Exagerado

Fogo & Paixão

LambaBloco

Me Enterra na Quarta

Mini Seres do Mar

Multibloco

Olha Pá Mim

Pipoca e Guaraná

Planta na Mente

Que pena, amor

Rebarbas

Sereias da Guanabara

Superbacana

Terreirada Cearense

Thriller Elétrico

Toco-Xona

Turbilhão Carioca

Volta, Alice

Que Bloco é esse?!

Celso Chagas

Celso Chagas é jornalista, compositor, fundador e vocalista do bloco carioca Desliga da Justiça, onde encarna, ha dez anos, o Coringa. Cria de Madureira, subúrbio carioca, influenciado pelo rock e pela black music, foi desaguar na folia de rua. Fã de poesia concreta e literatura marginal, é autor do EP Coração Vermelho, disponível nas plataformas digitais.

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