Strokes Rankeados

 

 

Há poucos dias chegou a notícia de que The Strokes vai se apresentar num comício do candidato a candidato democrata, Bernie Sanders, a se realizar no dia 10 de fevereiro, em New Hampshire. Me dei conta – após achar bem legal o fato – que o grupo de Julian Casablancas e seus comparsas foi um dos responsáveis por uma das últimas trocas de pele do rock como estilo criativo. Saía de cena o britpop e o pós-grunge e entrava em campo este rock magro, cosmopolita, americano, baseado no pós-punk e na new wave do início dos anos 1980.

 

Lembram da “disputa” entre Strokes e White Stripes? Do Franz Ferdinand correndo por fora? Dos clones de Strokes, aqui e lá fora? De bandas com guitarras altas, vocalistas entediados, roupas estrategicamente pensadas para conferir uma aparência desleixada-chic aos integrantes? Pois bem, com o fim do White Stripes, os Strokes meio que permaneceram como protagonistas desse rock novo, mas logo ficaram velhos e sem sentido para quem esperava deles uma revolução constante. Ao contrário disso, os sujeitos foram lançando discos menos e menos inspirados – para os fãs – e abraçando influências estranhas, criando sonoridades menos amigáveis, mas que atestavam uma busca por mais e mais influências oitentistas, invadindo terreno de Talking Heads e até quem fazia música eletrônica pop na época.

 

Os cinco discos dos Strokes são muito diferentes entre si, ainda que seja possível reconhecer neles uma marca registrada do grupo: as guitarras. Os dois sujeitos que cuidam delas no grupo, Albert Hammond Jr e Nick Valensi, são caras criativos e capazes de engendrar riffs nada óbvios, como, por exemplo, o que conduz a melhor gravação da banda até hoje, “Reptilia”. Por conta disso, desta participação dos caras na campanha de Bernie Sanders, pela importância que pareciam ter há tempos, por seu público e, sei lá, por uma vontade boba de minha parte, resolvi colocar um ranking maroto de seus álbuns, do menos interessante para o mais sensacional, levando em conta o meu gosto pessoal de não-fã da banda. Vamos lá?

 

 

– Comedown Machine (2013) – o último disco da banda é o seu menos interessante, ainda que seja experimental e maluco. Os trabalhos “mais recentes” dos Strokes, lançados nos anos 2010, têm em comum esta busca sonora por algo mais complexo, sem abrir mão da “pegada” da banda. Apesar do bom começo com “Tap Out”, que é um bom exemplo dessa mistura de experimentação com a sonoridade do início da carreira, a banda erra a mão nesse equilíbrio e dá origem a um disco chato.

 

 

 

– First Impressions Of Earth (2006) – outro disco que começa com uma baita canção, dessa vez, ‘You Only Live Once”, que se transformou no último hit incontestável da banda. É o último disco da primeira fase strokiana, já meio sem eira nem beira, ainda que seja muito mais conciso e polido, devido à produção de David Kahne, que substituiu o Gordon Raphael, responsável pelo som dos dois primeiros álbuns. Com isso, a sonoridade suja da banda foi trocada por algo muito mais limpo, fato que agrada a uns e desagrada a outros. Além de “You Only Live Once”, outras duas canções saíram como singles: “Juicebox” e “Heart In A Cage”.

 

 

 

– Angles (2011) – como meu amigo Zeca Azevedo gosta de dizer, este é o “disco doente” dos Strokes e, como tal, é uma belezura. A banda levou dois anos compondo as canções e outros dois anos selecionando, mexendo, mudando e gravando 18 faixas. A ideia era ter Joe Chiccarelli na produção, mas o grupo não gostou do que ouviu e dispensou o sujeito. No fim das contas, o guitarrista Albert Hammond Jr e Gus Oberg, engenheiro da banda, assumiram a pilotagem do disco. O resultado é uma colcha de retalhos enlouquecida, com alguns momentos sensacionais: “Under Cover Of Darkness”, por exemplo, é o Strokes de 2011 tentando soar como o Strokes de 2001, sem conseguir completamente e o resultado é ótimo. Outras canções são misturadas, mas com sentido, caso do tecnopop guitarreiro de “Macchu Picchu” ou da polida pop song “Two Kinds Of Happiness”, que é uma pequena passagem de ida e volta para 1984. “Taken For A Fool” e “Call Me Back” são outros ótimos momentos.

 

 

 

– Is This It (2001) – a estreia dos caras é um dos marcos recentes do rock alternativo planetário. Músicas contendo apenas o necessário, downsizing de pompa e eletrônica em favor de uma organicidade roqueira primordial e a voz de Casablancas com todo o tédio que seus 20 e poucos anos podiam suportar. Ao lado do hype, uma carga sonora/lírica que destacava os sujeitos do resto do mundo: “Soma”, “Someday”, “Last Nite” e a urgência de “Take It Or Leave It”. O Strokes era o anti-Radiohead cabeçudo pós-milênio e com o coração aberto para o futuro que havia chegado com cara de passado. Era novo, apesar de ser velho e derivativo.

 

 

 

– Room On Fire (2003) – o segundo disco do grupo é o ápice desta primeira fase, materializada em três álbuns/seis anos de carreira. A rapidez e a vida boêmia novaiorquina – para ricos, é bom que se diga – fornecem combustível estético e estilístico para este pequeno ramalhete de canções, lideradas pela infecciosa e genial “Reptilia”, com suas guitarras em círculo, correndo atrás do próprio rabo, com graça e felicidade. A noção da crítica – e dos fãs – era que a banda havia lançado um irmão gêmeo de “Is This It”, só que mais robusto, maduro e melhor acabado. De fato, o equilíbrio entre melodia, ataque sonoro e atitude soava mais aguçado e bem pensado, porém o tempo já passara rápido demais e o olhar de hoje, 17 anos depois – o tempo continua andando rápido demais – é de que o disco já nasceu com vida curta enquanto declaração de uma banda que assumira um peso enorme em sua estreia. De qualquer maneira, “Room On Fire” é a melhor versão de Strokes já oferecida pela banda.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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