Cine Quarentena – Campo Dos Sonhos

 

 

A quarentena para evitar a disseminação do coronavírus é uma realidade com a qual temos que lidar. Dentre as muitas possibilidades de diversão e entretenimento que a vida da classe média em 2020 nos oferece, está a Internet e, a partir dela, a chance de ver uma quantidade impressionante de filmes e séries. Por essas e outras, como uma eficaz medida para combater o tédio e a falta do que fazer nestes tempos, vamos dar uma olhada nos acervos dos serviços de streaming – Netflix, Amazon Prime e Now – para indicar algumas obras interessantes e acessíveis para você ver. É claro que fica a nossa solidariedade e pensamento positivo para as pessoas que não têm esta facilidade em casa, ou pior, que não tem uma residência formal. Essa crise vai passar.

 

Voltando ao assunto. Um dos filmes que estão escondidos no acervo do Now – serviço de streaming da Net – é o belo “Campo dos Sonhos”, de 1989, dirigido por Phil Alden Robinson, que também escreveu o roteiro e estrelado por um Kevin Costner em franca ascensão no cenário cinematográfico americano. O roteiro foi adaptado do livro “Shoeless Joe Jackson Comes To Iowa”, escrito por em 1982 por WP Kinsella. Robinson leu o livro e imediatamente comprou os direitos de filmagem, realizando o longa sete anos depois.

 

A história é simples e bela. Ray Kinsella (Costner) é um fazendeiro ex-hippie, que mora com a esposa e a filha pequena em um cafundó agrícola do estado americano de Iowa. Lá ele leva sua vidinha simples, cultivando milho, até que ouve uma voz misteriosa lhe dizer para construir um campo de baseball. Logo fica evidente que o tal campo terá que ocupar os hectares nos quais Ray tem seu milharal. A voz misteriosa lhe incentiva com a seguinte frase: “Se você construir, ele virá”. Atormentado e animado pela ideia, Ray conta com o apoio da esposa, Annie (Amy Madigan) e vai em frente, construindo um campo. Não demora até que o fantasma de um famoso jogador do passado, “Shoeless” Joe Jackson (Ray Liotta), surja no campo e lhe pergunte se pode trazer mais “gente” para jogar. Um perplexo Ray concorda.

 

Este é o início de uma jornada em que Kinsella irá atender aos pedidos desta voz misteriosa, cumprindo missões que funcionam como verdadeira redenção para os personagens que vão surgindo. Há o escritor revolucionário desiludido, vivido pelo sempre ótimo James Earl Jones; o ex-calouro Archibald “Moonlight” Graham (Burt Lancaster em seu último papel), o próprio Shoeless Joe e seus amigos, além do próprio Ray, que só entenderá o verdadeiro propósito do campo e de tudo lá pelos últimos dez minutos de filme.

 

Além de funcionar como um ótimo entretenimento para quem gosta da relação dos esportes com a vida das pessoas, “Campo dos Sonhos” é uma espécie de relíquia dentro da cultura americana. O filme está no acervo da Biblioteca do Congresso – regalia destinada a poucos e poucas – e a fazenda que sediou as gravações – e que contém o campo utilizado nas filmagens – foi comprada pela Fundação Go The Distance, chegando a receber cerca de 60 mil visitantes anuais. Em 2019, a MLB, Liga Profissional de Baseball Americana, decidiu sediar um jogo oficial entre Chicago White Sox e New York Yankees nas dependências da fazenda, com público máximo de 8 mil pessoas.

 

“Campo dos Sonhos” foi indicado para três Oscars: “Melhor Filme”, “Melhor Roteiro Adaptado” e “Melhor Trilha Sonora”, composta por James Horner. É garantia de diversão para quem gosta de um filme de fantasmas cheio de boas mensagens, ainda que tenha um tiquinho de patriotada e exaltação da América. Mas, bem, se não tivesse isso, seria absolutamente perfeito.

 

OBS: eu costumava pensar num Campo dos Sonhos para jogadores de futebol. Imagina só.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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