Decotelli existiu?
No dia 25 de junho, semana passada, nós ficamos familiares de Carlos Alberto Decotelli, cujo nome surgiu como novo ministro da Educação, substituindo o fugitivo e demitido abraham weintraub. Em seu currículo havia passagens pelas universidade de Rosário (Argentina) e Wüppertal (Alemanha), instituições nas quais ele teria cursado, respectivamente, doutorado e pós-doutorado.
Pouco depois começaram a surgir comunicados das referidas universidades, mencionando que Decotelli não teria obtido os títulos citados em seu Currículo Lattes. Primeiro foi Rosário, cujo reitor disse que o ministro cumprira os créditos, mas não apresentara a tese de doutorado, elemento essencial para a obtenção do título. Parecia óbvio que, por uma questão de lógica, alguém sem o doutorado não poderia ter um … pós-doutorado, algo que acabou se confirmando, com a declaração vinda da Alemanha, dada logo em seguida. Ou seja, o ministro nomeado só tinha, de fato, o mestrado.
Daí surgiu a alegação de que sua dissertação de mestrado, concluído na FGV, continha vários plágios. De fato, vieram a público várias informações de que Decotelli teria reproduzido sem citação várias páginas de relatórios feitos sobre o Banrisul, objeto de seu estudo em 2008. Daí, a própria Fundação Getúlio Vargas veio a público para confirmar que está apurando responsabilidades de orientadores e do próprio aluno. Decotelli desconversou, alegando que “se houve omissão, isso se deve a falhas metodológicas”.
Hoje, mais cedo, apuraram que o ministro, identificado como oficial da reserva da Marinha, também omitiu dados sobre esta questão. A jornalista Thaís Oyama revelou em seu blog no portal Uol na tarde desta terça-feira (30) que o ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, também teria mentido em seu curriculo militar e não passou em concurso para a Marinha.
Apresentado como “oficial da reserva da Marinha”, Decotelli teria entrado sem concurso na força militar para prestar um serviço militar temporário, o que não lhe garante, por exemplo, remuneração na “aposentadoria”. Segundo Oyama, Decotelli pertence à categoria RM2 da reserva, uma segunda classe da Marinha. A apresentação como oficial teria irritado militares de carreira que teriam visto o gesto como “exibicionismo indevido”.
Ou seja, estaremos diante de um psicopata, sociopata, trambiqueiro? Ou de uma pessoa extremamente incapaz para ocupar a função para qual foi nomeada?
A escolha de alguém como Decotelli, cuja própria existência eu já coloco em dúvida, para a Educação, é a prova de que o governo federal, por mais lamentável, mambembe e tragicômico que seja, não está dando a mínima para a pasta. Trata a questão como Decotelli trata seus títulos acadêmicos. Como farsa. Seria melhor que o presidente e seus assessores viessem a público e admitissem logo isso. Seria mais lógico, pelo menos.
Em tempo: Decotelli demitiu-se há pouco.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.