Alien – 40 Anos

 

Não dá pra imaginar um fã de terror e/ou ficção científica que não tenha visto “Alien – O Oitavo Passageiro”. Ou uma de suas sequências. Ou “prequências”. São filmes, quadrinhos, imagens, brinquedos, jogos eletrônicos, uma verdadeira avalanche de produtos e manifestações da indústria cultural sobre o assustador quase invencível alienígena, que dizima praticamente todas as tripulações de naves com as quais cruza. Por mais que “Aliens – O Resgate”, “Aliens 3”, “Aliens – A Ressurreição”, “Prometheus” e “Alien – Covenant” sejam, cada uma a seu jeito, produções com méritos que variam em quantidade e justificativa, não dá pra negar que o primeiro filme, que completa 40 anos em 2019, foi um verdadeiro marco da história do cinema de fantasia.

 

Dirigido por Ridley Scott (que se tornaria um dos diretores mais influentes do mundo na década seguinte) e com uma equipe que incluía o artista surrealista suíço H.R Giger, “Alien” é um filme típico de seu tempo. É uma produção em que os efeitos especiais de maquetes e miniaturas (vencedores do Oscar em 1980), bem como a cenografia, eram feitos no peito e na raça. Isso dá ao longa uma fina camada sépia metafórica de envelhecimento, significando, sim, que ele é um representante de um outro tempo. Tal fato, ao contrário de prejudicar sua apreciação, confere um certo senso de respeito. A história converte a ficção científica – que Hollywood recém-redescobrira com “Guerra nas Estrelas”, de 1977 e seus vários subprodutos – numa posição muito além da fantasia de final feliz. É um abraço sincero a filmes de décadas anteriores, como “The Thing from Another World” (1951) ou “Forbidden Planet” (1956). Em “Alien”, o bicho pega mesmo, sem trocadilhos. O cenário e´desolador, contrastante, terrível, quase um cemitério anunciado.

 

A história é a seguinte: a nave Nostromo, um rebocador espacial, volta para a Terra trazendo uma refinaria. A tripulação de sete pessoas está em sono criogênico, por conta das enormes distâncias interplanetárias. Ao receber um sinal de perigo de um planeta próximo, o computador da nave acorda os tripulantes e tem início uma discussão sobre verificar a origem do sinal ou não. Três membros da tripulação pousam no planeta e dão de cara com destroços de uma nave alienígena, dentro dos quais há uma câmara em que estão vários objetos parecidos com ovos. Durante a análise mais próxima, uma criatura pula no rosto do primeiro oficial da Nostromo, Kane. Ele é levado de volta para a nave contra as diretrizes de quarentena e fica em observação com a criatura grudada em sua cabeça, cobrindo seu rosto. Diante do acontecido, os protocolos de segurança e a cadeia de comando da Nostromo vão mostrando sinais de desgaste. Após algum tempo de observação, o bicho larga o rosto de Kane e morre, com este mostrando sinais de normalidade. Pouco depois, o filme mostra uma das sequências mais icônicas do cinema: em meio a uma refeição da tripulação, Kane começa a passar mal, ter convulsões, até que uma criatura diferente, como se fosse um pequeno monstro que ele gestara, arrebenta sua barriga e sai, causando espanto generalizado. Em pouco tempo, ela crescerá e … Bem, mesmo com quarenta anos, vamos preservar o leitor de spoilers. Mas não precisa ser um gênio para descobrir o que acontece, certo?

 

“Alien” tem no elenco um monte de figurinhas carimbadas do cinema americano de então. Tem Tom Skerrit como o capitão da nave, Dallas. Tem o próprio John Hurt, como Kane; tem Yaphett Kotto, que fora o vilão de “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, como Parker; tem Veronica Kartwright como a navegadora Lambert; tem o onipresente Harry Dean Stanton como o engenheiro Brett e tem a protagonista improvável, Sigourney Weaver, como a tenente Ellen Ripley, que se tornaria o personagem recorrente de todas as sequências de “Alien”, até “Ressurreição”, de 1997.

 

Como passar do tempo e à medida em que as sequências foram surgindo, um aspecto interessante da história que une os filmes é a força de uma corporação comercial fictícia, a Weyland-Yutani. Ela é responsável por construir as naves e os androides que integram as tripulações e, desde o primeiro filme, os fatos mostram que não há qualquer escrúpulo em sua maneira de agir. A ideia de preservar o alienígena para estudos e eventual transformação de suas propriedades em arma de guerra biológica, dão contornos complementares bem interessantes. No primeiro longa, tal postura se traduz na ordem de levar a criatura viva para a Terra, para que seja estudada, motivo pelo qual a tripulação da Nostromo racha. Em “Aliens – O Resgate”, filmado e lançado em 1986, em pleno governo Reagan, o executivo da companhia, Burke, fala para Ripley que a intenção permanece, a de levar o bicho para que seja convertido em arma de destruição. Nos dois filmes mais recentes, que mostram fatos anteriores ao primeiro “Alien”, “Prometeus” e “Covenant”, o papel da Corporação Weyland é mais enfatizado, mencionando, inclusive, ordens explícitas de trazer espécies hostis a qualquer custo, mesmo que envolva a morte da tripulação, o que,eventualmente, acontece. O papel do androide David, vivido por Michael Fassbender, é decisivo e emblemático. Está tudo embutido: desigualdade, riqueza, falta de escrúpulos, megalomania, poder…

 

Apesar do tempo transcorrido, “Alien” continua a ser um filme incrível, tenso, claustrofóbico e nunca óbvio, apesar do desastre anunciado. É um desses raros momentos em que gêneros cinematográficos distintos se casaram harmoniosamente e resultaram em algo novo e sensacional. Podemos usar o slogan: “sempre copiado, jamais igualado”.

Em tempo: A Rede Cinemark está comemorando os 40 anos de “Alien” com exibição em suas salas. Os horários são aleatórios e escassos, portanto, sugiro procurar uma sessão e mergulhar no escuro do frio espacial da Nostromo. Eu irei hoje, sozinho, no Cinemark Plaza Shopping, até porque, de todas as produções feitas inspiradas na história, justo a primeira segue como aquela que eu nunca vi no cinema. Bem, até hoje à noite.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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