Tom Jobim, 94

 

 

Em 25 de janeiro de 1927 nascia Tom Jobim. Certamente ele é um dos músicos mais importantes da história do Brasil, talvez o mais importante do século 20. Tom foi capaz de traduzir com precisão a visão gentil do país a partir da capital da república, mais especificamente, de uma elite esclarecida e não necessariamente alinhada à visão internacionalista, direitista e, usando um termo de época, udenista. Tom, ainda que não tenha se pronunciado politicamente em suas obras, era uma testemunha deste país imenso, que existia além das fronteiras da cidade grande. Compôs ao piano e ao violão, praticamente inventou a Bossa Nova, face poderosa desta visão moderna e brasileira, não ao acaso, símbolo do governo de JK e sua tentativa de inclusão do Brasil no mapa do mundo.

 

A obra de Tom alcançou seu ápice a partir de meados dos anos 1960, quando a bossa já não era nova e ele vai por entradas e bandeiras, cheio de influências de Villa Lobos e compositores como Maurice Ravel ou Claude Debussy, para dentro do Brasil. Foi capaz de produzir álbuns impressionantes e impressionistas como “Urubu”, “Passarim”, “Wave”, “Tide”, todos cheios de canções definitivas sobre o Brasil. Sua obra-prima talvez seja “Matita Perê”, lançado em 1973, auge do período mais sombrio da ditadura civil-militar. Nele Tom é capaz de apresentar seu momento mais dourado: “Águas de Março”, com letra e melodia suas, algo tão profundo e brasileiro que desafia a compreensão. É como se alguém fosse capaz de encapsular em 4 minutos os 500 anos de história do país, sob o ponto de vista do autor, suas referências, suas influências, sua impressão. Ou como disse alguém uma vez – o nome me foge agora: “é um livro de Guimarães Rosa em alguns minutos.”

 

No meu caso, nascido em Copacabana, RJ, há 50 anos, muito do que a letra diz me é extremamente familiar, por também – humildemente – ser integrante deste mesmo punhado de gente que pensa que o país é maior que a cidade, que cabe mais gente nele, sempre.

 

Tom foi um gigante, precisa ser lembrado mais e melhores vezes. É daquelas pessoas das quais eu sinto saudade como se fosse da minha família.

 

Aqui a canção aparece em duas versões. A primeira, gravada ao vivo no programa Chico e Caetano, que era exibido na Rede Globo.  Lembro de estar vendo o programa quando os três, mais a Banda Nova, que acompanhava o maestro na época, fizeram essa leitura soberba.

 

Depois vem o clássico dueto entre Tom e Elis, do disco de 1974 que os dois lançaram. É um Brasil que foi deixado de lado mas que encanta pela ilustração e lindeza.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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