Curtis Mayfield, 19 de janeiro de 1971
Não sei quanto a vocês, mas eu nunca tinha visto um dos meus grandes ídolos da música de todos os tempos tocando ao vivo. Até agora, até hoje, agora há pouco. Graças ao YouTube, esta Disneylândia da cultura pop em vídeo e som.
Lá estava a página do canal alemão Beat Club, que mostra as gravações feitas para o antigo show, que era veiculado em rádio e TV na antiga Alemanha Ocidental do fim dos anos 1960/70. Era pauta do show receber os jovens artistas que estavam gerando comentários na música, na cultura e gravando discos sensacionais. Em 19 de janeiro de 1971, o programa recebeu Curtis Mayfield, que tinha iniciado sua carreira solo pouco tempo antes. Ele havia gravado o impressionante “Curtis” e se preparava para lançar o segundo disco, “Roots”. Entre eles, Mayfield gravaria o seminal “Live”. Tudo isso no biênio 1971-72, momento em que a América fervia com os protestos dos negros em sua variante mais acirrada. As agências de segurança – leia-se FBI e CIA – agiam em território americano e gente como Curtis Mayfield, um idealista, acima de tudo, era vista como indesejada.
Sendo assim, além dos discos do período, ver esses quase 60 minutos de imagens dele com sua banda, em ótima qualidade de vídeo e áudio, é como uma aula de história daqueles tempos bicudos, que se parecem muito com o que temos hoje.
Preste especial atenção na abertura, com Curtis e banda atacando “Inner City Blues (Makes Me Wanna Holler)”, de Marvin Gaye, recém-lançada por ele em seu indescritível “What’s Going On”.
Curtis era um gigante, um gênio. Faleceu em 1999. Fica esta lembrança de seu poder absoluto no palco.
Setlist:
Inner Street Blues (Makes Me Wanna Holler)
Check Out Your Mind
Mighty Mighty (Spade and Whitey)
We’ve Only Just Begun
We Got To Have Peace
We The People Who Are Darker Than Blue
Keep On Keeping On
Stare and Stare
Move On Up
We’re A Winner
Curtis Mayfield – guitarra, vocais
Craig McMullen – guitarra
Joseph “Lucky” Scott – baixo
Tyrone McCullen – bateria
Master Henry Gibson – percussão
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.