Entrevista – Kassin

 

 

Alexandre Kassin foi um dos poucos músicos a se aventurar pelo caminho da produção de discos. Isso aconteceu no fim da década de 1990 e, hoje em dia, Kassin desfruta de um status ainda mais raro: o de “grande produtor”, juntando-se, por exemplo, a nomes como Liminha nesta galeria de poucos – e ótimos – participantes. Mas ele não perdeu de vista a possibilidade de continuar seu trabalho artístico e os álbuns lançados com o trio + 2 e o recente “Relax” confirmam isso.

 

Prestes a lançar “Relix”, uma versão com remixes, colaborações e releituras das faixas do disco anterior, Kassin reafirma outra característica interessante, o amor pelas versões alternativas, extensas, dançantes – ou não – que surgiram como improviso de contenção de despesas na Jamaica dos anos 1960 e ganharam fama na música negra americana dos anos seguintes.

 

Batemos um papo por e-mail e o homem, além de rapidíssimo nas respostas, falou sobre produção de álbuns, ideias e predileções.

 

– Você está para lançar o RELIX, um álbum com remixes, colaborações releituras de canções do seu disco anterior, RELAX – que a gente incluiu aqui nos melhores de 2018. Conta como foi essa ideia.

 

Obrigado pela inclusão na lista , eu quando vi fiquei superfeliz. A ideia foi acontecendo aos poucos , alguns amigos pediram os elementos para fazer remixes e eu não sabia se aquilo seria um álbum , não foi planejado pra ser mas quando vi tinha um numero de remixes grande, o Sergio Martins da LAB 344 sugeriu que fizéssemos um álbum e alguns nomes ele me ajudou bastante .

 

 

– Você é um dos produtores mais requisitados do país. Prefere atuar atrás da mesa do estúdio ou ser o cara a ser produzido?

 

Eu encaro meu oficio como produtor e meu trabalho artístico como coisas distintas que andam em paralelo , é claro que uma ajuda a outra mas nunca no meu trabalho artístico fui produzido por alguém acho que seria ótimo até ter um produtor mas acaba que eu vou fazendo e quando vi fiz.

 

 

– Aliás, o que é mais fácil, se produzir ou produzir os outros?

Os dois tem suas facilidades e dificuldades , é meio parecido com a diferença que eu posso falar certas coisas pra mim mesmo que jamais falaria pra ninguém . Eu adoro trabalhar com estúdio e com gravações , pra mim a parte mais interessante do oficio é justamente a constante mudança de perspectiva , isso é o que me faz feliz , trabalhar com criação mais que com repetição.

 

– Com o passar do tempo e a velocidade da tecnologia, a função/atribuição do produtor mudou ou continua sendo a mesma?

 

Mudou muito , o produtor musical dos anos 70 normalmente era contratado pela gravadora , quando eu comecei a produzir nos anos 90 havia uma hierarquia maior e uma distancia entre o áudio e a parte criativa , eu comecei a aprender sobre áudio por causa dessa distancia , hoje em dia o produtor tem muitas funções que antes eram trabalho de mais gente .

 

 

– Você já trabalhou com gente muito diversa: Caetano Veloso, Nação Zumbi, Los Hermanos, Vanessa da Mata e Adriana Calcanhotto. Quem foi mais difícil de produzir e por que?

 

Eu acho o grau de dificuldade dos artistas igual , cada disco é um disco e não existe uma formula em cada disco é necessário entender o material do disco , e o que é pra ser realizado , isso sempre é uma experiencia , não tenho lembrança de um disco com desentendimentos , as dificuldades que lembro mais eram na relação do dinheiro que tínhamos versus vontade artística , por exemplo “ essa música ficaria incrível com cordas” mas o dinheiro do disco já estourou em 15%. Dificuldade em disco é mais por ai.

 

 

– Há poucos dias foi anunciado o relançamento do primeiro disco do Acabou La Tequila, seu primeiro projeto. Conta um pouco de como era participar da banda naquele fim de anos 1990.

 

Era incrível , nós somos todos amigos da mesma sala de aula , nessa sala também estava o Pedro Sá que era do Mulheres que Dizem Sim, onde estava o Domenico e o Moreno participava , então dessa sala de aula saiu uma turma que está junta até hoje. O primeiro disco do Acabou la Tequila foi feito pra Excelente Discos, o selo do Miranda.  Eu produzi com Tom Capone , gravamos e mixamos em uma semana . O segundo foi feito com mais tempo e orçamento , nos dois o João Donato toca.

 

 

– Como você se vê participando de um grupo de artistas que têm transformado a música brasileira pop no sentido de fazê-la mais moderna e plural, coisas que sempre foram difíceis de fazer por aqui?

Fico feliz de fazer parte da musica brasileira , eu acho inacreditável a musica daqui , uma riqueza , nunca achei que seria musico profissionalmente , ainda mais poder viver disso e trabalhar com tantas pessoas que admiro.

 

– De todos os discos que você produziu, qual é o seu predileto e por quê?

Poxa, acho que essa é a pergunta mais difícil de responder,  fiz mais de 100 discos, é impossível ter um predileto. Além dos óbvios, que são os discos que me poem nesse lugar das pessoas lembrarem quem eu sou, tem discos que tiveram menos projeção que eu adorei ter participado , isso claro, sem deixar ninguém de fora.  Totonho e os Cabras – “Sabotador de Satélites” , Me and the Plant – “The Romantic Journeys of Pollen” , Bebeto Castilho – “Amendoeira”.

 

 

– A impressão que dá é que o remix ainda é uma ferramenta obscura para a música nacional. Fora algumas poucas incursões nos anos 1980 e outras feitas hoje em dia, ninguém faz remix. Você tem alguma explicação pra isso?

 

Acho que existem alguns remixes sim , aqui no Rio eu vejo que o funk guarda uma cultura de remixes , não de álbuns de remix mas de existirem versões alternativas . Mas com certeza o remix é mais relacionado a musica dançante,

 

– O “Relax” foi seu segundo disco solo e você tem um grande número de projetos colaborativos. Por exemplo, há planos para mais um disco do “+2”, trio com Moreno Veloso e Domenico Lancelotti?

 

Não há um plano mas não há um impedimento , fizemos a banda por amizade e uma hora paramos mas somos amigos e sempre nos falamos e fazemos musicas juntos , eu adoraria fazer algo com eles , Domenico agora mora em Portugal então isso não ajuda.

 

– Se você pudesse escolher para produzir um artista que você admira muito, quem seria? E por quê? E se pudesse remixar uma canção muito querida, qual seria?

 

Eu espero ainda trabalhar com todos os meus ídolos mais velhos e mais novos , adoraria trabalhar com a Ana Frango Elétrico , O Terno , Anitta , Carlos Lyra , Jorge Benjor , Youn , é tanta gente boa por ai nem sei dizer.

 

– Quais produtores estrangeiros e nacionais você admira?

Mario Caldato e Liminha , meus amigos e mestres.

 

– Pra terminar: como você está vendo esta nossa situação atual?

 

Um desastre , tem outra maneira de ver? Estou falando dessa palhaçada politica , a pandemia é triste mas é um acontecimento natural agora ver gente apoiando esses idiotas me deixa triste porque doença não é opcional , burrice é .

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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