Kazu – Adult Baby

 

Gênero: Eletrônico
Duração: 42 minutos
Faixas: 9
Produção: Kazu Makino e Griffin Owens
Gravadora: Adult Baby Records

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Dia desses, estava num engarrafamento a bordo de um ônibus, ligando minha Niterói ao Rio de Janeiro. Com os fones de ouvido, ia adiantando as audições dos discos para as resenhas aqui do site. “Adult Baby”, estreia solo da adorável Kazu Makino, do grupo americano Blonde Redhead, estava na fila. Na verdade, diante do anda-e-para daquela manhã arrastada, coloquei as nove faixas para conferir uma trilha sonora totalmente desvinculada daquele ambiente. Dito e feito. As canções do disco cumpriram sua função e me tiraram daquele lugar, levando para outro, completamente diferente. Lendo algum solo, declarações da prória Kazu sobre sua estreia solo, entendo que ela quis buscar efeito de uma natureza semelhante.

 

Kazu é uma cantora e compositora nipo-americana. Seu álbum é uma pequena semente de dente de leão suspensa no ar. É frágil, pede entendimento e carinho para ser completamente entendido. É frágil, mas não vulnerável, porque tem integridade e conceito definidos: é uma artista propondo uma realidade alternativa, que parece próxima, talvez da mesma dimensão do sonho, do transe, de algo assim. Estamos imersos, porém, sabemos que estamos e podemos voltar, caso seja necessário. Com envólucros eletrônicos, acústicos, experimentais, mas sem abrir mão da estrutura musical e harmônica, Kazu consegue um resultado que lembra muito Bjork na forma, porém, sem o mesmo compromisso com a modernidade que a islandesa se propõe a ter.

 

Não que “Adult Baby” seja “vintage” ou algo assim. Os vocais agudos, as molduras eletrônicas, o uso do próprio estúdio e o suporte de um “álbum visual”, lançado junto com as canções, mostra que Kazu quer oferecer ao público uma experiência completa, para a qual a música não se mostra totalmente capaz de suportar, ainda que seja a principal via de expressão da moça. Canções como “Salty”, “Meo” ou a ótima faixa-título, colocam as cartas na mesa do ouvinte, dando a este a possibilidade de embarcar em algo que parece novo, mas, na verdade, tem traços de Cocteau Twins, do duo Beach House, da já citada Bjork, e de Jenny Hval, artistas que não respeitam limites e definições estéticas pre-determinadas.

 

“Adult Baby” tem momentos em que uma orquestra inteira participa dos arranjos, além de aparições ótimas de gente graúda como Ruyichi Sakamoto, que toca piano e teclados em vários momentos do álbum, do percussionista brasileiro Mauro Refosco e do baterista Ian Chang. Kazu declarou que mudou-se de Nova York para a ilha italiana de Elba, na Toscana, onde inspirou-se para compor as nova faixas do disco. A ilha também fornece a totalidade das imagens para o álbum visual e parece, de fato, ter impregnado a imaginação de Kazu.

 

Com dados em abundância para o ouvinte/espectador, Kazu espera capturar sua atenção de várias formas, oferecendo recompensa visual e auditiva de alta qualidade. Ouça para se conectar com um monte de coisa legal, que vai te tirar de engarrafamentos pela vida afora.

 

Ouça primeiro: “Salty”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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