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Este foi o placar de votos na Câmara dos Deputados que selou a permanência do deputado daniel silveira na cadeia. Antes da votação, seus advogados de defesa diziam que não entrariam com pedido de habeas corpus, direito garantido pela Constituição Federal, que dá ao acusado a possibilidade de reivindicar o seu direito de locomoção, supostamente ferido por ato abusivo de autoridade. Sabemos todos, o deputado encarcerado é um dos defensores da ditadura civil-militar, especialmente do AI-5, ato institucional que, entre outras medidas de repressão, suspendeu o direito de habeas corpus. Isso significava uma autoridade total concedida ao estado e a seus instrumentos de polícia, que podiam conduzir ações contra quem julgassem correto, sem interferência da Justiça.

 

Trocando em miúdos: se você for preso, você está preso e ponto final.

 

 

Certamente você já ouviu a seguinte frase: “se foi preso é porque fez algo de errado”, sempre proferida por pessoas conservadoras.

 

Esta linha de raciocínio é o endosso à não existência do habeas corpus e à própria presunção de inocência, igualmente prevista pela Constituição, ou seja, você é inocente até que se prove o contrário.

 

Mas não.

 

O interessante – e que torna o Brasil um país não recomendado para amadores – é que silveira e seus similares alegam que sua liberdade de expressão é cassada sempre que eles falam sobre a ditadura militar. Que não podem defender tortura, racismo, truculência, violência, atos anti-democráticos em paz, porque a Constituição – votada democraticamente em 1987 e promulgada em 1988 – lhes retira esse direito.

 

Ou seja, não podem, sob o manto da liberdade de expressão e da democracia, defender … o fim da liberdade de expressão e da democracia.

 

É como o apresentador ratinho, que defendeu a chegada de “um general”, que colocasse tudo em ordem, expulsasse, fuzilasse etc para, depois de um ano, promover eleições.

 

Ele não pode também defender um golpe de estado, supressão democrática absoluta, liberdade para o estado matar e exilar indiscriminadamente, oras. Que triste.

 

A manutenção da prisão de silveira mostra que há algum espaço de manobra política dentro da Câmara. O total de votos a favor veio de vários partidos de matizes diferentes, apontando para um fiapo de possibilidade de conversa futura, sob a alegação de que o bolsonarismo – do qual silveira e ratinho são consequências – pode ser alvo de alguma ação conjunta no futuro. Quem sabe?

 

O fato é: enquanto silveira promove seu espetáculo circense e anabolizado de ignorãncia, a vacinação contra a covid-19 segue como se fosse um ato heroico de uma resistência político-social num país tomado por zumbis. É como se os últimos humanos estivessem unidos com a missão marginal de vacinar pessoas, com a intenção de reverter um quadro de apocalipse.

 

A vacinação é exceção. Se você não é idoso, já pode ir pra fila da vacina pois, até sua vez chegar, certamente você não será mais jovem.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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