Vanguart – Sings Bob Dylan

 

Gênero: Rock, folk
Duração: 74 min
Faixas: 16
Produção: Rafael Ramos
Gravadora: Deck

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

“Poucas bandas nacionais podem reivindicar Bob Dylan como influência”. Foi assim que comecei o texto que introduz a entrevista com o Vanguart (que você lê aqui). Não há exagero nessa afirmação, apesar de soar assim. Afinal de contas, Dylan é um ícone da cultura mundial, um dos nomes que representa o século 20. Sendo assim, como uma banda do interior do Brasil seria capaz de compreendê-lo e assimilá-lo de forma tão natural? Pois é isso mesmo. Dylan é essencial para a música praticada pelo Vanguart nestes anos de carreira e agora, naturalmente, a banda encontrou meios para pagar tributo a ele. Seria fácil pensar que “Vanguart Sings Bob Dylan” é um disco preguiçoso, que mascara falta de criatividade ou outro clichê da imprensa musical mal intencionada. Ao contrário disso, este é um disco pra lá de criativo, cheio de nuances e que tem um propósito muito nobre: apresentar Dylan para uma geração mais nova, curiosa e potencialmente interessada em suas crônicas de vida e morte.

 

Com a produção de Rafael Ramos, surgido naturalmente, o disco exala cumplicidade entre banda e repertório. As escolhas privilegiam a produção dylanesca até 1975 e dá um pulo em 1997, para visitar “To Make You Feel My Love”, do belo disco “Time Out Of Mind”. Sendo assim, há espaço para clássicos e faixas menos conhecidas, conferindo uma unidade/identidade à abordagem que a banda empreende sobre as canções, mostrando que há espaço para as favoritas pessoais, que podem ou não, ser conhecidas. Então partimos de colossos como “Just Like A Woman” e “Like A Rolling Stone”, mas encontramos delicadezas como “You’re A Big Girl Now” e “Restless Farewell” no meio do caminho, dando à jornada Dylan adentro um tom personalíssimo.

 

O grande lance deste álbum é o toque que o Vanguart dá às canções no estúdio. A banda opta por mexer em arranjos de forma sutil, modernizando abordagens e trazendo as faixas para seu universo. Fazer isso com estas músicas pode ser arriscado, mas tudo soa natural e necessário. “Hurricane”, por exemplo, surge com uma levada ligeiramente mais acelerada e dá espaço para que o violino de Fernanda Kostchak brilhe como convém. “You’re Big Girl Now” recebe um tratamento que faz seu arranjo soar como se fosse o de um sucesso esquecido de Glen Campbell, lá por 1968/69. Novamente Fernanda brilha nesta faixa, com lirismo e contenção muito elegantes. “Ballad Of A Thin Man” também ganha em profundidade e drama, com órgãos, guitarras e clima apocalpitico, como se a canção exibisse um cartaz “cuidado, o fim do mundo está próximo”.

 

Duas faixas, originalmente do belíssimo “Blood On The Tracks” (1974), mostram o tanto que o Vanguart imprimiu de carinho e dedicação aqui: “Simple Twist Of Fate” e “Tangled Up In Blue”, que surgem belas, tristes, intensas, com um sentimento equivalente à tristeza que Dylan experimentava quando fez o disco. Tudo por aqui soa bem feito e muito verdadeiro.

 

Com este disco, Vanguart reafirma sua posição entre as bandas nacionais e mostra que não precisa provar nada para abraçar um repertório tão complexo. Dylan diria: “Vanguart is a big band now”.

 

Ouça primeiro: “You’re A Big Girl Now”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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