Válvulas Imaginárias – Ensejo

 

 

Gênero: Experimental

Duração: 58 min.
Faixas: 9
Produção: Fernando Lodi
Gravadora: Independente

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

Barulhos de uma casa. A solidão das paredes sem cor, sem quadros, isolamento de todos nós, seres naturalmente sociáveis. Acho que isso que Válvulas Imaginárias nos traz: a imersão neste momento em que temos que nos adaptar.

 

Ouvi “Ensejos”, álbum de estreia de Válvulas Imaginárias, e fiquei pensando “esse cara se separou e decidiu gravar um disco”. Mas não é exatamente isso, não foi uma fuga de alma dilacerada. Ensejos tem muitos detalhes, não necessariamente pensados, mas imagino que sejam sinceros e que tentam se conectar com o presente. “Às vezes não faz sentido nenhum, dá vontade de ir embora pra outro planeta” é a frase que todo mundo já falou, pensou e até incorporou como um mantra.

 

São nove músicas, algumas com letras, outras somente instrumentais e o que chama a atenção é que todas tem nome de horas. “17:48” e por aí vai, são as horas em que os arquivos foram exportados, eu acho. Outra coisa que chamou atenção são os sons de casa, água enchendo um copo, um microondas esquentando um lanche ou uma água pra fazer um café amargo, passos de alguém que chega pra abraçar a solidão.

 

Não leio nada antes de ouvir algum trabalho, prefiro a sutileza dos sentimentos que as músicas trazem na primeira audição. Eu só pesquisei quem é “dono” das Válvulas Imaginárias: Fernando Lodi. Ensejos é um trabalho de alguém que está só, enfrentando uma pandemia (como todos nós) dando de cara com a solidão dos dias e enfrentando as próprias sombras. Fala sobre culpa, sobre estar errado, estar sozinho, sobre a falta de sentido da vida. Reflete um momento em que os áudios de WhatsApp são as possibilidades de aplacar a solidão. Inclusive a faixa 22:12 é um apanhado de áudios recebidos, vozes do cotidiano, de ir ou não de ônibus, de acordar pensando quando vai dormir, dessa poesia do dia e da noite. É um álbum experimental, é honesto consigo mesmo, é reflexo desses tempos de incertezas, de estar só, dessa nuvem cinza que insiste em acompanhar todo mundo que tá sentindo 2020.

 

Gosto de músicas instrumentais, mas senti falta de mais letras, a nossa época exige gritos e voz firme. Mas isso pode ser apenas um problema meu. É um disco que entra na playlist “vou tomar assim mesmo esse café esqueci e agora tá morno”. Tem uma coisa entre Sigur Rós e o alternativo nacional atual. É um disco que reflete o que é o nosso tempo, presenteia o ouvinte com experiência de parar, se sentir e se encontrar nesse presente.

 

Ouça primeiro: “22:12”

 

Ariana de Oliveira

Ariana de Oliveira é canhota de esquerda, Cientista Social, estudante de Jornalismo e comunicadora da Rádio Univates FM. Sobre preferências: vai dos clássicos aos alternativos.

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