Tennis – Swimmer

 

 

 

Gênero: Pop alternativo

Duração: 31 minutos
Faixas: 9
Produção: Patrick Riley e Alana Moore
Gravadora: Mutually Detrimental

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

O Tennis é formado por um casal, Alana Moore e Patrick Riley e este é o seu quinto disco. A ideia deles sempre foi aliar doses de pop clássico, no sentido Carpenters, Captain & Tenille, Bee Gees do termo, a uma estética de “bedroom pop” atual, que significa algo como se fosse uma produção lo- fi, com sonoridade intencionalmente amadorística, baseada em teclados, guitarras e baterias eletrônicas deliberadamente datadas. Mas quase sempre acontece a mesma coisa com esses artistas e o Tennis não é exceção: fica no meio do caminho a tal “estética alternativa” e o amor pelo pop setentista tradicional acaba se sobrepondo e o resultado se traduz em discos como “Swimmer”, muito mais próximo das melodias, timbres e ideias perfeitas desta época de ouro da canção popular do que de alguma esperteza estética-líquida desses nossos anos 2010-20. Sendo assim, o que norteia e dá charme a este novo disco da dupla é que ele se aninha, pede colo e se enrosca nos grandes tiques e taques do melhor pop já feito no planeta, o dos anos 1970.

 

O legal é que este movimento parece involuntário. Alana e Patrick são dois músicos talentosos e parecem fisgados pela magia de recriar as estruturas agridoces do passado e não têm medo de soar datados. Seus timbres e approach de produção ainda são inequivocamente 2020, mas é possível ver como o pop clássico já venceu um eventual cabo de guerra que tenha se estabelecido ao longo dos últimos discos. A concisão é um elemento essencial por aqui, nove canções em pouco mais de uma hora, com Alana cantando e evocando os vocais de alguma cantora country iniciante que fez teste para o Abba e misturando-o com a melancolia millenial, palpável e sem noção de onde veio/para onde vai. Somada a isso está a habilidade de Patrick em recriar em guitarra e teclado as ambiências levemente decadentes do pop exuberante. E, voilá: você já está procurando os detalhes da produção que ambos deixam em cada canto de cada faixa.

 

A faixa de abertura já surge com a missão descarada e deslavada de capturar o amor do ouvinte. A melodia é doce, os vocais são amorosos, na medida que o título “I’ll Hunt You”, permite, mas, no fim, é tudo embebido pela lindeza dos fraseados ao piano/teclado que Patrick ergue, tudo com clima de canção que a gente costumava colocar nas fitas cassete que dava pra eventuais musas do passado. O clima de amor represado segue com “Need Your Love”, que evoca toques de Captain & Tenille – outro casal pop do passado – na sua estrutura. Aqui o desespero pela atenção/amor do próximo é ainda maior, saindo do terreno da raiva para o da súplica desesperada. Certamente um sentimento que se sobrepõe a estéticas e detalhes temporais.

 

A lindeza de “Swimmer” é que a dupla se assume como uma participante da própria empreitada. Mais que um movimento de estilo, um jogo de corpo, o sentimento que Patrick e Alana passam é real. Na faixa-título, por exemplo, conduzida por guitarras tristes e chorosas, a cantora se desespera por amor mas substitui seu jeito logo na faixa seguinte, “Tender As A Tomb”, que tem um ritmo derivado de alguma extravagância caribenha, mas tudo soa espontâneo, como se fosse uma demo do Matt Bianco. Em “Late Night” volta o clima de amor sobre todas as coisas, com guitarras, teclados e tudo mais conspirando a favor da explosão total, numa mistura de Cyndi Lauper com Abba. “Matrimony II” é uma baladaça doce e frágil, com uma linha de piano capaz de fazer uma pedra chorar. Alana paira leve como uma pluma sobre a canção, entregando talvez sua melhor performance ao longo do disco.

 

“Swimmer” é um belíssimo disco pequeno. O Tennis ainda é uma banda pouco conhecida, mesmo nos Estados Unidos, por isso é importante que você conheça, se apaixone e more um pouco dentro de suas nove faixas. É indicado para velhos fãs do pop clássico como para jovens dispostos a mergulhar nas águas que realmente importam. Uma lindeza de cores tristes.

 

Ouça primeiro: “Matrimony II”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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