Rita e Roberto relidos e remixados

 

 

 

Rita Lee & Roberto – Classix Remix vol.1

Gênero: Eletrônico

Duração: 72 min
Faixas: 12
Produção: João Lee
Gravadora: Universal

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Sensacional. Este é o resultado do primeiro volume de “Classix Remix”, coletânea de remixes organizada por João Lee para a obra de seus pais, Rita e Roberto. Ainda que a carreira de Rita Lee seja muito mais vinculada ao rock – dentro e fora dos Mutantes – o filé mignon de seu trabalho se encontra no momento em que se abriu para o pop, justo quando se associou – no trabalho e na vida amorosa – a Roberto de Carvalho. Sendo assim, o repertório que chega nesta primeira – de três – coletânea de releituras é extremamente feliz em centrar atenções justo na virada dos anos 1970/80 da carreira de Rita. Com convidados brasileiros e estrangeiros, os remixes são – em sua enorme maioria – sopros de vida e inventividade em canções que já gozam da atemporalidade e daquela sensação de pertencimento por parte dos fãs. Os mais conservadores podem reclamar de alguma versão “herética” mas, se tudo der certo, a maioria será capaz de compreender a lindeza que se traduz nestas releituras e apropriações que João Lee conseguiu reunir aqui. Tem de tudo e não há qualquer receio por parte dos envolvidos em mexer nos grandes clássicos, o que é ótimo.

 

Em primeiro lugar, o mais bacana neste volume inicial é a percepção de que, nem todos os remixes registrados aqui orbitam a obrigatoriedade de dançar. Claro, alguns têm isso em mente, mas vários – a maioria – investem muito mais na recontagem da história, na opção por novos climas, releituras e complementos para os originais, com resultados muito bacanas. Várias versões ficaram excelentes porque conseguiram levar as produções de Rita e Roberto para outros lugares, não necessariamente para o nosso presente. Não tem nenhum remix, pelo menos nesta primeira parte, que insira os clássicos em climas trap, batidão, hip hop ou algo contemporâneo. Eles foram levados para outros tempos e espaços da música pop planetária dos últimos anos, com resultados surpreendentes. O fato de haver produtores estrangeiros envolvidos no projeto abre um espaço para interpretações novas e refrescantes, o que é muito adequado em se tratando da Rita Lee pop.

 

Pra não dizer que não há remixes totalmente dançantes, temos uma versão drum’n’bass do DJ Marky para “Caso Sério”, que talvez seja o momento menos inspirado do álbum. O timbre já está datado há tempos e, por mais que o artista seja muito competente neste campo, o que se ouve é mais do mesmo entre tantas versões d’n’b que grassaram por aqui no início dos anos 2000. O Chemical Surf leva a soberba “Nem Luxo Nem Lixo” para o terreno do bate-estaca sacolejante, mas com tato e tempo apropriados, causando um resultado bem interessante e respeitoso para com o original, praticamente perfeito. “Mania de Você”, a cargo de Dubdogz e Watzgood também foi levada para o campo da dança technofunk de leves teores, com resultado elegante e bem próximo de um clima noventista que soa interessante. “Mania…” também aparece em outra releitura, a cargo de Harry Romero, com um resultado mais misterioso e atual, com total fragmentação do original em mil partículas de som e cor. Legal.

 

O DJ Marky tem outra faixa, a versão “Latin Love Song” para a mesma “Caso Sério”, que, agora sim, recebe um tratamento muito mais apropriado, que se limitou a inserir elementos percussivos e instrumentais no original, adicionando profundidade e perspectiva a outro original imaculado de Rita e Roberto. Os grandes, enormes acertos da coletânea surgem na versão arrasadora de Gui Boratto para “Mutante”, que guarda algo de Daft Punk safra “Discovery”, levando o original para um outro mundo em que recebe andamento diferente e uma visão totalmente revolucionária. “Cor de Rosa Choque” recebe um tratamento muito adequado de Mary Olivetti, chegando a soar com a mesma batida de “Got To Give It Up”, de Marvin Gaye, que Robin Thicke e Pharrell Williams inseriram no sucesso “Blurred Lines”. Sensacional também é a releitura AOR dançante que “Lança Perfume” recebe de The Reflex, bem como a maravilhosa ampliação do raio de ação de “Vírus do Amor” por Krystal Klear. Fechando este hall de maravilhas, “Saúde” com Tropkillaz e Atlântida, com Renato Cohen, também fazem bonito.

 

Se os outros volumes de remixes mantiverem o nível deste, a série “Classix Remix” dará nova cara, novo fôlego e revelará nuances sensacionais numa das obras mais importantes da história da música brasileira. Belezura.

 

Ouça primeiro: “Vírus do Amor”, “Saúde”, “Mutante”, “Cor de Rosa Shock”, “Lança Perfume”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Rita e Roberto relidos e remixados

  • 6 de maio de 2021 em 21:01
    Permalink

    Meus preferidos: “Lança Perfume” por The Reflex, e “Vírus do Amor”.

    Resposta
  • 6 de maio de 2021 em 14:57
    Permalink

    A versão de “Caso Serio” do Marky é o que tem de mais elegante nesse disco, recomendo que procure sobre liquid dnB. O remix do Chemical Surf é muito mal feito… Este sim apresenta um 4×4 com texturas bem datadas.

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *