Tennis lança álbum em clima de amor total

 

 

 

 

Tennis – Pollen
35′, 10 faixas
(Mutually Detrimental)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

Alaina Moore e Patrick Riley são um casal feliz. Vivem juntos há tempos, formam uma dupla que tem o objetivo de falar sobre o amor que vivem e o mundo em geral. Sua ideia é partir do início dos anos 1970/80, quando o pop radiofônico evoluiu e se tornou um estilo com detalhes próprios. Eles conhecem o caminho para soar como Beach Boys, Madonna ou Abba e, ao mesmo tempo, soar como Tennis. Este é o novo álbum que lançam, o sétimo de uma carreira que mostra um artista em franca ascensão, experimentando, procurando e achando um meio de expressar sua arte da maneira mais adequada. No caso da dupla, este pop setentista tardio informou seus discos até o anterior – o ótimo “Swimmers” (que a gente resenhou aqui) – mas, com este novo “Pollen”, o espaço para o pop dos anos 1980 está definitivamente aberto. Isso não significa usar dos velhos truques imitadores da sonoridade daquele tempo, mais surrada de um … tênis velho. Patrick e Alaina são perfeccionistas no que fazem e se apropriaram de uma estética que sinaliza com um falso lo-fi, uma vez que tudo soa meio inacabado, porém traz um número impressionante de detalhes e referências. Tennis é diversão auricular de primeira categoria.

 

 

Eu conheci o Tennis em 2017, ao resenhar o antepenúltimo disco deles, “Yours Conditionally”. Ali parecia que o duo utilizava o referencial setentista com um toque de humor, abraçando informações e fazendo canções que tinham parentesco com séries televisivas como Magnum P.I ou mesmo Casal 20. Longe da esperteza de glorificar o intencionalmente cafona para soar esperto, o Tennis já trazia este DNA desde seu surgimento e só fez aprimorar o meio como se vale dessa influência ao longo do tempo. No meio deste caminho, achou sua sonoridade, sua identidade visual e a melhor forma de fazer Alaina soar como uma boa cantora deste de um oceano de comparações com gente desta época, como Madonna, as meninas do Abba ou mesmo Stevie Nicks, do Fleetwood Mac. Tudo está no pacote de detalhes da dupla, transformado em estúdio por Patrick, que toca todos os instrumento e produz as canções. Já dá pra ouvir uma canção da dupla e cravar: “ah, isso é Tennis”.

 

 

O fato do casal dissertar sobre o amor sob um ponto de vista de quem é bem-sucedido num casamento é algo que destoa da atualidade. Não há espaço para as lamentações que deram combustível para inúmeros artistas no passado, muito menos para o hedonismo neoliberal de hoje, no qual o bom é sair para a night e beijar o máximo de gente possível, posando de indestrutível e inatingível. O mundo lírico do Tennis tem espaço para canções que falam de primeiros encontros, que refletem sobre a belezura que é estar junto e, claro, também acha meios para falar sobre a situação estranha do mundo, das pessoas e de como tudo pode estar a ponto de explodir a qualquer instante. Fazem isso com uma tapeçaria sonora tridimensional de teclados, guitarras, efeitos, sintetizadores, saturações e efeitos, tornando uma diversão auricular para o ouvinte que está interessado em sacar sonoridades e entender o que compõe o todo de uma canção bem produzida.

 

 

“Pollen” é um disco mais de climas e nuances que de singles estourando nas paradas, o que não significa que o álbum não tenha grandes momentos. O nível de acerto do casal é enorme, eles sabem compor pequenas maravilhas como poucos de sua geração. Um exemplo é “Pollen Song”, um colosso de violão dedilhado que vai sendo invadido por sintetizadores, vibrafone e que tem a voz de Alaina conduzindo a melodia como se fosse uma Madonna em seu primeiro álbum. “Never Been Wrong” é outro exemplo de excelência total na hora de escrever e executar um arranjo pop para uma voz feminina sem abrir mão de nada. Novamente há uma cascata de timbres de teclados e violões se dobrando com guitarras, tudo servindo para que Alaina desfile numa passarela em que sua voz soa delicada, frágil, como a canção pede.

 

 

Tennis é um prazer ainda raro para um público que merece conhecer esse mundo mágico de melodia, arranjo e lindeza cascateante que explode sobre uma pista de dança meio decadente, em que um monte de casais dança e tira selfies. Lindeza.

 

Ouça primeiro: “Pollen Song”, “Never Been Wrong”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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