Paramore: a banda mais influente do rock atual

 

 

 

 

Paramore – This Is Why
36′, 10 faixas
(Atlantic)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

É possível que o Paramore seja a banda de rock mais influente da atualidade. Toda a nova-novíssima geração de cantoras americanas na casa dos 20 e poucos anos devem quase tudo à musicalidade que o grupo do Tennessee criou e desenvolveu na primeira década do século 21. Hayley Williams, Zac Farro e Taylor York conseguiram estabelecer uma sonoridade que trazia alguns elementos do pop punk da virada do século – que muita gente chamava de emo – e desenvolveram esse padrão injetando doses generosas de narrativas pessoais do ponto de vista feminino, cortesia de Hayley, que tinha 15 anos quando formou a banda com Zac, o irmão dele, Josh e Jeremy Davis. A estreia veio em 2005, com o razoável “All We Know Is Falling”, com a banda explodindo dois anos depois, quando lançou “Riot”. De lá pra cá o grupo jamais perdeu popularidade, pelo contrário, foi aumentando seu número de fãs ao mesmo tempo em que acrescentava elementos sonoros à receita inicial. O fato é que o Paramore já era uma banda totalmente madura e transformada quando soltou “After Laughter”, seu quinto disco, de 2017. Agora, com este bom “This Is Why”, que chega após Hayley Williams lançar dois ótimos trabalhos solo, o Paramore se apresenta como uma força do rock atual.

 

 

O disco é muito bacana e muito bem produzido por Carlos de la Garza, que já trabalhou com gente tão distinta e diversa como M83 e Bad Religion, e habita os álbuns do Paramore desde 2013, trocando figurinhas com a banda por telepatia e participando das gravações. Além disso, não bastasse o ótimo trabalho vocal e de composição que Hayley Williams exibe hoje, o grupo tem dois músicos de responsa: Taylor York, que domina guitarras e teclados e o ótimo baterista que é Zac Farro. O entrosamento dos três, que, via de regra, estão em pé de guerra entre si, é digno das grandes bandas que tocam há muito tempo juntas. O resultado das dez canções de “This Is Why” é a mais nova versão desse formato sonoro e lírico que abastecesse artistas como Olivia Rodrigo, Linda Lindas, Carly Rae Jepsen e até Manu Gavassi, no qual a sensibilidade dos relatos pessoais de Hayley assumem a persona feminina, emoldurados por ua sonoridade de guitarras forte o bastante para dar verdade e profundidade ao que é cantado.

 

 

Mas não é só isso. O trio é bom de composição e tem a manha de adicionar o elemento pop grudento ao que faz, conseguindo criar alguns hinos de estádio e grandes espaços, entoados pelos fãs aonde quer que o Paramore esteja no planeta. Deste novo álbum, a faixa-título já está além dos 36 milhões de streams no Spotify, “The News” já bateu onze milhões, estando as outras oito acima do milhão de audições. As influências sonoras do grupo também incluem, pelo menos neste álbum, bandas dos anos 00, como Bloc Party e Foals, algo que dá pra notar especialmente nos timbres de guitarra e nas linhas de bateria, que são angulosas, nervosas, presentes. As dez faixas que compõem “This Is Why” são tudo menos simples, ainda que não abram mão – na maioria das vezes – do apelo pop. Nada aqui é superficial, tudo é muito pensado, trabalhado e comprova desejo de evoluir, de chegar a novos terrenos.

 

 

Duas canções chamam a atenção em meio ao todo. “Running Out Of Time” é totalmente climática, começa lentinha, vai acelerando e acrescentando nacos de guitarra e levadinhas pervetidas aqui e ali. A voz de Hayley oscila entre o doce e o nervoso, com bom desenvolvimento ao longo dos pouco mais de três minutos. “Big Man, Little Dignity” é a melhor do álbum, disparado, com um arranjo que deixa o ouvinte preso ao que sai das caixas de som. O tom é de contemplação em meio à melodia que chega em um riff de guitarra e que serve como fio condutor da faixa. Logo chega um refrão cristalino e forte, falando de condutas homem-mulher, posturas e decepções amorosas. Talvez seja a faixa mais bela que o grupo já compôs. “You First” é outro exemplo de belezura, desta vez mais presa ao modelo inicial de som que o trio já fez. Guitarras que tangenciam o som de bandas como Jimmy Eat World servem para ladear uma melodia bem feita e ótimos vocais.

 

 

Paramore é, como dissemos, uma banda que está no topo de seu jogo, influenciando e evoluindo a olhos vistos, nunca esquecendo de se renovar e flexionar sua fórmula sonora, evitando assim, a acomodação preguiçosa que vitima tanta banda por aí.

 

 

Em tempo: a banda estará no Brasil no início de março.

 

 

Ouça primeiro: “Big Man, Little Dignity”, “Running Out Of Time”, “You First”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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